Discografia
Comentada
R.E.M.
por
Marcelo Costa
"Vá
se saber por que eu tenho essa obsessão com o R.E.M. Mas
a verdade é que, fora os Beatles, eles são a única
banda da qual amo, exatamente, tudo. Ouso dizer que o R.E.M. é,
para mim, a banda mais importante dos Estados Unidos nas últimas
décadas", Ana Maria Bahiana em "Belas
Canções Sob o Ceú da Califórnia".
Ok. Por mais que o coração seja domado por Ian
McCulloch e seu Echo & The Bunnymen e a razão seja
devota do The Clash, hoje em dia, aqui e agora, se eu tivesse
que escolher apenas uma banda, se fosse me dado o direito de
eleger a maior banda de todos os tempos, está banda seria
o R.E.M.
Por vários motivos. Talvez por ser a banda que soube
sair do circuito independente e dialogar com multidões
com a mesma simplicidade de quem está tocando em pequenas
bibocas (quem presenciou a apresentação da banda
no Rock In Rio 3 pode confirmar). Talvez pela integridade. Talvez
por um repertório de canções sublimes e
singulares. Pela unicidade na carreira, pela constante criatividade
em alta, por não virar auto-cópia após
20 anos. Pela guitarra de Peter Buck que, não bastasse
criar belas melodias nas seis cordas, ainda toca com delicadeza
impar o bandolim. Pelas letras extremamente particulares de
Michael Stipe e sua voz, triste. Pelo baixo seguro e o backing
sessentista de Mike Mills, que ainda brinca com o orgão.
Por tudo. E por nada. A maior banda de todos os tempos? Talvez.
Você decide.
Marcelo
Costa
Ps.
Os cinco primeiros álbuns do R.E.M. foram lançados
pela micro gravadora independente IRS. Aconselha-se procurar
as edições "IRS YEARS VINTAGE ano" que trazem
entre quatro e sete bônus tracks por álbum. Para
ilustrar melhor a carreira da banda, recorri a pequenos ensaios
escritos pela imprensa brasileira (e internacional) sobre os
álbuns.
Chronic Town (1982) IRS
"Ainda
sob a boa repercussão de seu single de estréia
(lançado em julho de 1981 pelo selo Hib-Tone), o R.E.M.
volta ao estúdio com Mitch Easter (Let's Active) para
produzir estas cinco faixas que já prenunciavam a explosão
criativa do primeiro álbum do grupo. Gravado em outubro
de 1981, o disco só foi lançado dez meses depois
pelo selo indie IRS, com as músicas remixadas". Celso
Pucci
"'Chronic
Town' é uma cidade dentro da mente". Bill Berry 1983
Para uma banda que tocava em versão hardcore para que
as pessoas não percebessem que eles não sabiam
tocar nada, 'Chronic Town' é uma surpresa e tanto. Tudo
que fez a fama do quarteto na primeira fase está aqui:
letras ininteligíveis de Stipe, dedilhados folk de Buck
e a cozinha encorpada de Berry e Mills. Lançado como
EP em vinil 12 polegadas, bateu 20.000 cópias em um ano.
Em CD, engordou a coletânea de out-takes 'Dead Letter
Office'. Marcelo Costa
Sucesso
– "Carnival of Sorts"
Melhor Música – "Carnival of Sorts" – "Gardening at Night"
Preferida – "Gardening at Night"
Nota – 8
Murmur
(1983) – IRS
"Há
quase consenso em se afirmar que o álbum de estréia
do R.E.M. é uma das obras-primas dos anos 80, que abriu
perspectivas para as college bands e todo o circuito independente.
Mas, acima de tudo, é na soma da tradição
do country rock com melodias e recursos não convencionais,
que reside o brilho perene destas doze canções".
Celso Pucci
"Chamamos o disco de 'Murmur' porque é uma das sete
palavras mais fáceis de se pronunciar na língua
inglesa".
Michael Stipe 1987
Quanto tempo é preciso para se obter uma obra-prima?
