DISCOGRAFIA
COMENTADA
Nick Cave and the Bad Seeds
por
Leonardo Vinhas
leonardo.vinhas@bol.com.br
Nick
Cave costuma ser associado à canções depressivas,
momentos lúgubres, narrativas macabras, etc. Se é
verdade que muitas dessas ligações sejam procedentes,
também é fato que essa é apenas uma das
facetas desse muito comentado e pouco ouvido (no Brasil) compositor
australiano. Em muitas ocasiões, ele apresenta um humor
ácido e inusitado, alternando idéias musicais
sempre dentro de um formato semi-acústico - as guitarras
recebem o mínimo de efeitos, no máximo um wah-wah
aqui, um chorus ali, um ou outro tremolo e olhe lá; baixo
e bateria desempenham seus papéis sem "preparação"
prévia ou alteração de timbres; as cordas
e os teclados (órgão e piano, nada digital) são
mais ousados nas harmonias que nos arranjos. Definitivamente,
nada que permita o encaixe da banda em termos como "gótico",
"pós-punk" ou clichês afins.
Comentar
a discografia de Nick é tarefa capciosa, já que
ele possui uma carreira extensa, iniciada em 1976 com a banda
The Birthday Party e que se estende até os dias de hoje.
Além da formação já citada, Cave
também gravou álbuns, EPs e participações
em discos com Lydia Lunch, Die Haut, Mick Harvey e outros. Aqui,
será comentada sua discografia com os Bad Seeds, banda
que o celebrizou e que também responde por sua maior
e melhor produção musical. Sim, pois pelo que
foi mostrado nas versões de Let It Be e Here
Comes The Sun (você sabe de quem) presentes na trilha
sonora do filme Uma Lição de Amor (I
Am Sam, lançada no Brasil pela Sum Records), Cave
desacompanhado não apresenta nada muito melhor que arranjos
convencionais de churrascaria. Também está listada
a formação que gravou cada disco, já que
os Bad Seeds mudam de acordo com as necessidades musicais e
relacionamentos pessoais de Nick, Mick Harvey e Blixa Bargeld
(seus mais fiéis escudeiros).
A
discografia toda de Nick Cave And The Bad Seeds possui edição
nacional pela Paradoxx Music, com exemplares facilmente encontrados
entre R$ 8,00 e R$ 12,00 nas melhores lojas - à exceção
do mais recente, No More Shall We Part, lançado
pela Sum e dificilmente custando menos que R$ 22,00. Que o texto
abaixo ajude neófitos e até mesmo supostos conhecedores
a terem uma visão mais ampla da obra de uma das melhores
bandas do século XX.
FROM HER TO ETERNITY (1984)
Formação:
Nick Cave (voz), Mick Harvey (bateria), Blixa Bargeld (guitarra),
Barry Adamson (baixo), Hugo Race (guitarra), Anita Lane (parceria
em algumas letras e na "concepção" do álbum).
A
estréia das "sementes más" não ajuda em
nada a dirimir a fama de Cave como um artista sombrio. O disco
é opressivo, pesado, sufocante. Musicalmente sombrio
e obssessivo, com letras que passeiam por ambientes sórdidos
em companhia de personagens não menos. O único
refresco melódico é a cover de In The Ghetto,
celebrizada por Elvis em sua fase crooner de Las Vegas - mesmo
assim, ela versa sobre uma criança abandonada que se
marginaliza e termina assassinada pela polícia. Não
que não existam ótimos momentos: a claustrofóbica
Cabin Fever, o épico sombrio Saint Huck
e a aterrorizante recriação de Avalanche
(Leonard Cohen) respondem pela qualidade do álbum, sem
contudo facilitar sua audição. O CD traz como
bônus a muito superior regravação da faixa-título
feita em 1987 para o filme Asas do Desejo, de Wim Wenders.
Sucessos:
a regravação posterior de From Her To Eternity
Melhores faixas: Saint Huck, In The Ghetto, Cabin Fever.
Pior faixa: Well of Misery.
Preferida: Saint Huck.
