Midnight Oil
discografia comentada
por
Leonardo Vinhas
leonardo.vinhas@bol.com.br
13/05/2003
O Midnight Oil é a banda australiana
que atingiu maior sucesso mundial em todos os tempos. Na segunda metade
dos anos 80, o quinteto sempre era anunciado como sendo "the next big thing",
o "próximo U2" - isso graças ao forte ativismo político,
social e ecológico que a banda sempre desempenhou, fazendo com que
lhe imputassem uma aura de messianismo. Contornando as paparicações
e as expectativas, o Oil acabou não atingindo a fama de Bono Vox
e cia., mas superou até mesmo o INXS em termos de popularidade em
seu país natal e no mundo.
Apesar desses dados, o mérito
maior do Midnight Oil é majoritariamente sua música. Passado
o rascunho insipiente do álbum de estréia, a banda burilou
uma combinação explosiva de vocais conclamatórios,
rock'n'roll rápido e direto e detalhes suntuosos e únicos
de teclados, uma mistura que raras vezes desandou. Longe das afirmações
preguiçosas que os jogam na vala comum do pejorativo rótulo
"rock australiano" (por si só, uma caracterização
para lá de duvidosa), as composições impecavelmente
arranjadas da banda emolduravam com vigor letras que atacavam da intervenção
britânica na política australiana à questões
globais como o desmatamento e a exploração religiosa. Logicamente,
nunca agradaram muito à turma de "sexo, drogas e rock'n'roll", mas
também nunca precisaram: arregimentaram, em mais de 25 anos de carreira,
fãs para sua retórica e para sua música, tão
poderosas e cativantes que nunca soarão datadas.
O texto está todo no tempo
passado porque no começo desse ano o vocalista Peter Garrett abandonou
a banda para se dedicar em tempo integral à uma organização
não-governamental que cuida dos direitos dos aborígenes e
da preservação da vida selvagem na Oceania. Garrett era parte
do núcleo da banda, junto ao baterista Rob Hirst e ao guitarrista
e tecladista Jim Mogine. Hirst declarou que a banda continua, mas poucos
fãs acreditam no Midnight sem o carecão que é a efígie
da banda (que conta ainda com o guitarrista solo Martin Rotsey e o baixista
Bones Hillman) . É possível que o baterista assuma os vocais,
já que ele e Moginie faziam os emblemáticos coros tonitruantes.
Mesmo que a banda acabe, dá para dizer sem medo de errar que o Oil
cumpriu seu papel em todas as áreas que se propôs. Tentaremos
convencê-lo disso na discografia comentada que se segue.
MIDNIGHT OIL (1978)
O ex-advogado e fotógrafo amador
de surfistas Peter Garrett se juntou a quatro garotos que mal haviam saído
do colégio para montar uma banda. Do ensaios do Farm (nomezinho
infeliz que logo foi abandonado), nasceu o Midnight Oil, ainda negativamente
influenciado pelo hard rock que tocavam em versões de garagem antes
de serem contratados pela gravadora Columbia. Muitas boas intenções
nas letras e no som, mas só "Run By Night" e "Surfing With A Spoon"
chegam perto de agradar no coquetel hard rock setentista + surf rock +
energia punk que inocentemente tentavam equalizar. "Powderworks" trazia
um texto de alta combustão que só teria moldura sonora à
altura em versões ao vivo posteriores. O resto das composições
varia do sem sal ao ruim. O baixista aqui ainda era Andrew James e no encarte
se lia: "Australian Performance, Australian Compositions", afirmação
que seria impressa nos compactos e LPs até 1981 .
Sucessos: "Powderworks" teve algum
sucesso na Austrália.
Melhores faixas: "Surfing With A
Spoon", "Run By Night".
Pior faixa: "Nothing Lost... Nothing
Gained".
Preferida: "Surfing With A Spoon".
Nota: 5
HEAD INJURIES (1979)
Melhor produzido e próximo
de reproduzir a potente pegada ao vivo da banda. Head Injuries bota pra
foder já na capa, com Garrett berrando na cara do ouvinte. "Cold
Cold Change" abre com riff fodão e o resto do álbum mantém
o pique com muita crueza e fúria, surpreendendo quem conhece a banda
só pelos hits do disco Diesel And Dust. O teclado aparece raramente,
cedendo às guitarras espaço para esmerilhar em "hard punks"
(hard rock com pique punk) como "Back On The Borderline" e "Stand In Line".
"Section 5" era mais "sofisticada", mas nem por isso menos violenta, em
seu curtíssimo solo de baixo cheio de fuzz e em seus breaks de teclados.
Um disco suarento e invocado.