O R.E.M. precisou apenas de 26 dias para finalizar sua estréia.
O resultado é, parafraseando a resenha da revista Rolling
Stone de 1983, 'inteligente, enigmático, envolvente'.
Folk rock com toques psicodélicos ou, para usar uma expressão
em voga, alternative country da melhor qualidade (Jeff Tweedy
deve ter esse álbum com destaque em sua prateleira).
A versão IRS Years acrescenta mais quatro faixas: a versão
R.E.M. para o clássico velvetiano 'There She Goes Again',
mais três canções ao vivo de um show em
Seattle, 1984, entre estas, 'Gardening at Night'". Marcelo Costa
Sucesso – "Radio Free Europe" – "Talking About The Passion"
– "Perfect Circle"
Melhor Música – "Radio Free Europe" - "Perfect Circle"
Preferida – "We Walk"
Nota – 10
36ª Posição Na Billboard
Reckoning (1984) IRS
"Aqui se escancara a opção de Peter Buck pelo
rock and roll, cuja urgência emoldura os versos enigmáticos
de Michael Stipe. Faixas como '7 Chinese Brothers', 'So Central
Rain' e 'Pretty Persuasion' mostram uma guitar band consciente
de sua musicalidade, tão singular e fluida como a recomendação
da capa: 'Arquive debaixo d'agua'". Celso Pucci
"No céu, anjos não estão mais tocando
harpas, mas rickenbakers. E estão tocando canções
do R.E.M." - NME 1984
Seqüência direta da estréia, 'Reckoning' ampara-se
no rock básico e acerta em cheio o alvo. A versão
IRS traz cinco bônus, a maioria gravada ao vivo em estúdio
sem nenhuma produção, toscas e geniais, sendo
que duas são covers ('Tighten Up' de Archie Bell e 'Moon
River' de Henry Mancini). Marcelo Costa
Sucesso – "So Central Rain" – "Pretty Persuasion" – "(Dont Go
Back to) Rockville"
Melhor faixa – "7 Chinese Brothers"
Preferida – "Camera" – "Time After Time" - "(Dont Go Back to)
Rockville"
Nota – 10
27ª Posição na Billboard
Fables of Reconstrucion – Reconstrucion of Fables (1985)
IRS
"Mesmo com a assinatura do lendário produtor de folk
rock inglês Joe Boyd (Nick Drake), este disco gravado
em Londres não chega a decolar. Reflete um tempestuoso
período que quase pós fim ao grupo e soa confuso
entre arranjos de cordas e metais, apesar das boas tiradas como
'Old Man Kensey' e o hit 'Cant Get There From Here'". Celso
Pucci
"Dark, dank and paranoid". Michael Stipe 1985
Um dos álbuns mais fracos da carreira do R.E.M. traz,
na versão IRS Years, mais cinco faixas, incluindo a bacana
cover do Pylon ('Crazy') mais uma versão acústica
de 'Maps and Legends'. Marcelo Costa
Sucesso – "Cant Get There From Here"
Melhor faixa – "Old Man Kensey" – "Wendell Gee"
Preferida – "Maps and Legends" – "Wendell Gee"
Nota – 6
28ª Posição na Billboard
Life's Rich Pageant (1986) IRS
"O título é uma citação repetida
pelo personagem de Peter Sellers, o inspetor Closeau. O som,
nas mãos de Don Gehman (John Cougar, The Blasters) ganha
em corpo, mas perde em sutileza e espontaneidade. Despontam
as primeiras preocupações políticas em
canções como 'Fall on Me' e 'Cuyahoga'". Celso
Pucci
"Eu acredito que este é o melhor registro que fizemos
neste estilo". Peter Buck 1986
A ordem das canções na capa é uma bagunça
total, não confie. São listadas dez faixas, mas
a versão original continha doze chegando a dezoito na
IRS Years. Destacam-se nesta última uma cover tosqueira
para 'Toys In The Attic' do Aerosmith, uma cover mais lírica
de um clássico do The Everly Brothers ('Dream - All I
Have To Do') e uma versão acústica da bonita 'Swan
Swan H'. 'Fall on Me' é, até hoje, uma das canções
prediletas de Michael Stipe no repertório R.E.M.. Marcelo
Costa
Sucesso – "Fall on Me"
Melhor Faixa – "Swan Swan H" – "Fall Me"
Preferida – "Swan Swan H" – "Fall Me" – "Just a Touch"
Nota – 7
21ª Posição na Billboard
Dead Letter Office (1987) – IRS
"Uma coleção de out-takes, b-sides e covers
(Velvet Underground, Roger Miller, Aerosmith, Pylon), que longe
de ter a unicidade de um álbum, mesmo assim consegue
encantar pelo despojamento e crueza de várias canções
(algumas retiradas diretamente de demos). A versão em
cd original traz as cincos faixas do ep 'Chronic Town'".
