Entrevista: God is an Astronaut

Por Danilo Corci

A Irlanda é mesmo uma ilha extremamente peculiar. Terra de grandes literatos, nos últimos trinta anos tornou-se também terra da música, basta citar o U2 como se não o maior, um dos maiores expoentes musicais das últimas décadas. Além disso, a Irlanda também tem um cenário fervilhantes de novas bandas, dos mais variados estilo, que vai do farofa dos Corrs, ao indie populacho do Cranberries ao synthpop do Dark Room Notes. Um caldeirão de estilos que sempre resulta em hits ou em boas canções. Mas na terra de James Joyce também há um caso peculiar: o God is an Astronaut.

Formado há sete anos pelos irmãos Torsten e Niels Kinsella, o God is an Astronaut é uma banda totalmente instrumental, mas não imagine rock progressivo ou devaneios de guitarra. A banda faz um instrumental de melancolia pura. A música do God is an Astronaut é pura poesia para quem se atreve a mergulhar nos acordes de qualquer um dos quatro discos já lançados: “The End of The Beginning” (2002), “All Is Violent, All Is Bright” (2005, a obra-prima), “Far From Refuge” (2007) e “God is an Astronaut” (2008). Canções como “Suicide By Star”, de “All is violent…”, por exemplo, é uma amostra de como um sentimentalismo barato pode ser transposto para a música de maneira inteligente e tocante. Para os poucos que conhecem a banda aqui no Brasil, mergulhar nesta discografia é quase a descoberta de um pote de ouro – e falar disso de uma banda de rock essencialmente instrumental é muito difícil.

Para tentar entender um pouco mais a banda, conversamos via email com Niels. O resultado você lê abaixo:

Sete anos de carreira e quatro álbuns depois. O que mudou na banda durante este tempo?
Para ser sincero, são oito anos tocando juntos, mas cada um fazia isso há muito tempo. Eu e o Torsten desde 1994. Em 2002 quando lançamos “The End of The Beginning”, nós entendíamos que aquele era nosso ato final no mundo da música, o nosso adeus. Queríamos apenas terminar com um lançamento que estávamos orgulhosos, sem expectativa alguma. Mas funcionou… Hoje a banda continua a mesma, com a mesma prioridade de lançar músicas que amamos e a única coisa que mudou foi que ficamos mais espertos com alguns círculos deste mundo da música.

Vocês tem uma obra-prima em sua opinião?

Pra ser sincero, não temos um disco favorito, gostamos de todos eles. Algo no processo de fazer música mudou com “All Is Violent, All Is Bright” quando introduzimos um componente ao vivo que não estava no primeiro disco, foi também a primeira vez que trabalhamos com performances ao vivo completas e não somente loops, algo que deu o tom para todos os discos subsequentes, um híbrido de eletrônica com instrumentação ao vivo.

Li uma entrevista que você dizia que a maior influência do GIAA é o heavy metal, bandas como Metallica. Como este tipo de influência age na música da banda, que é bem distante deste gênero?

Crescemos ouvindo muito heavy metal/heavy rock e ainda ouvimos muito. Acho que, na verdade, é porque nunca tentamos emular as músicas que ouvimos. No final dos anos 90 fizemos dance/eletronic music. O estilo do GIAA tem mais a ver com os estilos que tocamos em diversas bandas, que incluiu de tudo, do jazz ao rock passando pela eletrônica.

Em outra entrevista, você disse que o filme “Raça da Noite” (“Nightbreed”) é uma referência para o nome da banda. De certa maneira, o clima do filme, a história de terror é transposta para a música da banda? É inegável que há um clima de opressão e melancolia na música do GIAA…
Nós apenas gostamos do nome, servia para o som apocalíptico e melancólico que tínhamos e os conceitos visuais apocalípticos que tínhamos em mente. Nada mais do que isto.

Uma coisa que chamou minha atenção é o fato que o som do GIAA é bem diferente do que tenho ouvido e que vem da Irlanda.