Sucessos: "Back On The Borderline",
"Cold Cold Change".
Melhores faixas: "Section 5 (Bus
To Bondi)", "Cold Cold Change".
Pior faixa: "No Reaction".
Preferida: "Section 5 (Bus To Bondi)".
Nota: 7
BIRD NOISES (EP - 1980)
Bird Noises é mais um single
que um EP, trazendo apenas quatro faixas que não acrescentam nem
depõem contra a banda. Uma espécie de intervalo, um ensaio
cru do rock minimalista que seria desenvolvido no álbum seguinte,
este disco apresenta o baixista Peter Gifford, que substituiu o demitido
Andrew James. Traz o primeiro instrumental gravado pela banda, "Wedding
Cake Island", a misteriosa "I'm The Cure" (a melhor delas), a fraca "Knife's
Edge" e a letra provocadora de "No Time For Games".
Nota: 5,5
PLACE WITHOUT A POSTCARD (1981)
O peso de Head Injuries aparece menos
bruto nesse álbum que é o primeiro a trabalhar diferentes
climas de forma satisfatória e a trazer letras com temas mais globais.
Contribuiu para isso o amadurecimento da banda, não só em
shows, mas em outros setores das vidas de seus integrantes, e é
claro que a produção do experiente Glyn Johns também
fez muita diferença. Garrett economiza nos falsetes e as guitarras
"vazam" menos, com timbres mais secos para elas e para os teclados, que
ganham discreto destaque no hit "Don't Wanna be The One". A velocidade
e o ataque de temas como "Written In The Heart", "Someone Else To Blame"
e "If Ned Kelly Was King" combinavam-se ao sabor quase pop de "Burnie"
e "Brave Faces" (a canção mais arejada do Oil até
então). O resultado final do disco e a presença de Johns
fizeram com que imprensa e público chamassem o Oil de "Clash australiano",
alcunha que sempre repudiaram. Realmente, o caminho de ambas as bandas
era muito distinto, mas a dignidade deles poderia ser parelhada.
Sucessos: "Don't Wanna Be The One",
"Burnie", "Someone Else To Blame".
Melhores faixas: "Written In The
Heart", "Brave Faces", "Burnie".
Pior faixa: "Loves On Sale".
Preferida: "Written In The Heart".
Nota: 8
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1
(1983)
A abertura assusta: "Outside World"
é quase um mini-exercício progressivo, cheio de teclados
e bateria entrando em tempos quebrados e crescentes. Felizmente era um
formato isolado, mas a partir deste álbum de título boçal,
guitarras e teclados teriam igual espaço nas composições.
O Midnight Oil que estouraria três anos depois teve seu embrião
aqui, na redondinha "Power And The Passion", nos rocks mais climáticos
e cadenciados "Maralinga" e "Short Memory", nos vocais e coro de "US Forces"
e na beleza de violinos e teclas de "Tin Legs And Tin Mines". Ainda sobrava
espaço para o rock sem freios nas marcantes "Read About It" e "Only
The Strong".
Sucessos: "Power And The Passion",
"US Forces", "Short Memory".
Melhores faixas: "Tin Legs And Tin
Mines", "Maralinga", "Read About It", "US Forces".
Pior faixa: "Somebody's Trying To
Tell Me Something".
Preferida: "Tin Legs And Tin Mines".
Nota: 8
RED SAILS IN THE SUNSET (1984)
Se o caminho rumo ao pop parecia promissor
no álbum anterior, aqui o Oi joga todas as expectativas no chão
ao cometer um funk new wave aguado e cheio dos piores maneirismos dos anos
80 (vocais "picados" na mixagem, bateria eletrônica com som de brinquedo).
"When The Generals Talk", a faixa de abertura, parece um Gang Of Four dos
últimos dias cruzando com o Heaven 17 num desfile de modas, piorada
pelos vocais afeminados de Rob Hirst no refrão. Ele se redime quanto
à voz cantando "Kosciusko" quase inteira, a única faixa realmente
boa desse disco, que ainda tem um ou outro roquinho passável. Uma
lástima que levou merecidas pedradas de público e crítica
e provocou o sumiço da banda, que foi se dedicar mais às
causas dos aborígines do que à turnê.
Sucessos: "Kosciusko", "Best Of Both
Worlds".
Melhores faixas: "Kosciusko", "Best
Of Both Worlds", "Helps Me Helps You".
Pior faixa: "When The Generals Talk".
Preferida: "Kosciusko".