Celso Pucci
"A virtuous compost, being a compendium of oddities collared,
and b-sides compiled" – subtítulo.
Para se conhecer a fundo o R.E.M. é preciso uma audição
cuidadosa dessa delicia tosca que é 'Dead Letter Office'.
Meio coletânea de raridades, meio brincadeira entre amigos,
temos várias covers e várias inéditas.
Destaque para 'Femme Fatale' do Velvet Underground e 'King Of
Road' de Roger Miller, sem contar 'Voice of Harold', versão
alternativa de '7 Chinese Brothers'. Não bastasse incluir
o ep 'Chronic Town' na integra, a versão IRS Years ainda
traz dois bônus: uma versão de 'Gardening At Night'
acústica e uma inédita, 'All The Right Friends',
regravada posteriormente para a trilha sonora do filme 'Vanilla
Sky'". Marcelo Costa
Sucessos – nenhum
Melhor Música – "Crazy"
Preferida – "King of The Road" – "There She Goes Again"
Nota – 10
52ª Posição na Billboard
Document (1987) – IRS
"Peter Buck queria chamar este album de 'Last Train To Disneyworld'.
Com perfeita coesão a banda traça aqui um implacável
painel dos EUA ('Welcome To The Occupation' – 'Exhuming McCarthy')
sem se esquecer do bom humor – em 'It’s The End Of the World
As We Know (And I Fell Fine)' – e do primeiro hit do grupo a
atingir o Top Ten americano: 'The One I Love'". Celso Pucci
"É nosso disco mais masculino". Michael Stipe
1987
Na primeira parceria com Scott Litt (que duraria quase dez anos),
o R.E.M. volta a fazer um álbum fundamental. 'Document',
que além do título citado por Celso Pucci quase
se chamou 'Lester Bangs' ou 'Mr Evil Breakfast', reúne
onze canções inspiradas. A versão IRS Years
é imperdível. Traz seis bônus, incluindo
versões acústicas para 'The One I Love' e 'Disturbance
At The Heron House', retiradas de um cassete gravado ao vivo
em um guitar shop, além de um medley matador com 'Time
After Time'/'Red Rain' (Peter Gabriel)/'So Central Rain' em
uma rádio holandesa". Marcelo Costa
Sucessos – "The One I Love" – "Finest Worksong" - "It's The
End Of the World As We Know (And I Fell Fine)"
Melhor Música – "The One I Love"
Preferida – "Welcome To The Occupation" – "The One I Love" -
"It’s The End Of the World As We Know (And I Fell Fine)"
Nota – 10
10ª Posição na Billboard
Green (1988) Warner
"No seu primeiro disco por uma grande gravadora, o quarteto
logrou em manter a independência que sempre caracterizou
seus trabalhos. Concebido no inicio como um projeto exclusivamente
acústico, o álbum acabou comportando boas intervenções
elétricas como em 'World Leader Pretend', 'Orange Crush',
além das guinadas pop de 'Stand' e 'Pop Song 89'".
Celso Pucci
"Foi como separar todas as peças e tornar a juntá-las
para formar algo coeso". Michael Stipe 1989
A estréia do quarteto na poderosa Warner funciona como
um álbum de adaptação/transição.
