Rock Raro

O SURPREENDENTE NEU! 
por Wagner Xavier
Wagner2505@yahoo.com.br

Tentar falar sobre bandas raras de rock me parece uma tarefa da maior responsabilidade, principalmente se considerarmos o fato de que muitas vezes não temos qualquer histórico, opinião de terceiro, enfim, pouquíssimas referências sobre elas. Certamente muitos de nós, que conhecemos (e adoramos) tantas grandes bandas de rock como Beatles, Rolling Stones, Yes, Jethro Tull, The Doors, entre outras, que com justiça absoluta alcançaram a fama, a fortuna e a glória, invariavelmente deixamos passar batido nomes que certamente não tiveram o mesmo destino, a mesma sorte, ou seja, realizaram trabalhos importantes, muitas vezes inovadores e por algum motivo, que talvez os deuses do rock (dizem que existem os deuses do futebol, e por que não existiriam os deuses da música também ?) não deixaram muito espaço para estas bandas.

Tentaremos ao longo do tempo procurar falar sobre algumas destas bandas ou discos que caíram neste enorme lapso, pois se não temos o poder para mudar esta história, pelo menos reservamos um espaço devido a merecido a eles. Falaremos neste espaço sobre bandas, não necessariamente raras, mas bandas que muitos de nós esquecemos de mencionar, que apesar disto sentimos prazer em ouvi-las e principalmente respeitamos seu trabalho, independente do sucesso que tenha tido em sua época.

Como estréia daremos destaque a banda alemã NEU! (pronuncia-se Nói). Formada no início dos anos 70, a banda, na verdade uma dupla, (dupla eletrônica, experimental ? – qualquer semelhança com o Ministry seria mera coincidência ?),  era formada pelos multi-instrumentistas Klaus Dinger e Michael Rother. O NEU!, teve um curta discografia, lançando apenas 3 álbuns, todos editados pela Brain. Abordaremos especificamente seu primeiro disco, relançado recentemente em uma edição muito bonita e cujo conteúdo é simplesmente sensacional. O disco, lançado em dezembro 1971, quase totalmente eletrônico, basicamente instrumental (exceção feita a última faixa – se é que podemos considerá-la como uma faixa vocal...), é delicioso de se ouvir do começo ao fim. Denso e surpreendente, soa moderno, pesado, dançante (no bom sentido) e mesmo hoje podemos perceber sua exuberante execução. Seu estilo pode dificultar sua classificação quanto ao estilo, pois possui características progressivas, porém lembrando bandas de rock industrial ou espacial. 

Podemos imaginar o impacto na época do seu lançamento (talvez eles estivessem alguns anos a frente de seu tempo). Este disco, composto de 6 ótimas faixas, possui um total de aproximadamente 45 minutos. Iniciando com a eletrônica "Hallogallo" (10’07), cuja batida eletrônica é super-agradável, uma bateria brilhante, guitarras e teclados espalhados pela música de forma simplesmente genial. A faixa seguinte é "Sounderagebot" (4’50), experimental ao extremo, mas sem ser chata  e fechando o lado 1, a bela "Weissensee" (6’42), com passagens progressivas de grande inspiração (me lembra Pink Floyd, nos seus melhorias dias de ...para deixar o leitor curioso, UMMAGUMMA).

O lado 2 começa novamente bastante instrumental. A primeira faixa é "Im Gluck" (6.52) que tem um som meio estranho (parece algo como água borbulhando em algum lugar – realmente um pouco esquisita). A sequência porém é muito boa, com a ótima eletrônica "Negativland" (9’46), faixa onde os sons do teclado falam mais alto junto a uma bateria que preenche todos os espaços vagos – um show de rock eletrônico. Finalizando o disco, temos talvez a "música deprê mais estranha de todos os tempos" – para deixar o Radiohead com inveja do vocal (ou sussurros ?) - "Lieber Honig" (7’15) é o grand finale do álbum. 

Apesar de possuir uma voz (ininteligível para qualquer pessoa – não sei se mesmo um alemão entende aqueles sussurros), a música é extremamente lenta, triste e estranha (difícil classificar algo tão diferente do pop/rock que nos acostumamos a ouvir). Mas é um digno final ... Realmente, um grande disco.

Apesar de gravar dois outros álbuns seguintes (NEU! 2 e NEU! 75), o NEU! (que significa Novo!, em alemão) não conseguiu alcançar o estrelato, lembrando que seus integrantes também participaram do também estreante e mundialmente famoso Kraftwerk (este sim dono de quase toda a fama do rock eletrônico alemão – com méritos também...)

Após 1976 e com a entrada de novos integrantes (Thomas Dinger e Hans Lampe) o NEU! gravaria mais três álbuns com o nome de "La Dusseldorf", mas também não conseguiriam grande êxito.

No início dos anos 80 a dupla reformou a banda, onde o resultado desta reunião foi o lançamento, somente em 1996, do álbum NEU! 4, encerrando suas atividades definitivamente.

Apesar de não estarem entre os grandes sucessos da história do rock (apesar de serem melhores do que muitos que fizeram muito menos - seriam novamente os deuses ?), o NEU! é daquelas bandas que vale a pena ouvir, principalmente quando citado seu disco de estréia. Para os curiosos em conhecer, existe um re-lançamento em LP, muito bonito, (inclusive o vinil é todo branco) numa edição caprichada e ótima prensagem. Para quem conhece, é só deixar rolar e para aqueles que ainda não tiveram o prazer, recomendamos a aquisição sem medo de ser Feliz !!!

Boa Viagem e Até a Próxima !!!