Nota: 6
THE FIRST BORN IS DEAD (1985)
Formação:
Nick Cave (voz e gaita), Mick Harvey (baixo, piano e guitarra),
Blixa Bargeld (guitarras), Barry Adamson (bateria e órgão).
Longe
do clima sinistro do anterior, mas ainda com toques mórbidos,
esse é quase um álbum de blues, com fortes pitadas
de rock'n'roll. Nunca a admiração de Cave pelos
Stooges
ficou tão clara em termos musicais, originando canções
que se resumem a três ou quartos acordes atacados com
fúrias e intensidades. Dessa receita, saem grandes faixas,
como a violenta Train Long-Suffering e Tupelo
(baseada na obssessão de Nick com a morte do irmão
gêmeo de Elvis Presley logo no parto, relacionando o tema
com tradições bíblicas). Nessas duas faixas
debutam os vocais de apoio que mais tarde seriam marca registrada
da banda. Dentre os blues quase ortodoxos, Black Crow King
e Knockin' On Joe são boas amostras do que o álbum
oferece. E ainda uma versão de Bob Dylan (Wanted Man)
envolvida num crescendo pesado que nunca chega a explodir. Disco
f*.
Sucessos:
nenhum.
Melhores faixas: Train Long-Suffering, Tupelo, Wanted Man.
Pior faixa: The Six String That Drew Blood.
Preferida: Train Long-Suffering.
Nota: 9
KICKING AGAINST THE PRICKS (1986)
Formação:
Nick Cave (voz, órgão e piano), Mick Harvey (baixo,
piano, violão, guitarra e bateria), Blixa Bargeld (guitarras),
Barry Adamson (baixo), Thomas Wydler (bateria).
Primeiro
álbum a ser lançado no Brasil e também
o primeiro a trazer o baterista alemão Thomas Wydler
(da banda instrumental Die Haut), que ao lado de Harvey e Bargeld
mantém se fiel aos Bad Seeds até hoje. Um disco
de covers, alterna muitíssimo bem os climas, indo do
baladão deslavado (By The Time I Get To Phoenix,
de Johnny Rivers, e Something's Gotten Hold of My Heart,
de Gene Pitney) a canções tradicionais americanas
(Long Black Veil e Sleeping Annaleah), incluindo
ainda doo-wop magistral (Jesus Met The Woman At The Well,
dos Alabama Singers, sobre o encontro de Jesus Cristo com uma
samaritana em um poço), blues nervoso (Ï'm Gonna
Kill That Woman, de John Lee Hooker, bem popular em São
Paulo na época) e recriações inusitadas
e perfeitas para All Tomorrow's Parties (Velvet Underground)
e Hey Joe (aquela). A versão em CD acrescentou duas canções
ao tracking list original do vinil: Black Betty (de Leadbelly)
e Running Scared (Roy Orbison)
Sucessos:
The Singer (de Johny Cash).
Melhores faixas: I'm Gonna Kill That Woman, Jesus Met The
Woman At The Well, Black Betty,
All Tomorrow's Parties, By The Time I Get To Phoenix.
Pior faixa: Long Black Veil.
Preferida: Black Betty.
Nota: 9
YOUR FUNERAL... MY TRIAL (1986)Formação:
Nick Cave (voz, órgão, gaita e piano), Mick Harvey
(baixo, guitarra e xilofone), Blixa Bargeld (guitarras), Thomas
Wydler (bateria).
Um
dos álbuns preferidos de Nick Cave, lançado originalmente
como vinil duplo de 45 rpm. Aparentemente um disco muito sombrio,
apesar do humor sarcástico e da melodia "pra cima" de
Sad Waters. Procurando, percebe-se mais. Segue com o
rock'n'roll furioso de The First Born Is Dead nas fortes
Jack's Shadow, Scum e Hard On For Love, mas também
investe em temas mais fúnebres e perversos - a contraposição
de imagens de Santa Verônica e o Santo Sudário
com uma prostituta dá uma idéia do que se apresenta
lírica e musicalmente nessa obra. A faixa-título
e Stranger Than Kindness são deleite para quem
cultiva o baixo astral. Em resumo: as três facetas mais
freqüentes de Nick Cave And The Bad Seeds - o rock furioso,
o blues descarnado e as baladas funestas - separadas em nove
fortes canções. É neste álbum que
está o épico marcial The Carny, incensado
por críticos (mas que não é tudo o que
dizem).
