Pós-Punk, Gothic Rock e Indie juntos

Por Marcelo Costa

“Post-Punk – ‘Pós-Punk’ – Os leigos costumam confundir com new wave. O que aconteceu foi que, entre 77 e 79, o sopro de vida injetado no rock pelo punk frutificou numa verdadeira selva de estilos e pesquisas de ritmos e efeitos de gravação, com desdobramentos pelo reggae, pelo funk e o ska – mas sem esquecer da economia de recursos, nem a ênfase na guitarra, nem a militância política, nem a postura antimercantilista diante da indústria pop. O Clash e o Jam fizeram à transição e o Joy Division de ‘Unknown Pleasures (79) e o Gang of Four são exemplos nítidos”.  Guia do Rock, Revista Bizz, 1987

Tirando o fato de que o PIL foi a principal banda a fazer a transição do punk para o pós-punk (afinal, era John Lydon em pessoa que estava fazendo a travessia), a definição de vinte anos atrás de um Guia do Rock em formato livreto que acompanhava uma Bizz de 1987 com o New Order na capa está bem próxima da definição correta do termo. A Wikipedia (aqui) estende a discussão incluindo no caldeirão aquilo que nos interessa neste texto: “O pós-punk é com freqüência e equivocadamente referido como sinônimo para música gótica ou como sinônimo de indie rock”.

Um bom exemplo do acerto desta frase da Wikipedia é o imperdível box triplo “Original Anthems From The 70’s and 80’s Post-Punk Scene”, que chega ao Brasil via Music Brokers e até tem alguns nomes do movimento pós-punk entre as 46 canções selecionadas, mas é notadamente um box de gothic rock, o melhor e mais acessível já lançado debaixo do Equador com uma seleção de bandas caprichada (muitas inéditas até então no país), um encarte didático que conta a história de cada grupo/canção presente na compilação e um texto de apresentação de Wayne Hussey, escrito em São Paulo.

O CD 1 abre com “Kick In The Eye”, um clássico do álbum “Mask”, do Bauhaus, que ainda conta também com “Adrenalin”, uma canção de seu retorno, de 2006, no pacote. Na seqüência, “Do You Believe In The Westworld?”, do Theatre of Fate, hit que freqüentou as paradas no começo dos anos 80 numa mistura azeitada de Gang of Four com Joy Division. Daqui pra frente vale tudo: tem Pixies (“Gone Machine”), Jesus and Mary Chain (“Aprol Skies”), o punk rock de The Lords of The New Church (com duas canções do começo dos anos 80) e a versão do Love and Rockets para o clássico da Motown “Ball of Confusion” (1985).

O Joy Division é representado pela dobradinha “Ice Age” / “Shadowplay” (em versão demo), mas você irá ouvir muita coisa entre as 46 canções que lembra – e muito – Joy Division. Por dificuldades de liberação das matrizes, algumas canções não aparecem no box em versões originais, caso de dois clássicos do Echo and The Bunnymen., “The Killing Moon” e “Lips Like Sugar”, que surgem de registros ao vivo de 2001, mas há muita coisa interessante aqui como “I Can’t Escape Myself”, faixa que abre o debute do The Sound, de 1980, ou a versão de Wayne Hussey para o clássico do Cure, “A Night Like This”.

A lista segue imensa (tracking list completo aqui) com The Fall (“R.O.D.”), Pere Ubu (“Final Solution”), Modern English (“Just a Thought”), Dead Can Dance (“The Fatal Impact”), The Wolfang Press (“Lisa”), Sisters of Mercy (“Black Planet”), Wedding Present (“Waiting on The Guns”), Camper Van Beethoven (“Take The Skinheads Bowling”), Killing Joke (“Love Like Blood”), The Mission (“Wasteland”), Gary Numan (“Cars”), Alien Sex Fiend (“E.S.T Trip To The Moon”), Rownland’s S. Howard com Lydia Lunch (“I Fell In Love With a Ghost”), Tones On Tail (“Go!”) e coisas mais recentes como o Snail, grupo formado por ex-integrantes do Siouxsie and The Banshees, Gene Loves Jezebel e The Soft Boys, que lançou o álbum “Last Dog In Space” em 2006.

Apesar de conter poucas coisas reais de pós-punk, “Original Anthems From The 70’s and 80’s Post-Punk Scene” impressiona com sua seleção que abarca desde o gothic rock, passa pelo indie e ainda encaixa números inclassificáveis e sensacionais como o Birthday Party (com Nick Cave gritando até ficar sem voz em 1981 o refrão de “Release The Bats”), o Einsturzende Neubaten (que marca presença com “Kollaps”, do primeiro álbum da banda, de 1981) ou a perturbadora “Sãeta”, que a cantora Nico lançou em single em 1981. De bônus track, “Nightclubbing”, com Iggy Pop, de alguns daqueles piratas da época da turnê do álbum “The Idiot” (1977). Para ouvir alto e no escuro.

“Post Punk Scene – 3CDs”, vários (Music Brokers)
Preço em média: R$ 49,90 (lançameto nacional)

7 thoughts on “Pós-Punk, Gothic Rock e Indie juntos

  1. ótimo lançamento, espero que os seres que ainda compram cd e tenham qq interesse em descobrir o post punk e o gothic rock comprem, escutem e logo após levantem o dedão do meio pra lixos q dominam o mercado hj e q infelizmente sustentam a alcunha….

Deixe um comentário para Becki Gaetke Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.