Quatermass
por Wagner Xavier
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20/02/2006

Estranho o mundo do rock and roll. Como explicar que grandes músicos ligados a outros grandes nomes por algum motivo desconhecido não conhecem a verdadeira fama e glória? Vejam o exemplo da banda Yardbyrds, cuja fama nem chega aos pés de nomes como Led Zeppelin ou Cream e tiveram entre seus guitarristas nada mais do que Jimmy Page, Jeff Beck e Eric Clapton, além de músicos como Cris Deja e Keith Relf. O último ainda criou, anos mais tarde, os ótimos Armageddon e Renaissance. Pois é neste fragmento de acaso que entra o Quartermass. Formado em 1969, na Inglaterra, o Quatermass era formado por músicos de grande experiência e que se juntos não alcançaram o sucesso esperado, porém estiveram sempre rodeados de nomes famosos e deixarem um grande legado para o rock and roll.

Contando com Mick Underwood na bateria, Peter Robinson nos teclados e Johnny Gustafson nos baixos e vocais, o Quartermass gravou um excepcional álbum homônimo em 1970. A origem dos músicos remonta a bandas como Episode Six, do vocalista Ian Gillan (Deep Purple). Inclusive, foi o próprio Underwood quem recomendou Gillan para o guitarrista Ritchie Blackmore, já que tanto Nick Simper (baixo) como Rod Evans (vocal) haviam sido dispensados a pouco do Purple (que com a entrada de Gillan e Roger Glover teria sua mais clássica formação de todos os tempos). Além do Episode, Mick Underwood também tocou com Blackmore no The Outlaws, cujo beat rock chegou a fazer um relativo sucesso.

A idéia do Quatermass era fazer um hard progressivo, usando influências de outros grandes power trios da época como Nice, Cream e Jimi Hendrix Experience, entre outros. Gravado pela Harvest, o disco em questão abre com a faixa Entropy (1m10s), uma instrumental que apenas serve de degustação para o que vem em seguida: Black Sheep of the Family (3m36s), um clássico absoluto, que foi regravado com grande sucesso pelo Rainbow, em 1975, na estréia com o álbum Ritchie Blackmore's Rainbow, que contava com o vocal sensacional de Ronnie James Dio. O incrível é que a versão original do Quartermass, mesmo sem guitarra, consegue preencher todos os espaços com ótima linhas de baixo e teclados.

O disco segue com Post War Saturday Echo (9m42s) uma longa balada blueseira, típica da época, um ótimo momento para que Gustafson esbanje categoria num vocal seguro e baixo de arrebentar. Outro clássico absoluto. Good Lord Knows (2m45s) é bem interessante, uma balada com acompanhamento de violas, violonos e cellos. Up on the Ground (7m08s) já é outra coisa. Seguindo na linha hard da época, lembra em muito algumas faixas do seminal In Rock, do Deep Purple. Já Gemini (5m54s) discorre sobre a inconstância de humor que existe num típico geminiano. Make Up in Your Mind (8m44s) mantém o excelente nível com refrão ganchudo e que faria qualquer banda atual de hard rock tocar a revelia em qualquer MTV da vida. A próxima é Laughin' Trackle, (10m35s), faixa instrumental numa linha mais jazzística, destacando um arranjo de cordas e um teclado bem interessante. Para fechar, retorna a coda de abertura, Entropy, desta vez com apenas 0m40s.

Após o lançamento de seu álbum de estréia, o Quartermass recebeu diversas críticas positivas que, inclusive, levaram o trio a fazer uma turnê pelos Estados Unidos. Apesar da expectativa, a falta de investimento em publicidade e de uma boa assessoria fizeram com que a banda não conseguisse o êxito esperado, levando o grupo ao seu final em abril de 1971. Após o encerramento, Gustafuson juntou-se com os músicos John Cann e Paul Hammond, ex-Atomic Rooster, e criou o excepcional Hard Stuff (banda para um futuro Rock Raro). Ele também foi membro do Roxy Music, tocando em álbuns essenciais como Strandled (1973), Country Life (1974) e Siren (1975), participando da vitoriosa turnê da banda em 1976, que rendeu o álbum Viva!, além de tocar com Kevin Ayers, do Soft Machine, Ian Hunter do Mott the Hoople, e Steve Hackett do Gênesis. Mais tarde acabou se firmando na Ian Gillan Band. Já Peter Robinson alcançou relativo conhecimento tocando com Phil Collins na banda de jazz rock Brand X.

Sem dúvida, apesar da falta de reconhecimento, o Quatermass é uma das grandes bandas dos anos 70 que vale a pena ouvir do começo ao fim e cuja obra ficou eternizada como algo de extremo bom gosto e qualidade. Para encontrar o disco de estréia do trio, vale procurar uma edição dupla em vinil lançado pela Akarma, em 1996, com duas faixas bônus, sendo a ótima One Blind Mice (3m15s) e Puting (7m09s), a última, um lado B do primeiro single do Quatermass. Esta edição também foi lançada em modo digital, porém sem o mesmo acabamento caprichado.

Independente da fama e do número de cópias vendidas, vale muito a pena procurar conhecer por estas preciosidades musicais que existem por aí. Se você gosta de conhecer coisas boas, independente da época, não ligue para a opinião da grande mídia. Existe muitos sons interessantes além do que os cadernos culturais dos jornais vislumbram, como o Quartermass, um rock raro que merece ser apreciado.


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