Sucessos:
nenhum.
Melhores faixas: Your Funeral, My Trial, Sad Waters, Jack's
Shadow, Long Time Man.
Pior faixa: The Carny.
Preferida: Sad Waters.
Nota: 8
TENDER PREY (1988)Formação: Nick Cave (voz,
órgão, gaita e piano), Mick Harvey (baixo, guitarras,
xilofone e percussão), Blixa Bargeld (guitarras), Thomas
Wydler (bateria), Roland Wolf (piano e órgão),
Kid Congo Powers (guitarra).
Disco
perfeito. Aprendidas todas as lições de composição
dos álbuns anteriores, Cave e os Bad Seeds fazem seu
primeiro disco de banda, com participação de todos
(principalmente de Harvey), erigindo uma identidade sólida
e atingindo um padrão insuperável de qualidade,
igualado apenas por eles mesmos. Os backing vocals fortes, os
vocais de Cave desdobrando-se do menestrel canastrão
ao narrador passional, a riqueza instrumental, a diversidade
de idéias - ingredientes de uma concepção
musical sem par (e olha que o Crime And The City Solution, banda
liderada por Harvey, bem que tentou copiar). The Mercy Seat,
que narra as impressões de um condenado à espera
da morte numa densidade de assustar góticos lúgubres,
tornou-se a obra-prima deles, secundada por outros clássicos
como Deanna (favorita dos brasileiros, um r&b rapidinho
com letra assassina inspirada em I Don't Want Your Money,
de John Lee Hooker), City Of Refuge (blues-rock repetitivo
e pesado sobre paranóia urbana), Slowly Goes The Night
(balada de piano bar semi-jazzística, com piano cafajeste
e vocais cafonas, linda!) e Watching Alice (depressão
traduzida em música). New Morning passou a fechar
todos os shows da banda, talvez para que os concertos terminem
com a idéia que existe a esperança mesmo entre
a mais desconcertante desgraça, e é outro geande
momento. Aliás, o disco todo é.
Sucessos:
The Mercy Seat, Deanna, City Of Refuge.
Melhores faixas: The Mercy Seat, Deanna, New Morning, Watching
Alice, Slowly Goes The Night.
Pior faixa: nenhuma.
Preferida: The Mercy Seat.
Nota: 10
THE GOOD SON (1990)
Formação:
Nick Cave (voz, órgão, gaita e piano), Mick Harvey
(baixo, guitarras, vibrafone e percussão), Blixa Bargeld
(guitarras), Thomas Wydler (bateria e percussão), , Kid
Congo Powers (guitarra).
Após
uma bem-sucedida turnê brasileira em 1989, o artista ficou
tão fascinado pelo Brasil (ele que já tinha grande
interesse pelo país graças ao filme Pixote,
de Hector Babenco) que resolveu gravar o álbum inteiro
aqui (e casar com uma brasileira que conheceu durante a tour
também deve ter pesado na decisão, claro). Gravado
no estúdio Cardan, em São Paulo, e mixado por
Flood (U2, Depeche Mode) em Berlim, The Good Son é
o primeiro disco a se concentrar no lado "baladeiro" de Cave.
Repleto de referências bíblicas, as faixas são
plácidas, suaves, algumas até melodramáticas.
A única exceção à "leveza" é
a faixa título, que combina um refrão choroso
com um riff grave e pesado, balizado por vocais de inspiração
gospel (cantados pelos próprios Bad Seeds). Inclui ainda
a transformação de um hino evangélico em
refrão (Foi Na Cruz, cantado em bom português).
Isoladamente, tem excelentes faixas; no conjunto, parece faltar
algo - que mais futuramente se descobriria o que era: uma consistência
maior em um formato (canções lentas entre esperança
e melancolia) no qual a banda superaria seu ídolo Leonard
Cohen.
