Faixa a faixa: “Up The Bracket”, a estreia do Libertines

por Rodrigo Lobo

Qualquer pessoa com alguns neurônios e o mínimo de experiência nesse chamado mundo pop nota a bobagem que é falar do The Libertines como uma resposta inglesa aos Strokes. Curioso é que, definitivamente, nem todo mundo parece ter essas credenciais e, por isso, muita gente ‘vai na onda’. Porém, não vá aderir ao anti-hype (tão radical e bobo quanto o próprio hype) negando-se a dançar ao som desses rapazes.

O lançamento de “Up The Bracket”, primeiro disco dos londrinos, recebeu alguma atenção no início, mas ela foi diminuindo gradativamente até que não restassem mais esperanças do grupo alcançar o mainstream com ajuda da imprensa. Tudo bem, o underground, algumas vezes, não é um mau lugar. Principalmente para uma banda como o Libertines.

“Up The Bracket” foi produzido por Mick Jones, o que rendeu a banda comparações e comentários como “o novo The Clash”, detalhe que pode ser encontrado em algumas poucas melodias, mas que as letras afastam na primeira orelhada. No single de estreia, o duplo lado A “What A Waster/ I Get Along”, o ex-Suede Bernard Butler assinou a produção. A primeira faixa, porém, foi banida das rádios inglesas e excluída da versão europeia do disco. Via de regra, a edição nacional vai na cola da edição norte-americana, mas neste caso, “Up The Bracket” chega ao Brasil via Trama semelhante ao inglês, ou seja, com uma música a menos.

Nada de novo. Nem música, nem discurso, nem atitude. Apenas algumas guitarras, poucos acordes, uma bateria acelerada na maioria das vezes, mas também lenta, quando necessário. Muitas linhas melódicas irresistíveis, o sotaque inglês, dois vocalistas fáceis de serem confundidos e, finalizando, o belo clichê: muita diversão. As fontes são, claramente, o rock feito lá pela Inglaterra mesmo: de invasão britânica (é só escutar “The Boy Looked At Johnny”) a Smiths (ouça e leia “Time For Heroes”) passando pelo obrigatório punk rock (“I Get Along”, “Horror Show”).

O grito que abre a faixa título já foi dado por muita gente em festas, no meio de uma bebedeira. Ou nas ruas, indo ou voltando das festas. Ou nas brigas, também nessas festas. Ou no início ou no meio ou no fim de uma canção, tocando para alguns amigos, em… festas. O espírito é exatamente este. O que se segue ao berro é uma parede de guitarras e o que a banda tem de melhor: vocais melódicos, embriagados, carregados de sotaque e contando histórias comuns de noites e de relacionamentos confusos.

Como a maioria das antigas bandas mod, os dois líderes e compositores da banda (Carl Barât e Pete Doherty) parecem ter como principal intenção entoar hinos, canções que sirvam como trilha sonora para a vida dos jovens que pertencem a alguma turma. E isso é louvável, pois ninguém vive só de solidão, de sentimentos confusos surgidos devido às pressões deste mundo, de tristeza por perdas amorosas e de noites chuvosas passadas em casa. As horas de farra, de esculhambação, de bebedeira e de euforia são necessárias. Se forem em maior número, melhor. Se tudo isso (a música, a farra) for feito com estilo e noção, melhor ainda.

Difícil dizer qual dos dois vocalistas se destaca mais, mas é verdade que o afastamento repentino (e muito mal explicado) de Pete deixa dúvidas quanto ao futuro da banda. Ter que se virar sem o principal compositor pode ser difícil. Verdade que muitas bandas conseguiram passar por isso de forma louvável (conhece Suede, né?), e o novo single da banda, chamado “Don’t Look Back Into The Sun”, surge para provar que o Libertines também é capaz disso. Produzido novamente por Bernard Butler (casualmente, ex-Suede), “Don’t Look Back Into The Sun” abre caminho para o vindouro segundo álbum.

Porém, a história aqui é anterior. Em “Up The Bracket”, todas as músicas chamam atenção por alguns momentos: refrão pegajoso (“Boys In The Band”), vocal sem sentido (“The Boy Looked At Johnny”), letra interessante (“Death On The Stairs”), peso (“Up The Bracket”), melodia envolvente (“Tell The King”), convite a uma dança frenética (“I Get Along”, “Vertigo”).

No fim é apenas isso. Um disco que não vai fazer você chorar, emocionado. Que não vai marcar um período difícil de sua vida. Um disco que só poderá ser acompanhado de lembranças de uma época em que as coisas estavam acontecendo, apesar do ceticismo da maioria, e na qual você viveu e aproveitou. Mas antes das memórias, está o presente, afinal, como disseram lá no início e iremos repetir por agora, “He says he got the blues but he has a lot of fun/ (…) We’re having some fun tonight”.

Faixa a Faixa – “Up the Bracket”

01) Vertigo
O disco abre com uma guitarra rápida, palmas acompanhando a bateria e um vocal suave.
A faixa muda de andamento, com uma quebra irresistível (o disco traz muitas outras).
“Just walking on the ladders as the people round you hear you cry in peace”

02) Death On The Stairs
Bem diferente da primeira faixa, essa vem com uma letra extensa com referências
explícitas aos punks (sim, o “please kill me”). É cantada pelos dois vocalistas.
Está entre as melhores. Aproveita e repara na guitarra.

03) Horrorshow
É a mais punk do álbum. Rápida, extremamente suja, curta.
“It’s a horror show, you should come on round”.

04) Time For Herores
Foi o segundo single do disco. Letra também extensa como a de “Death On The Stairs”, mas a música é melhor.
Lembra Smiths, mais precisamente Morrissey. “Tell me what can you want now you’ve got it all”.
Enfim, linda.

05) Boys In The Band
Essa, se virasse single, seria hit instantâneo em qualquer lugar. Até por aqui.
Dançante, boa letra, refrão dos bons. Rock pra levantar arena.
“You walk in like you never seen the light/ You walk in like it every night/
But I’ve never seen you dance and I never heard you sing/ So how can it mean a single thing?”.

06) Radio America
Eles deviam estar bêbados quando gravaram esta faixa.
É uma balada sem guitarra, cantada calmamente e que,
não fosse a disparidade entre as outras faixas, passaria despercebida.

07) Up The Bracket
Tem o grito, tem o peso, tem os vocais, a velocidade (que diminui na hora exata).
Enfim, tem tudo aquilo que vicia qualquer um.

08) Tell The King
Outra balada, mas bem melhor do que “Radio America”.
Cheia de detalhes que vão te viciando sejam eles da guitarra, do vocal
(ouça o momento em que é cantado “There’s nothing to break your fall” e note seus pêlos se arrepiando),
da bateria, da letra…

09) The Boy Looked At Johnny
Faixa bem inglesa. Do sotaque ao que é cantado no refrão passando pelas bandas que ela nos faz lembrar.
“New York city’s very pretty in the night time/ But don’t you miss Soho”.

10) Begging
Pesada e bem melódica.

11) The Good Old Days
Essa é irmã da faixa anterior, porém, aditivada com uma letra maravilhosa.
“If you’ve lost your faith in love and music/ Oh the end won’t be long/ (…)
Because there were no good old days/ These are the good old days”.

12) I Get Along

Pra encerrar o álbum mais um punk rock rápido.
Tão punk que tem até “People tell me I’m wrong../ Fuck ‘em!”.
Forma perfeita pra fechar o disco e deixar a curiosidade pro próximo.

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