Aqui na Irlanda até que há algumas bandas instrumentais, mas acho que somos a primeira a ter relativo sucesso fora do país. Mas, sendo sincero, até hoje somos ignorados pela cena musical irlandesa. Muita coisa boa é feita aqui, mas muito do que a mídia divulga é lixo irrelevante, que muita gente fora da ilha não engoliria nem a força.

E o processo de composição? Alguém chega com uma ideia e o barco segue?
Não, a maior parte das ideias começam com uma melodia na guitarra ou no piano e então trabalhamos o completo no estúdio. Nunca escrevemos música fazendo uma jam como acontece com várias bandas. Como temos background em dance/eletronic, somos um projeto de estúdio, de verdade. Para os shows levamos um engenheiro de som e reinterpretamos as músicas para funcionar num ambiente ao vivo.

A história do rock está repleta de história de bandas com irmãos que se estapeiam e brigam o tempo todo. No GIAA, como isto funciona?
Agora está perfeito, mas quando éramos mais jovens a coisa pegava feio. Mas agora estamos felizes com a música que fazemos e, de maneira geral, temos a mesma visão de como as músicas devem soar.

O GIAA é pouco conhecida no Brasil. Como você descreveria a banda para os brasileiros?
Ambient, eletronic e rock com melodias emotivas.

Muitas pessoas dizem que as letras no rock são um auxílio e tanto. Você coloca um “yeah” aqui, um “yeah” ali e todo mundo canta junto. Como vocês não usam letras, qual é o grande “clique” que você usam para agitar a plateia durante um show?
Nossa música não é para todos. O fã médio de música não vai entender o que fazemos. Não temos nada a ver com com “yeahs” durante shows, isso é para idiotas. Ao vivo temos um show bem visual com o objetivo principal de envolver as pessoas emocionalmente, tanto espiritualmente quando visualmente. Nosso show não é programado e especializado como os das maiorias das bandas do nosso estilo. Nosso show tende a agradar aos fãs que não se ligam no gênero post-rock.

Vi alguns vídeos do GIAA na internet e percebi mesmo que vocês os usam para “ilustrar” as canções durante os shows. Como isto funciona? Qual é a conexão que vocês criam?
O propósito do visual é aumentar a emoção e a estrutura de nossas músicas ao vivo. Apesar das músicas não necessitarem de apelo visual, eu acho que num ambiente ao vivo algumas nuanças são perdidas se comparado com nossos discos, por exemplo. O visual adiciona uma dimensão extra e dá, de maneira simples, um senso de entretenimento à performance.

O GIAA é uma banda independente com fãs leais. Nesta era digital, como os downloads tem atingido vocês? Dá pra viver da banda?
Somos uma banda de internet (http://www.myspace.com/godisanastronaut) porque a maioria de nossos fãs nos descobriram ali. Não conseguimos muita mídia da maneira tradicional, tudo é na base do boca-a-boca e pirataria. Fazemos tudo isso porque gostamos e até dá para tirar uma graninha com a banda, mas é impossível viver dela. Mas estou otimista, as coisas estão melhorando a cada ano. Nos shows vendemos bastante material. Para sobreviver você tem de pensar um pouco diferente e se virar não apenas vendendo CDs ou MP3, mas vendendo camisetas, vinis, bottons, etc…

Se você fosse me indicar uma banda irlandesa para ouvir, qual seria?
Butterfly Explosion! Torsten está produzindo o primeiro disco deles que deve sair em breve.

E o que você tem ouvido?
DJ Shadow, Fear Factory, Nicker Hill Orchestra, Parhelia, Leech (da Suíça) e Metallica, como sempre.

E planos? Disco novo, turnê?
Agora em setembro vamos fazer um giro pela Europa e na Finlândia em novembro. Se tudo der certo, esticamos até a Rússia também. Em fevereiro de 2010 devemos lançar novas músicas, mas não sei se um álbum completo ainda.

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Danilo Corci é jornalista e editor dos sites Speculum e Mojo Books

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