Sucessos:
The Ship Song.
Melhores faixas: The Ship Song, The Good Son, Lament.
Pior faixa: Lucy.
Preferida: Lament.
Nota: 7
HENRY'S DREAM (1992)
Formação:
Nick Cave (voz e órgão), Mick Harvey (guitarra
base, órgão e vibrafone), Blixa Bargeld (guitarra
solo), Thomas Wydler (bateria), Martyn P. Casey (baixo), Conway
Savage (piano).
Ciente
que até os fãs se assustaram com o álbum
anterior (alguns estrangeiros - alemães, principalmente
- culparam a "má influência" do Brasil na suavização
melódica e lírica), Cave retoma a fúria
roqueira de The First Born Is Dead sem violentar tanto
os ouvidos. O resultado é excepcional: as quatro primeiras
faixas estão entre as melhores produções
do combo. A abertura se dá às trovoadas de violão,
guitarra e órgão (Papa Won't Leave You, Henry),
seguindo-se uma canção furiosa (I Had A Dream,
Joe), quase punk, distorcendo a tradição vocal
dos spirituals no refrão (o canto das igrejas evangélicas
negras dos EUA). Na seqüência, a faixa mais pop de
sua carreira, Straight To You, uma balada dilacerante
que poderia ser associada ao britpop (Morrissey, notadamente),
não fosse a letra de amor incondicional à beira
do Apocalipse ("E as carruagens de anjos estão colidindo
/ E os santos estão todos bêbados e uivando para
lua / E a angústia vem à galope / Mas eu gritarei,
amor, e virei correndo / Direto para você"). Fechando
o bloco, Brother, My Cup Is Empty saracoteia guitarras
acústicas numa canção sobre um bêbado
de saco cheio com sua esposa, sua cidade e até com o
garçom que o serve. Encerram o álbum outras três
fortes canções repletas de álcool, desespero
e assassinato, precedidas pela delicadeza de When I First
Came To Town (com curioso dueto entre Cave e o pianista
Conway Savage) e pela funesta Chrstina The Astonishing,
que contém o verso "o fedor do pecado humano vai além
do que consigo suportar".
Nota:
a partir desse disco, a formação se estabilizaria
com os músicos acima listados, recebendo outros a partir
de 1996, mas sem ninguém abandonando o barco.
Sucessos:
Straight To You.
Melhores faixas: Papa Won't Leave You, Henry - I Had a Dream,
Jo - Straight To You.
Pior faixa: Loom Of The Land.
Preferida: Straight To You.
Nota: 7,5
LIVE SEEDS (1993)
Formação:
Nick Cave (voz), Mick Harvey (guitarra e xilofone), Blixa Bargeld
(guitarra), Thomas Wydler (bateria), Martyn P. Casey (baixo),
Conway Savage (piano e órgão).
Disco
ao vivo dificilmente é legal para quem não esteve
na platéia no dia, e esse não é exceção.
Sem exibir metade da vitalidade habitual, os Bad Seeds acabam
deixando as cinco canções de Henry's Dream
meio frouxas, sem peso - aliás, até The Mercy
Seat perde impacto aqui. Pelo constato em vídeos
e até pela apresentação (excelente) no
Brasil, eles não estavam num dia muito bom. Claro que
sempre é bacana ouvir New Morning, aqui ainda
mais intensa na interpretação, condição
que também vale para The Ship Song e The Good
Son - talvez por serem canções que exigem
mais soul que garra. A única inédita, Plain
Gold Ring, é um cover modorrento de um baladão
obscuro e antigo, sem o brilho da clássica Five Hundred
Miles, que seria apresentada em terra brasilis numa versão
emocionante. Na edição importada, o CD foi lançado
em um pacote especial com um vídeo que trazia o show
na íntegra. Tanto um como outro são recomendáveis
apenas para completistas.
Sucessos:
nenhum.
Melhores faixas: The Ship Song, The Good Son, New Morning.
Pior faixa: Plain Gold Ring.
Preferida: New Morning.