A questão na época era: o R.E.M. se vendeu? Meio
que sim, meio que não. Parece que no sufoco de lançar
um álbum cuja todas as críticas talvez viessem
com essa dúvida, a banda fixou o repertório em
seu lado acústico, ligando 'Green' a estréia 'Murmur'.
O resultado, mesmo nas canções mais pops, é
excelente. Traz, ao final, uma canção sem título
que não consta na capa do álbum e a primeira letra
de Stipe a constar de um encarte, 'World Leader Pretend'. Marcelo
Costa
Sucessos – "Pop Song 89" – "Stand"
Melhor Música – "World Lead Pretend"
Preferida – "World Lead Pretend" - "You Are The Everything"
– "Stand"
Nota – 9
12ª Posição na Billboard
Out Of Time (1991) Warner
"Abandonando a configuração de guitar band
– em constante revezamento dos músicos por vários
instrumentos –, o R.E.M. fez um disco ênfase nos teclados,
arranjos elaborados e até uma seção de
cordas. Incorporaram pela primeira vez participações
especiais (Peter Holsapple, KRS One, Kate Pierson), conseguindo
um resultado arrebatador. Celso Pucci
"Não é um disco de rock and roll. É
um disco sobre memória, tempo e amor". Michael Stipe
1991
E, após dez anos de batalha no underground, o R.E.M.
conquista o sucesso de massa com mais de dez milhões
de cópias vendidas deste que é o menos R.E.M.
dos álbuns do R.E.M., mas é tão sublime
quanto os outros. Buscando fugir das amarras da indústria,
os integrantes trocaram de instrumentos (Peter Buck toca bandolim
em 'Losing My Religion' e 'Half a World Away' enquanto o baterista
Bill Berry toca baixo em 'Half a World Away' e 'Country Feedback'
para o baixista Mike Mills assumir o órgão, entre
outras), abriram a porta do clube para convidados (Kate Pierson
do B'52s dueta com Stipe em 'Shiny Happy People' e 'Me In Honey'
enquanto o rapper KRS One vocaliza em 'Radio Song'). No meio
disso tudo a banda ainda consegue escrever uma bela canção
a lá Beach Boys: 'Near Wild Heaven'. Marcelo Costa
Sucessos – "Losing My Religion" – "Shiny Happy People" – "Radio
Song"
Melhor Música – "Losing My Religion"
Preferida - "Losing My Religion" – "Near Wild Heaven" - "Me
In Honey"
Nota – 10
1ª Posição na Billboard
Automatic For The People (1992) Warner
"'Automatic For The People' é um dos discos mais intimistas
e sombriamente belos já feitos. É também
o álbum menos comercial do R.E.M.. Nenhuma de suas doze
faixas gruda automaticamente no ouvido. É preciso ouvir
e ouvir e, quando menos se espera, está-se diante de
uma possível obra-prima.(...) O disco entrou direto no
segundo lugar da Billboard e encabeçou a parada inglesa.
Mas, quanto ao rock, esse, ficou de fora. Quase não se
percebe a bateria no disco. É quase uma depuração
mais despojada de 'Out of Time' (já em si depurado).
(...) E, ainda que denso e tendo a morte e a nostalgia como
elementos fundamentais em sua atmosfera, 'Automatic For The
People' é um disco leve. Como às vezes é
leve a respiração". Daniel Benevides
"Nos fizemos um álbum de folk rock orquestra".
Peter Buck 1992
Que tal você vender dez milhões de cópias
de um álbum e, na seqüência, lançar
outro totalmente diferente e, mesmo assim, vender doze milhões
de cópias? Se acreditar em seu próprio caminho
valeu realmente a pena alguma vez na vida de alguém,
talvez seja aqui. Pisando no freio, Stipe conseguiu aquilo que
queria desde 'Green': um álbum totalmente acústico.
