Música: “Cê”, de Caetano Veloso, é seu melhor álbum de inéditas em 15 anos

texto por Marcelo Costa

Um amigo jornalista do alto de seus quase 30 anos comentou: “Nunca achei que fosse ver o Caetano lançar um disco bom”. A namorada, ao ouvir “Rocks”, elogiou: “É boa essa música”. Um amigo do jornalista Lúcio Ribeiro comparou: “A ‘Rocks’ do Caetano é melhor que a ‘Rocks’ do Primal Scream”. Quer saber: “Cê”, novo disco de Caê, é seu melhor álbum de inéditas desde “Circuladô” (1991). E a tão comentada estética rock nem é o grande trunfo do disco.

Na verdade, o que se junta em “Cê” é a adoção de um estilo que casa perfeitamente com a temática dor de cotovelo destacada pelas letras. Embora Caetano assuma que apenas a melancólica “Minhas Lágrimas” e a união de Raul Seixas com Roberto & Erasmo em “Não Me Arrependo” são autobiográficas tratando diretamente do rompimento do cantor com Paula Lavigne. Porém, o que dizer de letras punks e diretas como a da ótima “Outro”, faixa que abre “Cê” disparando: “Você nem vai me reconhecer quando eu passar por você / de cara alegre e cruel / feliz e mau como um pau duro / acendendo-se no escuro / cascavel / eriçada na moita / concentrada e afoita / eu já chorei muito por você / também já fiz você chorar”.

A ótima “Rocks” também traz pequenos acertos de contas românticos: “Tatuou um ganesh na coxa / chegou com a boca roxa de botox / exigindo rocks / animais metais totais letais / eu não dei letra / tu é gênia, gata, etc. / mas cê foi mesmo rata demais / meu grito inimigo é: você foi mor rata comigo”. Impossível não sair cantarolando o refrão após uma audição que seja. Caetano cita o álbum “Pixies At BBC” como influência e o trio formado por Pedro Sá (guitarra) Ricardo Dias Gomes (baixo e piano Rhodes) e Marcelo Callado (bateria) exercita um placebo de rock, um rock a lá Caetano, com acentos de guitarra, baixo agudo e bateria jazzista. Caetano fala demais, e é chato quando faz isso. No entanto, esqueça o Caetano falante e se concentre nas canções. Vale a pena.

Ps. Só um aparte: Quando Caetano lança um dos melhores disco de “rock” do ano no Brasil, alguma coisa está muito errada na música popular brasileira.

 Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

26 thoughts on “Música: “Cê”, de Caetano Veloso, é seu melhor álbum de inéditas em 15 anos

  1. Lendo o texto você me deixou bastante curioso para ouvir este álbum. Mas o Ps. que você escreveu parece diminuir um pouco ele.

  2. eu respeito o caetano, o cara é %!@$&@# tô curioso pra ouvir o disco. mas ouvir entrevistas do caetano não dá. NÃO dá. haha

  3. Seu melhor álbum de inéditas desde 1991?! Com certeza porque não deve ter outro a não ser esse desde então. Ou é disco ao vivo ou é cover. CV morreu e não sabe. Se é que algum dia ele esteve vivo. Quer dizer, ele é muito vivo na hora de sugar a criatividade dos outros pra depois vomitar versões ridículas e todo mundo dizer: “Caetano é gênio”. Só em um país medíocre como o Brasil um parasita como ele ainda tem espaço na mídia.

  4. Tive um final de semana bastante atípico. Ouvi dois Discos de expectativas totalmente diferentes e de resultados ainda mais surpreendentes. Enquanto me decepcionava um pouco com a higiene exagerada do vocal do Sérgio Filho e as Guitarras à Coldplay repetidas ao extremo no Disco novo do Gram, também me flagrava ouvindo Caetano Veloso no volume máximo aqui em Casa, com o seu disco “Cê”. Meu Deus! Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo. Discaço do Caetano!

  5. Marcelo!!!

    Eu t vi no show do Franzzzzz! Mas fiquei c/ vergonha de falar c/ vc! rs
    Vc vai falar deles na proxima coluna??? PELOAMORDEDEUS!!!

    1 beijo

  6. Os que o acham um embuste são bem menos dos que os acham um gênio. Não acho nem um nem outro, mas ele personifica a adoração que os gringos têm por Caetano, uma antitese da teoria postada abaixo pelo Daniel.

