Miss Kittin arrasa em São Paulo


Por Luciana Lazarini

Depois de Frank Sinatra, Elvis foi o ícone escolhido para ser consumido por Miss Kittin no show que a DJ francesa fez em São Paulo, na The Week, no último final de semana. Pela primeira vez se apresentando no Brasil com o parceiro The Hacker, Miss Kittin deixou de lado a pose de deboche (por alguns minutos) e recriou a música “Suspicious Minds”, de Elvis.

Em um show iconoclasta e perfeito para a pista de dança, o repertório da francesa trouxe novos e velhos hits da cena electroclash, como quem soube ouvir as melhores lições da cena house de Chicago para fazer electro com sotaque francês, entre o grito e o charme; entre o deboche e a pose blasé.  Sem dizer, é claro, entre o visual futurista e o cabelo à Betty Page.

O risco de se sentir em um show de, digamos, 2003, 2004, era grande. Sim, é fácil ser acometida por alguns flashbacks, especialmente ouvindo uma sequência de músicas como “Frank Sinatra”, “Life on MTV”, “1982”, todas do primeiro álbum da dupla, de 2002, a partir de quando eles se tornaram ‘hype’ pelas cenas electro daqui e de lá. Por pouco não fui sugada, mas o retorno a 2008 rolou naturalmente, porque não só Miss Kittin estava em transe no palco (celebrando a música “Miss Kittin is High”), como, também, a dupla brincava com o passado e o presente sem nostalgia.

Claro, tocaram os próprios clássicos e deram ao público o gostinho de cantar as infames letras que os fizeram há alguns anos. Abandonaram os discos de vinil para se retroalimentar da própria música e efeitos. Mas, acima disto, celebravam o instante, o ritual da pista de dança, da música que não precisa ser descrita, mas, sim, vivida numa atmosfera sem espaço para outros tempos. O prazer de Miss Kittin é ver, ouvir e consumir Miss Kittin. <O ritual supera o flashback e, não importa se a modinha ou os anos 2004, 2005 já passaram, eles estão ali para serem redescobertos. Por isso, Miss Kittin (ainda) arrasa.

Os 15 minutos de fama desta DJ que surgiu como mais um nome desconhecido num flyer em um chill out de uma festa de música eletrônica em 1994 já passaram. Superar a imagem daquela que fez dois hits e nada mais (Miss Kittin? Ela ainda existe?) não deve ser fácil. Mas a dupla ainda tem muitas pistas de dança pela frente. Entre sintetizadores, fluxos de imagens projetadas e o visual futurista da cantora preenchendo o palco e a pista, Miss Kittin é a imagem do pop e se define ‘em estado de graça’.

Na faixa “Grace”, ela deixa de lado o tom ‘polêmico/engraçadinho’ que a consagrou em “Frank Sinatra” e  dá a cara a tapa para falar de si mesma, de um dia-a-dia que chega sem todo o glamour tantas vezes posado. “Grace” faz parte do último album da DJ e foi lançada pelo selo Nobody’s Bizzness em um single com remixes dos DJs Sleeparchive e Martinez. Depois dos shows em São Paulo e no Rio que marcaram este final de semana, a agenda de Miss Kittin para os próximos meses tem apresentações pelas cenas electro de Paris, Londres e Berlim. Em tempo: um novo disco está sendo produzido pela dupla e deve ser lançado este ano, para somar à lista dos oito álbuns já assinados pela francesa.

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