Nota: 5
LET LOVE IN (1994)
Formação:
Nick Cave (voz e órgão), Mick Harvey (guitarra,
órgão e vibrafone), Blixa Bargeld (guitarra),
Thomas Wydler (bateria e percussão), Martyn P. Casey
(baixo), Conway Savage (piano).
Se
o problema era tesão, isso vem de sobra nesse belíssimo
disco, marcado pelo desespero e desencantamento com o amor em
si (Nick estava se separando de sua esposa, e alguns Bad Seeds
também não estavam exatamente felizes). É
o mais rico musicalmente na discografia da banda e só
apresenta uma faixa mediana: Do You Love Me? (Part 2)
- até porque a (Part 1), cujo clipe foi gravado
num puteiro classe Z em São Paulo, é uma
aterrorizante "chamada na chincha" para com a pessoa amada,
com sinos e backing vocals ameaçadores. Thirsty Dog
e Jangling Jock são rockões barulhentos,
rápidos e furiosos. Loverman, gravada pelo Metallica
no disco Garage Days Re-Revisited, é cínica,
macabra e mistura o temor e o fascínio pelo cramulhão
ao desejo por uma mulher. O tinhoso reaparece como O Corruptor
em Red Right Hand, um micro-tratado sobre o demo (de
deixar teólogo de queixo caído) em forma de canção
pop, tanto que é o maior hit dos Bad Seeds em terras
americanas, constando na trilha do primeiro Pânico
e no disco Songs In The Key Of X "dedicado" à
série Arquivo X. Ainda tem uma balada pop com
discreta incursão bluesy (Nobody's Baby Now)
e uma hilária predição da própria
morte em Lay Me Low.
Curiosidade:
um monte de convidados figuram nesse disco (membros dos Triffids
e Beasts of Bourbon, o ex-Birthday Party Rowland S. Howard,
os violinistas Robin Casinader e Warren Ellis), mas estão
quase indedectáveis.
Sucessos:
Red Right Hand, Do You Love Me? (Part 1).
Melhores faixas: Nobody's Baby Now, Red Right Hand, Lay Me
Low.
Pior faixa: Do You Love Me? (Part 2).
Preferida: Nobody's Baby Now.
Nota: 9
MURDER BALLADS (1996)
Formação:
Nick Cave (voz e órgão), Mick Harvey (guitarra,
percussão e órgão), Blixa Bargeld (guitarra),
Thomas Wydler (bateria), Martyn P. Casey (baixo), Conway Savage
(piano), Jim Sclavunos (percussão).
O
título revela tudo sobre as letras, todas narrativas
sobre assassinatos mais ou menos passionais, mas não
denota o lado musical. Nem tudo aqui é balada - tem um
"quase-country" fantasmagórico e chato (Crow Jane),
névoas harmônicas em tons muito graves (Song
of Joy), minimalismo pesado e pervertido (Stagger Lee)
e até tentativas frustradas (ainda que passáveis)
de revisitar Tender Prey: Lovely Creature e O'Malley's
Bar. Das baladas proprimanete ditas, foram extraídos
dois hits maciços na Austrália que também
se tornaram populares na Europa: os duetos Henry Lee (com
PJ
Harvey, na época esposa recém-casada com Cave)
e Where The Wild Roses Grow (com Kylie Minogue, sobre
uma garota inocente assassinada por um namorado perturbado que
enlouquece com sua castidade). Os simples e ótimos clips
dessas canções favoreceram bastante seu sucesso,
talvez por exibirem belas mulheres (as cantoras que participam
das faixas - até PJ está linda) em histórias
envolventes e surpreendentes. As duas moças se juntam
ao bebum Shane McGowan (ex-The Pogues) e à poetisa Anita
Lane para dividir com Nick os vocais da irônica Death
Is Not The End, que encerra o álbum legando uma sensação
bizarra ao ouvinte, que não consegue decidir se gostou,
se achou meio depressivo ou se ficou assustado. E isso porque
nem falamos da suíte de choros The Kindness of Strangers...
Lúgubre.
