Silverhead
por
Wagner Xavier
Wagner2505@yahoo.com.br
09/09/2005
O Silverhead não pode chegar a ser apontado como uma raridade.
Possivelmente poderia ter tido muito mais êxito do que outras
bandas em seu tempo, seja pela qualidade de sua música, seja
pelo carisma de seu compositor, líder e cantor. Formada no inicio
dos anos 70 por Michael Dês Barres (vocal), Nigel Harrison (baixo),
Steve Forest (guitarra e vocal), Rod Rock Davies (guitarra)
e Pete Thompson (bateria), o quinteto lançou dois excelentes
álbuns, que apesar da reconhecida qualidade não emplacaram nas
paradas.
Sem sombra de dúvida, o Silverhead era a banda do ator, cantor e compositor Michael Dês Barres, nascido na Inglaterra em 1950. O visual da turma denunciava o mais puro glam rock do inicio dos 70's, indo na cola de T-Rex (do ótimo Marc Bolan), David Bowie, o infernal Alice Cooper e o maravilhoso Roxy Music (de Brian Eno e Brian Ferry). Porém, as influências roqueiras estavam bem mais para Led Zeppelin e Deep Purple, lembrando em alguns momentos - de acento pop - o próprio T-Rex.
Apesar da época e do visual, o Silverhead tocava um rock and roll bastante pesado, marcado por duas guitarras solando o tempo todo e por vocais gritados ao extremo. É surpreendente ouvi-los hoje em dia e perceber como eram pesados e enérgicos. Iam direto ao ponto, sem frescuras. Era puro rock and roll: direto e sem firulas.
O primeiro álbum da banda, homônimo, foi lançado em 1972
pelo Purple Records (a gravadora de uma das maiores bandas da
época: o Deep Purple). Produzido por ninguém menos que Martin
Birch (o mesmo produtor dos melhores álbuns do Purple, além
de produtor da mega banda de heavy metal dos anos 80: Iron Maiden)
o disco é interessante do começo ao final. Silverhead,
o álbum, foi criado com todos os ingredientes para ser um tremendo
sucesso. Gravadora de nome, produtor de primeira linha, capa
bem trabalhada e uma banda afiada. Pesadão na maioria das faixas,
o disco também contém baladas que certamente ensinaram muitos
posers de tempos mais modernos a passarem por roqueiros verdadeiros
- como Bon Jovi e Aerosmith em suas baladas chorosas. Certamente
o cara fez escola neste quesito, mas fazia com muito estilo
e carisma e criatividade.
Em 1973 saiu Sixteen and Savage, segundo disco do grupo. Também no estilo do anterior, o álbum é praticamente todo composto por material próprio, contendo a ótima faixa Hello New York em sua introdução. O disco também marca a entrada do guitarrista Robbie Hunt, que anos depois tocaria com ninguém menos que o mestre Robert Plant, no lugar de Steve Forest.
Altamente envolvido com bebidas, drogas pesadas e groupies - muitas groupies, Michael Dês Barres não segurou a onda e a banda acabou se dissolvendo em seguida. Nesta fase, Michael teve um tórrido relacionamento, que acabou em um breve casamento, com uma das groupies mais famosas de seu tempo, a "escritora" Pámela Dês Barres, a mesma que escreveu na década de 80 o livro I'm With the Band: Confessions Of A Groupie, lançado no Brasil como Confissões de uma Groupie, além de sua continuação, Take Another Little Piece of My Heart onde conta as cenas mais apimentadas da época - coisas de programas de televisão no horário da sessão da tarde.
Com o final da banda, o baixista Nigel Harrison foi fazer histórica na ótima banda Blondie, da loura (e sexy e mítica) Debbie Harry. Michael ainda formou nos anos 80 a banda Detetive, além de lançar um álbum solo na seqüência. Ambos os projetos também naufragaram. Em 1985, ele substitui o vocalista Robert Palmer na banda Power Station, conseguindo relativo êxito, e nada mais. Após as aventuras musicais ele passou a se dedicar em atuar em filmes e seriados como Seinfield, LA Show entre outros filmes.
Por incrível que pareça, os dois álbuns do Silverhead ganharam edição no Brasil na época de seu lançamento (eu consegui minha cópia em vinil original) com aquele selinho roxo da Purple Records (uma maravilha) e capa dupla cheia de fotos... É incrível como aqui por estes lados pintavam uns discos improváveis (vivo na caça destas edições capinha sanduíche e ótimas prensagens em muitos casos). Uma maravilha!!! Atualmente, nem os CD's em relançamento são editados por aqui. Uma pena.
As edições em formato digital foram lançadas pela Repeirtore em 1997, contendo faixas bônus (duas em cada disco). Na verdade são os singles originais e valem muito pena. O primeiro deles tem a música Ace Supreme na versão 7 polegadas, muito interessante.
Assim como o grande New York Dolls e de toda a fama da época do glam rock, o Silverhead tinha todo o potencial para marcar presença de forma definitiva, mas os excessos, ou talvez a falta de uma melhor orientação para gerenciar a carreira, não permitiram que a banda chegasse no sucesso comercial (ou então os deuses da música não quiseram que o Silverhead caísse no gosto popular... algo que costuma acontecer mais do que se imagina) como algumas bandas citadas neste texto. O que é certo afirmar é que o talento da banda era inegável e Dês Barres tinha voz, carisma no palco e talento como compositor para ir mais longe do que realmente foi. Vale conhecer, muito.
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