E triste. E maravilhoso. E soberbo. E intocável. Letras
tocantes, musicalidade impar, um álbum arrebatador. Como
curiosidade, o ex-baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones,
ficou responsável pelos arranjos orquestrais de quatro
faixas do álbum, entre elas, 'Drive' e 'Everbody Hurts'.
Marcelo Costa
Sucessos – "Everbody Hurts" – "Drive" – "Man on The Moon"
Melhor Música – Todas
Preferida – "Drive"
Nota – 10
2ª Posição na Billboard
Monster (1994) Warner
"Após dois anos sem gravar, quatro sem excursões,
o R.E.M. volta com um álbum 'malicioso', tipo 'lixoso
e óbvio', nas palavras de Stipe. O disco 'podreira' que
há tempos eles prometiam se consolidou. O que se insinuava
em 'Automatic For The People' – segundo Stipe, um 'disco punk
lento como 'Horses' de Patti Smith – ficou claro em 'Monster',
o que pode deixar os fãs radicais de cabelos em pé.
Guitarras ululantes a lá Stooges/Neil Young/Television
darão a tônica musical. Vocais 'enterrados na mixagem',
no estilo 'Rolling Stones dos áureos tempos' irão
fazer a moldura sonora, pouco ligando se alguém está
entendendo boa parte das letras". Celso Pucci
"'Monster' é um álbum de punk rock. Na sua
cara. E muito sexy: quase todas as canções são
sobre sexo e relacionamentos". Michael Stipe 1994
Após a tempestade grunge, impossível não
enfiar os pés na pedaleira fuzz e fazer barulho. O R.E.M.
ampara-se em Neil Young e Stooges para fazer rock and roll dos
bons, tosco algumas vezes, glam outras, barulhento quase sempre.
Para se ter uma idéia, Mr. Thurston Moore enche de microfonias
'Crush With Eyeliner'. 'I Took Your Name' cita o nome de Iggy
Pop na letra. E a esporrenta 'Let Me In' serve-se de toneladas
de guitarras para homenagear o amigo Kurt Cobain, morto durante
as gravações, no momento em que Stipe e Cobain
tramavam um trabalho conjunto. Marcelo Costa
Sucessos – "Strange Currencies" – "Bang and Blame" – "What's
The Frequency, Kenneth?"
Melhor Música – "Bang and Blame"
Preferida – "Bang and Blame" – "I don't sleep, I dream"
Nota – 9
1ª Posição na Billboard
New Adventures in Hi-Fi (1996) Warner
"Das muitas coisas de que gosto nesse novo disco do R.E.M.,
a sensação de imediatismo, de flagrante, de idéias
em movimento, é algo que me interessa particularmente.
Gosto das novas texturas da música do R.E.M., mais angulosas
e ácidas, especialmente a partir de 'Monster'. E, desde
que Michael Stipe resolveu começar a escrever coisa com
coisa, ele tem ficado muito mais interessante. Quando ele diz,
ao descrever uma discussão entre namorados, em 'New Test
Leper', que permaneceu 'calado durante cinco comerciais/sem
mais nada a dizer', todos nós sabemos exatamente do que
ele está falando. 'Electrolite', a canção
sobre Mulholland Drive, é a derradeira faixa de Hi Fi.
Difícil ouvir uma vez só".