Sucessos:
Henry Lee, Where The Wild Roses Grow.
Melhores faixas: Henry Lee, The Kindness of Strangers, Where
The Wild Roses Grow, Death Is Not The The End.
Pior faixa: Crow Jane.
Preferida: Henry Lee.
Nota: 6,5
THE BOATMAN'S CALL (1997)
Formação:
Nick Cave (voz, órgão e piano), Mick Harvey (guitarra
e órgão), Blixa Bargeld (guitarra), Thomas Wydler
(bateria), Martyn P. Casey (baixo), Conway Savage (piano), Jim
Sclavunos (percussão), Warren Ellis (violino e acordeão).
Outro
relacionamento encerrado (com PJ dessa vez), outro grande disco
como exercício de terapia e exorcismo interno. Porém,
se em Let Love In o desespero dava o tom, aqui a esperança
é fundamental, e o endeusamento da mulher, superior a
Deus e o Diabo ("Nenhum Deus no mais alto dos Céus /
Nem demônio algum sob o mar / Poderia fazer o tento que
você fez / De me colocar de joelhos", canta Cave em Brompton
Oratory) chega a ponto de menosprezar o ser masculino (em
Idiot Prayer). Musicalmente, o álbum é
composto por canções conduzidas ao piano (às
vezes, com o baixo preciso de Casey acompanhando com maestria),
recebendo intervenções discretas e certeiras dos
outros instrumentos, que sutilmente fazem a canção
acontecer e revelar-se de rara beleza. Assim acontece a guitarra
em Brompton Oratory, com o violino em Far From Me
e com o órgão em (Are You) The One That I've
Been Waiting For? e Lime Tree Arbour. Wydler surpreende
por saber quando não inventar na bateria e prova que
nem todo bom baterista precisa ser uma máquina de viradas
(coisa que ele também faz bem). Completamente composto
por Cave (letra e música), esse discão se define
a partir da faixa inicial, Into My Arms, que ganhou o
clipe mais angustiante da história (apenas closes p&b
em faces aos prantos). A letra? Fé e amor sendo distinguidos
para logo ser provado que eles são todos parte de um
único todo, deixando a esperança de reconciliação.
Ouça e tente ficar alheio - mesmo que não entenda
a letra, o baixo, o piano e a voz de Nick se encarregarão
de deixá-lo sem palavras.
Sucessos:
Into My Arms, (Are You) The One That I've Been Waiting For?
Melhores faixas: Into My Arms, (Are You) The One That I've
Been Waiting For?, Brompton Oratory,
Far From Me, Lime Tree Arbour.
Pior faixa: Green Eyes.
Preferidas: Into My Arms, Brompton Oratory.
Nota: 9
THE BEST OF NICK CAVE AND THE BAD SEEDS (1999)
Coletânea
que traz os lados A de todos os singles de The First Born
Is Dead a The Boatman's Call, menos os de Kicking
Against The Pricks. Serve aquele lugar-comum: nem tudo que
deveria constar está aqui, mas tudo que aqui está
é obrigatório (à possível exceção
de The Carny, substituível por pelos menos 35
outras faixas mais interessantes). A primeira edição
trouxe como bônus um disco ao vivo da turnê do álbum
de 1997, bastante superior ao registro de Live Seeds.
Com sorte, ainda é possível encontrar essa edição
dupla em sebos e até alguns encalhes de boas lojas.
NO MORE SHALL WE PART (2001)
Formação:
Nick Cave (voz, piano e órgão), Mick Harvey (guitarra,
percussão e órgão), Blixa Bargeld (guitarra),
Thomas Wydler (bateria), Martyn P. Casey (baixo), Conway Savage
(piano), Jim Sclavunos (percussão), Anna McGarringle
(vocais), Kate McGarringle (vocais).
