'Howdy!',
do Teenage Fanclub
Estamos Nos Divertindo!
por
Nick Hornby
Texto
originamente publicado na revista Mojo # 84, de 11/2000; e traduzido
por Claudia Ferrari.
"À
medida que as críticas sobre o álbum The Passengers
iam saindo", escreveu Brian Eno no seu diário A Year
With Swollen Appendices, "mais uma vez aparecia aquela sensação
ruim no estômago com a disparidade entre o espírito
em que as coisas são feitas alegria, entusiasmo, curiosidade,
fascinação e aquela na qual elas são
freqüentemente recebidas cinismo, falta de interesse,
ressentimento...".
Algumas
das críticas sobre o último álbum do Teenage
Fanclub, o ensolarado, alegre e entusiástico Songs
from Northern Britain levam alguém a se perguntar
se o Teenage Fanclub foi convidado por Brian Eno para simplesmente
ilustrar essa disparidade: aqueles que amaram o álbum
ouviram uma tentativa consciente e emocionada de articular a
alegria adulta por meio de músicas pop de três
minutos (e pelo menos meia dúzia de melodias fantásticas);
jornalistas que o odiaram escutaram apenas a banda que perdeu
a sua capacidade de inovar.
Qualquer
um que tenha gasto cinco minutos na companhia de Songs from
Northern Britain poderia ouvir que inovação
era dificilmente o ponto: você também pode criticar
um círculo por não ter cantos pontiagudos ou um
restaurante indiano por fazer hambúrgueres ruins. Se
você quer inovação, bem ... por que não
vai ouvir algo inovador?
Felizmente
eles não se desencorajaram com as críticas e o
Teenage Fanclub retornou depois de três longos anos com
Howdy!, que soa como se eles tivessem colocado Songs
from Northern Britain numa peneira para remover os últimos
pedaços desagradáveis de pessimismo de suas almas.
Howdy!
é quase insanamente feliz, uma ode em 12 estrofes às
alegrias do amor e da vida e da música e da harmonia,
tanto no sentido musical quanto filosófico da palavra.
Há uma música chamada Happiness, e uma
música chamada The Sun Shines From You, e o refrão
de My Uptight Life (um título que deve ter chamado
a atenção os caçadores de inovação
por um momento) que é "All my life Ive felt so uptight
/ Now its all right" (Toda a minha vida eu fui tão tenso
/ Agora está tudo bem), e a primeira linha de The
Town and The City diz "Feels good to be here again" (É
bom estar aqui de volta), e os backing vocals de I Need Direction
são "Ba-ba-ba, ba ba ba ba ba".
Qualquer
um sentindo-se cínico e ressentido deveria sair correndo
até o Our Price (Cadeia de lojas populares na Inglaterra),
onde cinismo é vendido aos montes, ou talvez às
páginas musicais dos jornais.
O
Teenage Fanclub tem seguido um estranho caminho. Quando eu estava
escrevendo Alta Fidelidade em 94, Barry, um dos caras
que trabalha na loja de discos que serve de locação
ao romance, pregava um cartaz recrutando membros para uma suposta
banda. "DEVE GOSTAR DE R.E.M., PRIMAL SCREAM, FANCLUB, ETC."
E estava correto naquele momento: o Teenage Fanclub era o sonho
de todo vendedor de loja de discos, meio grunge e subproduzido,
com uma fixação séria por Big Star. Desde
aqueles dias, entretanto, a sua música tornou-se mais
rarefeita e limpa e quase perversamente divertida. É
como se eles quisessem inverter a direção dos
anos 60: eles começaram com Helter Skelter e foram
trabalhando até chegar em I Want To Hold Your Hand.
É muito difícil fazer o caminho contrário,
claro, porque todos nós começamos jovens e cheios
de esperança e terminamos amargos e violentos (ou isto
não acontece com todo mundo?), então há
algo quase heróico em abraçar este tipo de suavidade;
ela parece ter sido ganha arduamente e por isso é ainda
mais convincente.
I
Need Direction, a primeira música do álbum,
aquela com os backing "ba ba ba" quase Austin Powers, apresenta
a filosofia atual da banda de forma sucinta: o solo de órgão
consiste de 4 notas descendentes, e o solo de guitarra foi roubado
de Hank Marvin em vez de Neil Young / Jung. Não é
tanto uma obsessão com o passado (porém você
ainda pode ouvir The Byrds e Crosby, Stills, Nash & Young
tão claramente quanto em Songs from Northern Britain)
como uma obsessão pela simplicidade. A falta de complicação
é tudo aqui, a qual é a marca das pessoas que
pensam naquilo em que trabalham e como ser o melhor naquilo
que fazem pergunte a qualquer artista de qualquer valor em
qualquer área, e eles estarão preocupados em como
deixar mais coisas de fora, e não como colocar mais coisas
no seu trabalho. Estes caras confiam nas suas músicas
e nas suas vozes, e eles têm todo o direito de pensarem
assim.
Você
pode ler este artigo e pensar que ele não é para
você. Eu sugeriria educadamente que se esta é a
conclusão a que você chegou, então você
é precisamente a pessoa que mais precisa dele. Você
provavelmente já escuta muita música triste e
complicada, e quanto mais você agüentaria? "Escute
aquilo que você está perdendo" eles cantam em The
Town and The City, minha favorita atualmente e presença
garantida em qualquer fita dos melhores do ano 2.000.
Se você é esperto e desanimado e triste e amargo
você deveria ouvir o conselho deles.
Nick
Hornby é o autor dos romances "Alta Fidelidade", "Um
Grande Garoto" e "Febre de Bola".
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