Ana Maria Bahiana 1996
Gravado na 'estrada', em passagens de som e em estúdios
durante a tour de divulgação do álbum 'Monster',
'New Adventures in Hi-Fi' consegue unir todas as facetas dos
últimos quatro álbuns do R.E.M.: intervenções
acústicas como 'New Test Leper' e 'Be Mine' convivem
lado a lado com as guitarreiras 'The Wake Up Bomb' e 'Departure'
e canções melodiosas conduzidas por pianos ('Electrolite'
e 'How The West Was Won And Where It Got Us'). Destaque para
a matadora e barulhenta e cheia de efeitos 'Leave', a participação
de Patti Smith em 'E-bow The Letter' e a tiração
de sarro de Stipe com o Oasis na letra/parodia de 'The Wake
Up Bomb'. Marcelo Costa
Sucessos – "Electrolite" – "Bittersweet Me"
Melhor Música – "Leave"
Preferida – "Electrolite" – "Bittersweet Me" – "Be Mine" - "Leave"
Nota – 9
2ª Posição na Billboard
Up (1998) – Warner
"Os integrantes do R.E.M. constumavam declarar que, 'se um
de nós desistir, vamos acabar com o grupo'. Essa promessa
foi colocada à prova há um ano, com a saída
do baterista Bill Berry. Então o que fariam Stipe, Buck
e Mills, enquanto trio? A resposta está muito bem dada
em 'Up'. O disco apresenta melodias sutis, elaboradas a partir
de timbres básicos de guitarras, teclados e outros instrumentos
eventuais. Estes, por sua vez, criam uma trama perfeita para
Stipe desfilar seus versos enigmáticos e suas baladas
pungentes". Celso Pucci
A saída do baterista Bill Berry, ligada a problemas de
saúde e cansaço de turnês, modificou o modo
R.E.M. de gravação. 'Up' conta com músicos
convidados (o baterista Barret Martin do Screaming Trees além
de Scott McCaughey - ex-Posies - e Joey Waronker) e centra foco
em baterias eletrônicas, teclados esparsos e muita melancolia.
Uma bela balada a lá Beach Boys ('At My Most Beautiful'),
uma citação de uma velha canção
de Leonard Cohen ('Suzanne' em 'Hope'), o velho R.E.M. de sempre
(na balada 'Daysleeper' e no rock 'Walk Unafraid') e uma faixa
darkissima ('Diminished') encerrada com uma coda quase infantil
('I'm Not Over You'). O velho R.E.M. sobrevive com estilo.
Sucessos – "Daysleeper" – "At My Most Beautiful"
Melhor Música – "At My Most Beautiful"
Preferida – "At My Most Beautiful" – 'I'm Not Over You"
Nota – 8
3ª Posição na Billboard
Reveal (2001) Warner
"Produzido por Pat McCarthy, o mesmo de 'Up', o décimo
segundo álbum de estúdio do R.E.M. – o segundo
sem Bill Berry – mostra que os quarentões de Athens continuam
com tesão por boas melodias. Já nos primeiros
segundos, sabe-se que a intenção do R.E.M. versão
2001 não é muito diferente da do R.E.M. do finzinho
do milênio passado. (...) As experimentações
continuam. Mas logo tudo vai se encaixando: belas melodias,
letras intrigantes e harmonias bem trabalhadas. (...) 'Reveal'
é uma mistura do experimental 'Up' com o baladeiro 'Automatic
For The People'". Juliano Zappia
"Para mim, discos de verão são aqueles que
você põe para rolar durante uma festa e, antes
que termine, já quer ouvir de novo. O R.E.M. sempre vai
soar um pouco triste por causa da minha voz, mas acho que o
álbum é bem 'pra cima' e melódico".
Michael Stipe 2001
Após o susto do quase fim que deve pairado sobre a cabeça
do trio à saída de Bill Berry e o atestado de
sobrevivência com 'Up', o R.E.M. chega mais a vontade
em 'Reveal', um álbum tão feliz que chega a incomodar.
Eu mesmo demorei meses para entender a pseudo felicidade de
Stipe e encontrar em 'Reveal' um punhado de belas canções.
Alguns tiquezinhos eletrônicos, baladas matadoras e muito
lirismo na voz e nas letras de Stipe. Marcelo Costa
Sucessos – "Imitation of Life"
Melhor Música – "She Just Wants To Be"
Preferida – "The Lifting" – "All The Way To Reno" – 'Ill Take
a Rain"
Nota – 8
6ª Posição na Billboard
Around The Sun (2004) Warner
"O clima pode ser até o mesmo de Automatic for the People
(1992), mas a inspiração infelizmente não é. Caso o próximo
álbum não ultrapasse este em termos de qualidade, seria uma
ótima idéia que a banda encerrasse suas atividades, tendo todo
um respeito e respaldo de público, crítica e demais artistas.