Outra
obra-prima, quase da mesma cepa de Tender Prey (um tiquinho
inferior). Já foi comentado faixa-a-faixa
e também resenhado por Nick
Hornby neste mesmo site, mas tentemos sumarizar: nas letras,
Cave está mais religioso que nunca, e na música,
os Bad Seeds estão 100% Bad Seeds, ou seja, bateria fazendo
harmonia, piano fazendo percussão, violino descendo às
saraivadas guitarras econômicos numa força bruta
que parece ser contida para não pesar mais que os poderosos
vocais (de Cave e das irmãs Anna e Kate McGarringle,
essa última mãe do ícone pop-gay Rufus
Wainright). Da delicadeza quase pop de Love Letter
(que letra!) à surpreendente Fifteen Feet Of Pure
White Snow ("Levante suas mãos ao mais alto dos céus
/ É de se duvidar? / Oh, meu Deus!", brada um Cave irado
em meio ao caos de uma cidade soterrada pela neve), uma obra
que atesta a singularidade e excelência da proposta musical
da banda. Se acabassem hoje, não teriam deixado nenhum
fã com a sensação de que ainda haveria
algo a se cumprir.
Sucessos:
Fifteen Feet of Pure White Snow.
Melhores faixas: Fifteen Feet of Pure White Snow, Love
Letter, Oh My Lord, Hallelujah.
Pior faixa: Darker With The Day.
Preferida: Fifteen Feet of Pure White Snow
Nota: 10
NOCTURAMA (2003) - Por Marcelo Costa
Formação:
Nick Cave (voz, piano e órgão), Mick Harvey (guitarra,
baixo, percussão e órgão), Blixa Bargeld
(guitarra), Thomas Wydler (bateria e percussão), Martyn
P. Casey (baixo), Jim Sclavunos (percussão), Warren Ellis
(violino).
Já
na faixa que abre Nocturama, seu décimo terceiro álbum,
o bardo australiano Nick Cave tenta nos arrancar uma confissão:
"Come on, admit it, babe, It’s a wonderful life". Nos dias complicados
que vivemos é meio difícil acreditar, mas a boa música é sempre
um caminho a seguir. E é com boa música que Cave nos presenteia.
Da balada inspirada que abre (Wonderful Life) até a incendiária
faixa que encerra (Babe, I'm On Fire), Nocturama transpira
rock and roll. E religião. E poesia. "Hide your eyes, hide your
tears / Hide your face, my love / Hide your ribbons, hide your
bows / Hide your coloured cotton gloves / Hide your trinkets,
hide your treasures / Hide your neatly scissored locks / Hide
your memories, hide them all / Stuff them in a cardboard box
/ Or throw them into the street below / Leave them to the wind
and the rain and the snow / For you might think I’m crazy /
But I’m still in love with you", canta o bardo na apropriada
Still In Love. É uma outro disco de baladas, cuja melodia
é assassinada apenas na barulheira da birthdaypartyana Dead
Man In My Bed e da longa última faixa, Babe, I'm On Fire.
Nocturama foi gravado apenas em uma semana e já
circulava nas importadoras em uma versão especial trazendo de
bonús um DVD e, a demora na edição nacional do
álbum se deve a uma mudança de gravadora. Após
anos trabalhando com a gravadora Mute (representada no Brasil
pela Sum), Cave lançou Nocturama pelo pequeno selo Anti,
por isso o motivo da demora no lançamento nacional.
Sucessos:
Bring It On.
Melhores faixas: Dead Man In My Bed, Wonderful Life.
Pior faixa: Rock Of Gibraltar.
Preferida: Wonderful Life
Nota: 7
Nick Cave And The Bad Seeds também podem ser encontrados
em trilhas sonoras. A de Pânico traz Red Right
Hand e a de Asas do Desejo, a regravação
de From Her To Eternity que também consta na versão
CD do álbum homônimo. Faixas inéditas podem
ser encontrados na trilha de outras duas películas de
Wim Wenders: Até o Fim Do Mundo (a deliciosamente
cafona (I'll Love You) Till the End Of The World) e Tão
Perto, Tão Longe (a derramada Faraway, So Close).
Leonardo
Vinhas já conseguiu passar um Carnaval ouvindo Murder
Ballads antes de sair para a farra. Ele insiste que os Bad Seeds
só soam 100% mórbidos para deprimidos contumazes.
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