O cinema de Erika Lust

Por Kelly

Filme pornô feminista. Já tinha ouvido falar? Nem eu. Mas daí folheando o jornal meio distraída ví uma matéria sobre um tal prêmio do pornô feminista e fiquei curiosa. Acuma? Achei a proposta toda da coisa interessante e fui atrás de mais informações. Tá, confesso: fui atrás dos filmes. Mas movida por pura curiosidade científica (hahaha!).

E o desafio começou aí. Onde se aluga filme pornô, hein? Algum tarado de plantão aí sabe informar? Sex shop? Bom, depois de longa e exaustiva pesquisa cheguei a um dos filmes, que foi premiado e de cuja diretora, Erika Lust, eu já tinha ouvido falar. “Five Hot Stories For Her”, ou “Cinco Historias para Ella”.

Começa pelo nome da diretora, que eu achava que era nome artístico, mas descobri ser mesmo uma feliz coincidência. Algo como um obstetra se chamar Nascimento, um almirante se chamar Leme ou um vendedor se chamar Sales. Mas divago.

Então, assistindo aos extras do filme (sim, tem extras!) fico sabendo mais sobre Erika Lust (foto abaixo), sueca radicada em Barcelona. Primeira coisa que salta aos olhos: ela não tem cara de diretora de filme pornô. E como seria cara de diretora de filme pornô? Sei lá, mas achei que, se eu visse, reconheceria. Ela tem cara de diretora de video clip. Bonita, jovem, descolada, simpática. Muito articulada, descreveu o processo que a levou a entrar no universo do filme pornográfico.

Ela diz que não foi algo planejado, mas que ela percebeu que nesse meio os filmes são todos feitos para o homem, segundo o ponto de vista masculino e de acordo com seu gosto. Nada contra, mas por que não atender também uma parcela do público que está carente de uma estética alternativa?

E em que consiste esta estética alternativa? Ou seja, de que forma um filme pornô feminista é diferente de um filme pornô tradicional? É mais light? Não, não é. É tão explícito quanto qualquer filme pornô. E os closes ginecológicos também estão lá. Bem, após assistir a “Five Hot Stories”, posso enumerar algumas diferenças que me chamaram a atenção:

1. O filme tem história e o enredo é consistente.
Básico né? Mulher gosta de história. Mulher quer saber o que levou a determinada situação. E tem que fazer sentido. Aquele enredo típico em que a mulher flagra o namorado com outra na cama e pensa “oba, que legal, vou me juntar a eles….” irrita qualquer uma pelo alto grau de imbecilidade e pela total falta de conexão com a realidade.

2. Tem diálogo.
Não é só “Oh”, “Hum”, “Ah”. São diálogos mesmo, com começo, meio, fim, verbos, advérbios, enfim. As pessoas conversam, brigam, discutem, explicam, contam, relembram, narram. Um dos atores (brasileiro) disse que era um trabalho bem diferente do que ele estava acostumado porque tinha falas, e ele precisou decorar diálogos. Pelo jeito ele curtiu….

3. Os atores são mais “normais”.
É. Os atores são bonitos. Bem bonitos. Mas de uma beleza normal. Gente que eu poderia ver por aí. Os homens não fazem a linha super-hiper-bombados. As mulheres não têm 500ml de silicone em cada peito. Algumas são até bem “retinhas”. Gente normal. E o que acontece é que você assiste ao filme e acaba se identificando com a personagem, com a situação, porque são gente como a gente. Ah, e eles atuam também, viu?

4. O visual é rico e sofisticado.
Há um cuidado maior com o cenário, a iluminação, os detalhes. As cenas se passam em praias, trens em movimento, ruas (charmosas) de uma cidade, lofts. Os ambientes são bem decorados e com bom gosto. Ah, e o figurino… as roupas são bonitas. Normais, tal como o look dos atores, mas com uma pitadinha de veneno. Uma saia um tiquinho mais curta. Uma camisa um tantinho mais justa, e pronto. Lingeries e cuecas: modernas, lindas. Dá vontade de comprar. Nada, nadica, nem uma pecinha de roupa brega em todo o filme. E no todo, o visual é mais clean, limpo, gostoso.

5. Música de qualidade.
Excelente. Música boa. Nada daquele lixo que parece ter sido extraído de algum videogame dos anos 80. Música eletrônica suave, com letras sexy e provocantes, estilo “The L Word”, combinando com o momento. A cerejinha em cima do bolo.

