Esse
você precisa ouvir
Roberto Carlos
– Em Ritmo de Aventura – 1967
por
Carlos Eduardo Lima
cel_rp@yahoo.com.br
Pois bem, amigos leitores. É
o Rei Roberto Carlos mesmo. Ele tem uma folha de ótimos serviços
prestados ao rock nacional quando este termo ainda não existia em
nenhuma de suas conotações ou denotações atuais.
Era o homem fazendo história com as próprias mãos.
Ao longo dos anos 60 o Rei gravou
um punhado de discos que podem ser considerados como um verdadeiro cânone
do rock nativo em toda a sua extensão. Baladas, covers, composições
próprias, uma parceria infalível (nos moldes de Lennon e
McCartney, com o Tremendão Erasmo Carlos) e muito talento.
Roberto Carlos Braga nasceu em outono
de 1941, no dia 19 de abril, em Cachoeiro do Itapemirim, pequena cidade
no interior do Espírito Santo. Era o quarto filho do Sr. Robertino
Braga e Dona Laura Moreira Braga. Ele foi fisgado primeiramente pelo country
de artistas nacionais como Bob Nelson, mas não tardaria a comprar
o compacto de "Rock Around The Clock" e se fascinar com aquele ritmo novo
chamado rock 'n' roll.
Aos dezesseis anos mudou-se para o
Rio onde foi morar no bairro da Tijuca, lá encontrando outros jovens
fascinados por rock, como Erasmo, Tim Maia, entre outros. Foi no The Snakes
que ele começou a cantar, apresentando-se em clubes e bailes.
Se o Scream & Yell existisse nesta
época, falaria de rock inglês e Jovem Guarda, deixando de
lado a empáfia tropicalista e o elitismo dos seguidores da Bossa
Nova. Se você gostasse de música no Brasil dos anos 60, não
poderia fugir destes três ritmos. A Bossa Nova era americana demais,
influenciada por jazz mais do que qualquer outro ritmo, apesar de talentos
inegáveis; o Tropicalismo só surgiria a partir de 1967/68
e era político demais, autoreferente demais e elitista por
natureza. Portanto, se o jovem fã
de rock tivesse que escolher um estilo de vida, este seria pontuado pelos
carrões, motocas e cocotas da Jovem Guarda.
A ditadura militar implicou com o
movimento pois a tal jovem guarda, aqui uma referência a uma "guarda"
substituta das "velhas guardas", tão presentes no Brasil, poderia
ser uma referência ao comunismo, pois Lênin batizara seus soldados
revolucionários em 1917 com o mesmo nome. Tudo besteira. A Jovem
Guarda era diversão pura. E Roberto era o chefe da patota.
O grupo de artistas que ainda contava
com bandas como Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys,
Os Vips e divas como Martinha, Wanderléa e Rosemary estrelou por
um bom tempo um programa homônimo na Rede Record, onde eles se apresentavam
e afirmavam suas gírias e maneirismos.
No ano de 1967, o movimento vivia
seu auge. E veio a idéia de fazer um filme, com a galera, na onda
de "Help" (dos Beatles, feito dois anos antes) e das aventuras de James
Bond. Roberto e Erasmo estrelaram "Roberto Carlos Em Ritmo de Aventura",
que foi um grande sucesso de bilheteria. O desempenho do cantor e compositor
no papel principal, teve carisma e senso de humor. A grande atração,
como seria de se esperar, é a trilha sonora, que inclui grandes
marcos do repertório do filho mais ilustre de Cachoeiro do Itapemirim
(ES), como "Eu Sou Terrível", "Como É Grande O Meu Amor Por
Você", "Por Isso Corro Demais", "De Que Vale Tudo Isso", "Quando",
"E Por Isso Estou Aqui" (que alguns pensam ter como título "Olha")
e "Você Não Serve Pra Mim".
O curioso é que apenas "Eu
Sou Terrível" foi escrita por Roberto e Erasmo, que na época
viveram uma rara fase de desentendimento, levando o Rei a assinar sozinho
cinco músicas. Estas músicas, hoje tão vilipendiadas,
são verdadeiros tesouros. Nunca o homem foi tão vulnerável
dentro de sua aparente superioridade adolescente. As letras de "Eu Sou
Terrível", cheia de bravatas
e de "Por Isso Corro Demais" entram em choque direto, mostrando que os
caras eram sensíveis e divertidos. E o romantismo sincero do Rei
mostrava aqui com "Como É Grande O Meu Amor Por Você" o que
viria a acontecer na década seguinte. Mas aqui a embalagem era rock
muito bem feito e em sintonia com o que era cometido lá fora por
bandas como Monkees, Herman’s Hermits e Hollies.
Muitos de nós estamos aqui
graças a namoros iniciados à luz destas canções.
Em respeito e conhecimento, ouçâmo-las pois e vamos tentar
não mexer os esqueletos.
Carlos Eduardo
Lima é sub-editor da revista Rock Press. |