  7. Fala Marcelo, queria desviar um pouco o foco do seu post. Soube do fim da colaboração para a Rock Life. Uma pena. Outro dia encontrei o Alex Antunes e ele me deu um exemplar de corterisa. Acho que seria mais uma opção bacana nesse complicado mercado de revistas de música. Sou adepto da tese de que quanto mais concorrência, melhor. Num mundo ideal, poderiamos ter nas bancas a Bizz, a Zero, o Laboratório Pop, a Rock Press, a Rock Life, enfim, todas elas a disposição do leitor. Abraços

  8. hummm, deve se aprender muita coisa com Jeff Tweedy, mas na boa: como o Caê viu o show do Wilco e eu não!!!!!!!!!! humpft!

  9. nada é pior do que encher o ego do caetano. pra completar a critica babar, ainda vem o devendra dizendo q é fã numero um do caê. noossa! mas vamo la… vou ja começar a baixar

  10. Rapaz…
    Há uns dois anos atrás escrevi um texto detonando o Caetano por não lancar nada de respeito desde Circulado (concordo nisso) e estragar a sua criatividade dentro do seu egocentrismo estampado em versões de musicas horriveis…Eis que depois da entrevista dele no fantastico ja estava pronto para escrever outro no mesmo caminho…acontece que o cara lança um disco agora e todo mundo ta falando bem (ainda nao escutei)…
    Vou escutar!!
    :))

  11. sabe qual o problema maior? é que o brasil foi dominado por críticos paulistas que detestam o que se convencionou chamar de mpb. Estranhar o caetano lançar um disco bom? como assim? foi o cara que fez transa, por exemplo. ou velô, ou cores e nomes, enfim…

  12. mas o devendra é irrelevante, nesse aspecto. tudo bem, ele é um ótimo cantor/compositor, mas ainda assim só os indies o conhecem.

    (sobre o comentário “até o devendra…”)

    o disco é realmente bom.

  13. Marcelo, gosto do que vc escreve, mas convenhamos. a crítica paulista foi a maior praga pro jornalismo cultural desse país. Ou vc acha que ALvaro pereira jr, forastieri, barcinski, lucio ribeiro, etc. com sua pretensão de serem novaiorquinos não destilam preconceito sobre tudo que é nacional? o pereira uma vez, comentando uma coletânea de rock tailandês disse que aquilo era melhor que toda a história do rock nacional. que é isso? se o vitor ramil fosse inglês seria considerado gênio. o que há é muita superficialidade. vivas a você e ao pedro alexandre sanches, exceções nesse meio babaca.

  14. Enquanto a midia desfila seus podres poderes caetano destila seu doce veneno. Sim, é um belo cd. Ele foi esperto para chamar a atenção para ele. DIsse o que a mídia(empresários) queria ouvir. não vote no lula. você sacou joão?

  15. devendra banhart ? ah mano, ta brincando ! ele foi um foguinho de palha na europa e é citado como autoridade pra falar de caetano ! pelamordidê !
    quer um exemplinho mais maneiro ? thom yorke passou hoooras incognito no barbican center em londres, curtindo a expo tropicalia …sei q ele tava ouvindo caetano pq nos headphones sob o poster do chacrinha so rolava isso…e posso falar de visu tbm por ter assistido x vezes shows de caetano na europa, onde é soldout direto e onde a maioria do publico nao é brasileira !
    caetano pode ser chato falando, mas é consequente, inteligente e tem pontos de vistas originais sobre o mundo !
    eu aqui eriçada na moita, concentrada e afoitada querendo transmitir o prazer q esse cara nos oferece com suas musicas !
    nunca vou entender essa mania q brasileiro tem de so curtir coisas estrangeiras, rock ingles, bobagens americanas…quem adora musica, ouve tudo sem preconceito de procedencia e curte o q é bom, seja la brasileiro, europeu ou turco ! né nao mac ?
    beijos

  16. Não é meio estranho tratar como novidade Caetano utilizar-se do Rock? E algumas dessas utilizações não são, em verdade, e isso desde o começo de sua carreira, das melhores feitas na história do Rock brasileiro? O erro sempre foi tratá-lo como algo similar a Chico buarque, mas Caetano é diverso e dado ao sim. Nada que seja humano lhe é estranho. E feliz dele. Abraço.

Deixe um comentário para confetti Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.