Esse
você precisa ver
Uma relação
pornográfica
por
Leonardo Vinhas
O que falar sobre o filme francês
"Uma
Relação Pornográfica" que ainda não tenha
sido dito? Você provavelmente já leu que o filme é
bem conduzido, tem uma narrativa leve e envolvente, que é impossível
não se apaixonar gradativamente pelos protagonistas, etc. (Se não
leu, este site tem um texto excelente sobre isso) Então, o que mais
há a se comentar sobre esse filme?
Talvez sua capacidade de inquietar.
De deixar uma sensação incômoda que só cresce
a medida que tentamos relativizá-la. Porque "Uma Relação
Pornográfica" é um filme sobre pessoas como você e
eu, pessoas que se furtam ao ato de revelar seus sentimentos por estarem
"calejadas" emocionalmente. Pessoas que às vezes aumentam a magnitude
de suas mágoas para não terem que vivenciar novas dores.
Pessoas que bloqueiam o que pode vir a ser amor transferindo suas falhas
e incoerências para os parceiros. Pessoas que, quando podem sair
da miséria emocional, criam barreiras e obstáculos para preservar
sua solidão e depauperada individualidade. Como os protagonistas
do filme. Por isso eles não têm nome, são apenas "o
homem" e "a mulher". Porque podem ser qualquer um de nós.
"Uma Relação Pornográfica"
não traz resposta a nenhum desses questionamentos, Ao contrário,
traz mais perguntas e dúvidas. Suscita questionamentos e envergonha
qualquer um que já passou por um relacionamento tomado por inquietação
e tranqüilidade, por um sentimento que vem gratuito e pelo qual às
vezes pagamos um alto preço. Um sentimento que convencionou-se chamar
de amor. "Uma Relação Pornográfica" é um belo
filme sobre o amor e sobre a falta dele.
Talvez somente isso não se
houvesse falado sobre o filme.
Leonardo Vinhas
já viveu uma relação pornográfica e ela terminou
como a do filme
Uma relação
pornográfica
por
Marcelo Costa
Ela é conhecida por "ela".
Ele é chamado, simplesmente, de "ele". Os dois formam um casal,
sem formar. A história é uma história de amor, simples
e sublime como o amor deveria ser sempre. E quase sempre acontece do jeito
de Frederic Fonteyne retratou em suas lentes.
Poucas vezes o amor foi tão
bem filmado quanto em "Uma Relação Pornográfica".
A pornografia do titulo deverá decepcionar um espectador incauto,
pois não é a pornografia de sexo explicito. É a pornografia
do amor desnudo, brotando do impossível e sustentando-se no inevitável.
Os cuidados são deliciosamente
tomados. Nathalie Baye, ela, não é uma atriz bonita no sentido
hollywoodiano do termo. Sua beleza é a beleza das pessoas comuns.
No inicio da trama, quando, em tom de retrospectiva, ela conta como tudo
foi acontecendo, nós nem prestamos atenção direito
nela. Porém, aos poucos, quando sua imagem volta ao âmago
da história, é impossível não resistir a seu
charme. Seu sorriso conquista, sua falta de jeito disfarçada em
trejeito nos acolhe, sua entrega nos faz feliz, seu medo nos comove, sua
história nos faz chorar, mesmo sabendo que ela não sabe de
nada do que nós sabemos. E nós sabemos porque também
acompanhamos os pensamentos de Sergi Lopez, ele, que também divide
a narrativa lembrando de como tudo aconteceu, atuando de um modo desequilibrado,
assustado, doce e perfeito.
Ela não sabe o nome dele, e
vice-versa, e por conseqüência, nem nós. Conheceram-se
via anúncio em revistas sobre sexo e apenas sabem que querem realizar
suas fantasias sexuais. Escolhem um café para o encontro, decidem
por todas as quintas-feiras em um hotel que ela já havia reservado.
Assim nós, espectadores, os acompanhamos até onde nos é
permitido, e ficamos a imaginar o resto. Enquanto a imaginação
voa, o amor pousa. Ninguém esperava e todos temos medo. Eles principalmente.
Ele assusta-se em ela querer ficar por cima, na cama. Ela assusta-se em
imagina-lo olhando-a chegar ao orgasmo. Nós nos assustamos em como
deixamos de dizer as coisas. E sempre acontece assim, desse jeito.
A sutileza dos olhares impressiona
quem estava preparado para a violência do sexo fácil.
Fonteyne enfrenta o desafio de contar
uma história de amor em um mundo repleto de histórias de
amor. Poderia soar repetitivo, caricato, mas soa sublime, tocável,
real. Quando "ela" começa a questionar que os filmes que vê
não retratam a vida real, nós sabemos do que ela está
dizendo. É bem mais difícil desnudar sentimentos do que desnudar
corpos, e essa é a magia de "Une Liason Pornographice".
Natalhie Bayle recebeu o prêmio
de melhor atriz, a Taça Volpi, no Festival de Veneza. Sergy Lopez
recebeu o prêmio de ator do ano da European Award. E nós recebemos
uma história de amor como não se conta mais. Simples e sublime
como o amor deveria ser sempre, só esperando que ninguém
espere passar o momento para dizer tudo que sente. Você, caro leitor,
diz?
O tempo passa. O amor.
E foram felizes para sempre. Foram?
Marcelo, 31,
acredita no amor, ainda e sempre.
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