The White Stripes ao vivo no Rio

por Marcelo Costa

The White Stripes, um dos nomes do primeiro escalão do rock mundial na atualidade, fez o show mais alto, barulhento e aplaudido de todo o Tim Festival 2003.

Também, pudera. A banda já ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias vendidas de seu último disco, “Elephant”, e é figurinha fácil nas principais publicações de rock de todo o mundo. Para muitos fãs, a presença do White Stripes em terras brasileiras, no auge da carreira, já é motivo de sobra para agradecer aos céus.

E o duo fez uma apresentação em que reinou o som tosco da guitarra de Jack White, os trejeitos fofos da baterista Meg, e o treme-treme na pista de dança, quando algum hit da banda era tocado.

Foi o que aconteceu em “Hotel Yorba”, “You’re Pretty Good Looking (For a Girl)” e em “Seven Nation Army”. A plateia cantava, pulava, festejava e o chão de madeira do palco Stage tremia, tremia, tremia.

No palco, o White Stripes impressiona. São apenas duas pessoas fazendo um barulho dos infernos. Jack é tão branquelo que chega a assustar. Meg é muito mais bonita do que as fotos aparentam. E o som é muito mais sujo do que nos álbuns.

Na primeira música, “Black Math”, a barulheira era tanta que encobriu o vocal gritado de Jack White. Na segunda, “Dead Leaves and the Dirty Ground”, o clima bluezy reinou. Jack canta sussurado, para berrar o refrão depois. Em “Jolene”, de Dolly Parton, parece ter incorporado a alma de um velho bluesman.

Porém, por mais que a pose de “guitar hero” de Jack sobressaia na banda, é Meg a responsável pelos melhores momentos da noite. Ela erra o andamento várias vezes (deve ser difícil manter o ritmo sem um contrabaixo marcando o tempo), faz caras e bocas, sorri, parece brava com Jack, mostra a língua e canta.

É “Cold, Cold, Night”, uma baladinha soturna que leva a baterista até o microfone principal. A ala masculina vai ao delírio. A ala feminina admira. Meg canta suavemente, larga o microfone para dedilhar um piano que só será tocado no show neste menos de minuto do solo da canção. E volta, vitoriosa, para a bateria, sorrindo.

Jack, por sua vez, parece duelar com as guitarras. Ele toca duas no show. A primeira, um modelo vermelho, insiste na microfonia. Jack tenta equalizar a contento o trio de amplificadores pré 1963 que serve de retorno, mas não consegue.

Larga a guitarra vermelha e pega um modelo marrom. Com ela, toca o longo blues à lá Led Zeppelin “Ball and Biscuit” e a doce cover de Burt Bacharah, “I Just Don’t Know What to Do With Myself”, cantada em coro pela audiência.

Porém, o clima parece tenso no palco. Jack tem dois microfones a sua disposição. O primeiro é posicionado de frente para o público. O segundo, posicionado de frente para Meg. Neste, o guitarrista passa boa parte do show olhando nos olhos da baterista.

Rola provocações, duelos da guitarra com a bateria, e sacanagens, como Jack retardando o andamento de “Fell In Love With a Girl”, tirando toda a concentração de Meg.

Foram, ao todo, 18 cacetadas que colocam o som garageiro na ordem do dia. Com os dois pés atolados no blues, as mãos no rock and roll e o coração no som tosco das bandas de garagem, o White Stripes realizou uma excelente apresentação, mas deixou um gostinho de “falta alguma coisa”.

Difícil imaginar por que uma banda como o White Stripes conquiste tanto o público. Talvez seja o charme de Meg. Talvez seja o som da guitarra de Jack. Talvez tenha sido um bom show. Com um zumbido nos ouvidos, o público leva a dúvida para casa. E a banda retorna para os Estados Unidos. A festa vermelha e branca fica para outra oportunidade.

Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.