Algo que eles estão começando a perder. Vocês não imaginam como
é difícil escrever isto, mas é um fato." Tomaz de Alvarenga
"Penso que, talvez, Mike e Michael ficaram um pouco atordoados
em como o último disco foi mal recebido. Eu não fiquei. Eu já
sabia que o disco não era tão bom antes mesmo de terminá-lo".
Peter Buck 2008
O desencanto com o mundo, com as pessoas e com a vida marca
este tristonho "Around The Sun", o primeiro disco do R.E.M a
ser achincalhado por toda a crítica, com razão. Marcelo Costa
Sucessos – "Electron Blue"
Melhor Música – "Electron Blue"
Preferida – "Electron Blue" - "Leaving New Yor"
Nota – 5
13ª Posição na Billboard
Ao
vivo é que o R.E.M. é mais R.E.M. do que nunca.
Quem comprovou com olhos e lágrimas no Rock In Rio sabe
do que estou falando. Da quase centenas de bootlegs matadores
de shows de 1982 até o Rock in Rio, destacam-se as duas
apresentações da banda para o "MTv Unplugged"
(terceira e quarta capas acima). A primeira, em abril de 1991,
divulgava o álbum "Out Of Time" e conta com versões
acachapantes de "Losing my Religion", "Is The End" e a cover
do The Troggs, "Love Is All Around", com Mike Mills na voz principal
(que a banda gravou para a trilha sonora do filme "I Shot Andy
Warwol"). Como bônus, o encontro conhecido como "automatic
baby" entre R.E.M. e U2 com Stipe cantando, Buck tocando guitarra
e Larry Mullen e Adam Clayton na cozinha numa versão
arrepiante de "One". O segundo unplugged (maio 2001) destaca
versões belíssimas para "Electrolite", "At My
Most Beautiful" e "So Central Rain". No quesito shows, a apresentação
completa que a banda fez no Rock In Rio 3 é de fácil
aquisição e é perfeita. Bacana também
são "Philadelfia 1984", "Perfect Circle" (sem data, mas
registro da tour "Green") e "Covering", este último reunindo
22 covers.
No
quesito material oficial raro, o item de maior destaque é
a caixa "Automatic Box": quatro cds com canções
inéditas ("Fretless", lançada posteriormente na
trilha sonora do seriado "Friends"), instrumentais, covers (Syd
Barret, Leonard Cohen, Iggy Pop) e b-sides. Há também
uma versão bacana dos singles do álbum "Out of
Time" reúnidos em um box chamado "singles collection"
destacando 12 faixas ao vivo, incluindo uma versão para
"Tom's Dinner" de Suzanne Vega. Não bastasse preencher
seus singles com canções inéditas matadoras,
a banda é assídua freqüentadora de trilhas
sonoras. "Batman e Robin" traz a porrada "Revolution". Austin
Powers traz a cadenciada "Draggin The Line". A trilha de "Por
Uma Vida Menos Ordinária" traz uma suave versão
de "Leave". Sem contar a trilha sonora do filme "Man on The
Moon" com vários temas instrumentais compostos pela banda,
além da canção homônima retirada
do álbum "Automatic For The People" e da bela inédita
"The Great Beyond".
No
setor coletâneas, a fase Warner nunca teve um balanço.
Já a fase IRS tem esse quatro itens acima. Logo após
a saída da banda da IRS, a gravadora fez um acordo com
a Warner e cedeu material para "The Best Off" (lançada
a revelia do quarteto). "Best Off" não traz nenhuma novidade
para o fã completista, mas é excelente para o
neófito que não quer arriscar de uma vez na discografia
inicial. "Eponymus" saiu um pouco antes é bem mais interessante.