6. Cenas homossexuais.
Femininas, claro, o que não difere muito do pornô tradicional, exceto pelo enfoque. O público lésbico é um fiel consumidor de pornografia feminista, então tem que rolar uma cena do tipo. Mas a cena é feita de forma mais…. verdadeira. Afinal, num pornô tradicional este tipo de cena é feita de um jeito que agrade aos olhares masculinos, mas quase sempre elas estão anos-luz de distância de refletir as reais preferências femininas. Rapazes, querem agradar as namoradas e não sabem como? Assistam a uma cena lésbica num filme feminista. Este sim tem o caminho das pedras. Se é que você me entende.

E, masculinas. Sim, aparentemente as mulheres gostam de ver dois homens se divertindo. Ou então os homossexuais também apreciam a estética dos filmes feministas. O que faz todo sentido, certo? Afinal, bom gosto nunca é demais.

Enfim, o filme foi uma grata surpresa. Bom, bem elaborado, divertido, com toques inteligentes de humor. Ele se divide em cinco histórias. A primeira é “Something about Nadia”, sobre uma mulher intrigante que atrai as mulheres e três garotas que se apaixonam por ela. Na segunda, “jodetecarlos.com”, uma mulher traída arma uma vingança arrasadora contra o marido cínico. Na terceira, “Married with children” um casal monta uma estratégia para afastar o tédio e a monotonia (é um sado-maso leve). Na quarta, “The Good Girl”, uma moça tranquila e recatada consegue se libertar da pecha de comportada ao realizar uma fantasia com o entregador de pizza (a melhor, na minha opinião). E a quinta, “Breakup sex”, é a noitada de despedida de um casal.

Divertido, hot, e você não fica com aquela sensação de que acabou de ver um filme pornô. Muito embora tenha visto.

Para saber mais:
http://www.erikalust.com/
http://www.five-hot-stories-for-her.com/
http://www.new-porn-for-women.com/

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Kelly é especialista em tecnologia e assina o blog Café Duplo

13 thoughts on “O cinema de Erika Lust

  1. O que me importa num filme porno é a putaria sem precedentes que rola mesmo confesso;mas muitíssimo bacana essa inovação pois pode permitir que nós homens assistam á pornos juntos de nossas namoradas.Além de que bons diálogos e bons atores/atrizes são sempre bem vindos.

  2. Uma sensação estranha q eu sempre tive em relação a pornozão clássico é q as cenas de sexo não parecem cenas de SEXO. Sexo é uma coisa entre dois, e pra dois, e ali parece q o cara tá se masturbando, só q com uma vagina/boca no lugar da mão. É por isso q os videos amadores q caem na net todo dia fazem sucesso: a menina tá curtindo tb, vc sabe q ela tá ali por q quer (embora a maioria tá ali mesmo enganada, né..) Acho q falei demais.. rs

  3. Assisti “the good girl ” achei fantastico finalmente um filme erótico sem nojeiras, violencia, nada daquelas porcarias… pelo contrário interessante e envolvente… parabens p Erika Lust

  4. Eu amei essa mulher. Achei ela pq fiquei curiosa pra saber como são os diretores de filmes pornô, como é o trabalho deles, queria saber se eles ficam como os diretores de novela e filme dizendo como e o que tem que fazer, assisto com meu namorado xnxx. Mas não curto muito, na verdade curto admirar os corpos bonitos das mulheres pq dos homens raramente aparece, e normalmente não são bonitos (não fazem o meu tipo) e tbm não curto o sexo deles, é bem p que alguém falou ali em cima, parece que estão se masturbando na vagina! Quando as cenas são com 2 mulheres e um homem, fica mais legal, da até pra sentir alguma coisa pq a maioria delas se dedica e fazem as cenas ficar muito excitante. Aquela coisa… A mulher sabe o que ela quer sentir.
    Sobre os filmes pornôs fazerem parte da nossa vida e servir de “escola” pra muitos homens, pq realmente o filme pornô tradicional é feito pra eles, pra “ensinar” eles a aprender algo a mais sobre o sexo, entendo que é pra agradar a mulher, mas não é o que acontece. Vou dar um jeito de assistir todos os filmes dela! Amei Erika Lust, que belo trabalho!

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