Por Marcelo Costa
No meio de uma tarde meio cinzenta de quarta-feira, um e-mail novo avisa: “Não haverá lista de desconto hoje no Studio SP, pois os ingressos para o show do Heavy Trash estão esgotados”. Uma ida até o local do show, minutos depois, quase confirma o aviso antecipado: “Quantos ingressos você quer, pois só restam dois aqui para vender”, diz o rapaz do caixa. Levo no bolso o ticket número 449 de uma noite fechada para 450 felizardos.
Aproximadamente às 00h, o Studio SP parece viver um dia de folga. Pouca gente na porta, nenhuma fila. Quem já esteve neste lugar em dia de show do Del Rey deve ter estranhado. Lá dentro as coisas seguem a praxe de sempre: quem está do lado da porta de saída e quer pegar uma bebida diferenciada no outro bar precisa se espremer entre o pessoal que já prostrou de frente ao palco para o show que, pasmen, começa alguns minutos depois da meia-noite. Ponto para a produção.
De frente para o palco, uma pequena decepção: o som não está ok. O violão de Jon Spencer não se faz ouvir, e quem já viu Hélio Flanders tocando violão nesta casa sabe que há como tirar som do instrumento. A guitarra de Matt Verta-Ray também falha em alguns momentos, e sorte dele que há um segundo guitarrista, não no palco, mas na mesa de som, fazendo a cama de barulho. O baixista – com um baixolão acústico – parece saído de um desenho animado e o batera desce a mão em seu kit com muita, mas muita vontade.
As músicas se sucedem, (ao vivo muito) parecidas, e o som até melhora nas laterais do palco. Jon Spencer, de terninho e barba feita, não parece àquele cara com visual acabadaço de Jim Morrison sofrendo os efeitos de um fim de relacionamento que veio ao país anos atrás. Ele dá o tom da festa, e é um show à parte (mesmo com o violão inaudível). Canta, grita, faz piadas e comanda a festa honrando a fama. São mais de 100 minutos de rock and roll honesto que terminam com o baterista mandando a galera “se foder” após um mosh/arrastão mal-sucedido.
Com o show findo, um garoto sobe ao palco, aponta para Jon, e ele estica a mão em sinal de reprovação como quem diz: “Aqui é o meu território e sou eu quem mando. Fica ae”. No meio do show, no entanto, uma garota subiu ao palco para lhe dar um beijo, que ele recebeu sem fazer sinal de hesitação e continuou a tocar como se nada houvesse acontecido. Quem queria diversão saiu do Studio SP bastante feliz, mas o show fez mais sentir saudade do Blues Explosion do que se emocionar com o presente. Passou e foi embora. Próximo.
Fotos por Érico Padrão: http://www.flickr.com/photos/valvo/
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