Traz a versão original de "Radio Free Europe" (diferente
da contida em "Murmur") e a rara "Romance" (retirada da trilha
sonora do filme "Made In Heaven"). "Essencial - In The Attic"
reúne algumas das melhores raridades da série
IRS YEARS VINTAGE enquanto "Singles Collected" reúne
outros dos vários b-sides inéditos da banda, além
de lados A obrigatórios. De salivar o desejo de pobres
mortais são as edições especiais para fã
clubes. Nestas, o R.E.M. sempre capricha com alguma raridade
máxima. No fã clube oficial constam 14 singles
especiais. Do primeiro, "Parade Of The Wooden Soldiers" de 1988
(que além da faixa título, inédita, ainda
traz uma cover do Television, "See No Evil") ao último,
"Let Me In" de 2001, brotam raridades. Se você tem o coração
fraco é melhor nem ler o que vem a seguir: covers de
"Wicked Game" de Chris Isaak, o clássico gay "I Will
Survive", uma versão de "Lucky" com o Radiohead mais
Stipe nos vocais, "Country Feedback" com Neil Young nas guitarras
e uma cover de Neil, "Ambulance Blues", com o R.E.M. de banda
de apoio e muitas inéditas. Em 2003 chegou ao mercado "In Time", coletânea cuja edição especial trazia 15 faixas raras (entre b-sides e apresentações em programas de TV). Em 2006 foi a vez de "The Best of The IRS Years", que - assim como "In Time" - também traz um CD bonus com mais 21 faixas raras.
Para
finalziar, participações extra banda. Michael
Stipe canta em tudo que é lugar. De Neneh Cherry (produção
do álbum e backing em "Trout") a 10.000 Maniacs (no álbum
"In My Tribe" e no single "Few and Far Between") até
Patti Smith (backings no álbum "Gung Ho"), Billy
Bragg (backings nos álbuns "Don't Try This at Home"
e "You Woke up My Neighbourhood"), Kristin Hers (no álbum
"Hips and Makers"), Grant
Lee Buffalo ("Jubille"), entre outros. Já o trio
Mills/Buck/Berry já deu suas saidinhas. A mais famosa
foi chamada de Hindu Love Gods. Acompanhando o amigo Warren
Zevon no álbum "Sentimental Hygiene" de 1987, o quarteto
gravou, meio que de curtição, várias covers
ilustres. As sessões foram prensadas no homônimo
e muito bacana "Hindu Love Gods" (1990), em que Prince ("Raspberry
Beret") convive ao lado de Robert Johnson ("Traveling Riverside
Blues" - "Walking Blues"), Willie Dixon ("Wang Dang Doodle")
e Woody Guthrie ("Vigilante Man"), entre outras versões
matadoras. Peter Buck já trabalhou em álbuns dos
Indigo Girls (o primeiro, junto Mills e Berry), Billy Bragg
e Nando Reis. Além de baixo e orgão, Mills também
é designer. A capa de "Moon Safari" do Air leva sua assinatura.
Alias, as edições especiais dos álbuns
Warner são delicia para fãs. O álbum "out
of Time" surge com um álbum de fotografias amarrado por
um laço. "Automatic fot The People" vem em uma caixinha
de madeira e o encarte em papel vegetal. "Monster" traz um livreto
de 52 páginas. "New Adventures in hi-fi" é um
livro de 68 páginas. "Up" transforma-se em poster e "Reveal"
traz um encarte com fotos de Michael Stipe em mais de 40 páginas.
No
Brasil
A
fase Warner da banda está em catálogo e é
bem fácil de se encontrar, com preços variando
entre R$ 23 e R$28. Da fase IRS, "Document" circula na versão
IRS Years com bônus e a coletânea "Best Off" também
é de fácil acesso, ambos variando de R$ 23 e R$28
também. A coletânea "Singles" chegou a circular
no mercado nacional, mas está fora de catálogo.
Toda primeira fase da banda nunca viu as prateleiras brasileiras
no formato digital. Em vinil, apenas "Murmur" não ganhou
edição nacional. Assim, os cds importados variam
entre R$ 40 e R$ 50 e estão todos em catálogo
no exterior, com exceção de "Essencial - In The
Attic". As edições especiais são limitadas,
podendo ser encontradas com muita sorte, claro, com preços
bem "especiais".
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