Nota: 2
SPECIES DECEASES (EP - 1985)
Esse segundo EP do Oil tem sua produção
creditada à banda e a François Kevorkian, que parecem disposto
a recolocar o Midnight Oil de volta ao trilho rock'n'roll de onde nunca
deveria ter saído. Já abre chamando na chincha com a intimidante
"Progress", que emenda em "Hercules", uma espécie de choque entre
o Oil e o Who (!), ambas faixas de sucesso. A frenética "Blossom
And Blood" e a discreta "Pictures" mantém o pique de locomotiva
nesse "quase single" redentor, que trazia no encarte a frase "ainda estamos
vivos", evidente resposta às críticas e ao sumiço
pós Red Sails In The Sunset. Um alívio compensador.
Nota: 8
DIESEL AND DUST (1986)
As composições do disco
que projetou o Midnight Oil para o mundo encontram-se numa interseção
entre o melhor de seu trabalho anterior, o rock e o pop oitentista. Nesse
ponto, é quase desnecessário dizer que os megahits "The Dead
Heart" e "Beds Are Burning" são o melhor exemplo desse cruzamento.
Os teclados de 10, 9, 8... voltam a aparecer, evidentemente acompanhando
a tendência do pop então vigente, o que produz resultados
mais ("Put Down That Weapon"), menos ("Sell My Soul") ou nada ("Gunbarrel
Highway", faixa-bônus do CD) interessantes. Há ainda uma surpreendente
balada anti-religiosa de fé com sobretons góticos ("Whoah"),
o quase-hino paulada "Sometimes" e pop praiano do bom ("Dreamworld"
e "Warakurna"). Mais australiano nos temas (com foco na causa aborígine)
e mais global no som (com algumas programações e metais),
o álbum produziu singles de sucesso e a controvertida turnê
"Black Fella, White Fella", realizada em guetos e reservas para os "abos",
definindo a imagem da banda junto ao grande público. É o
último álbum com o baixista Peter Gifford, que abandona a
banda e é substituído pelo carismático Bones Hillman,
que permanece no posto até hoje.
Sucessos: "Beds Are Burning", "The
Dead Heart", "Warakurna", "Dreamworld", "Sometimes".
Melhores faixas: os sucessos, "Whoah".
Pior faixa: "Gunbarrel Highway".
Preferida: "Warakurna".
Nota: 8,5
BLUE SKY MINING (1989)
Após protagonizar duas turnês
diferentes por quase dois anos, em terras natais ou estrangeiras, a banda
entrou em estúdio com o mesmo produtor Warne Livesey do álbum
anterior com a responsabilidade de corresponder às expectativas
comerciais e artísticas de fãs e gravadora. Esse intento,
raramente obtido por astros pop, se cristaliza naquele que a maioria dos
fãs considera o melhor disco da banda - e também que fornece
aos detratores maior munição. A sociedade australiana está
presente na exploração sofrida pelos milhares de mineradores
do país, mas o foco do disco está em questões ecológicas
que irritam qualquer um que tenha aversão à militância
verde. O som, por sua vez, burila ainda mais o elemento pop do álbum
anterior, mas deixa o excesso de teclados e climas para apenas duas faixas:
"Antarctica" e a xarope "Mountains Of Burma". As excelentes faixas restantes
se alternam entre pop vigoroso e cheio de brisas (as sempre curtíveis
"Stars of Warburton" e "King Of The Mountain" em destaque) e uma estranhamente
agradável grandiloqüência messiânica (os andamentos
à U2 de "One Country" e "River Runs Red"). De quebra, "Blue Sky
Mine", amada por muitos e odiada por outros tantos, talvez a canção
que melhor expresse, de forma condensada, as propostas da banda.
Sucessos: "Blue Sky Mine", "Forgotten
Years", "King Of The Mountain".
Melhores faixas: "Blue Sky Mine",
"Stars Of Warburton", "River Runs Red", "King Of The Mountain".
Pior faixa: "Mountains Of Burma".
Preferida: "Blue Sky Mine".
Nota: 9
SCREAM IN BLUE - LIVE (1990)
Compilando números extraídos
de shows de 1984, 1987, 1989 e 1990, Scream In Blue tem o mérito
de recuperar boas canções que ou estavam meio deixadas de
lado ou eram conhecidas apenas na Oceania, como a faixa-título (um
instrumental esquisito de 10, 9, 8...), "Brave Faces", "Read About It"
e "Hercules". A essas mesclam-se hits ("Dreamworld", "Bed Are Burning",
"Sometimes", cuja versão aqui presente ganhou audiência na
MTV) e momentos menores ("Sell My Soul" e uma versão sem peso de
"Progress"). O fato de não ser um registro de uma única apresentação
deixa o disco com uma certa falta de unidade, mas pelo menos dá
um gosto do que os cinco podem fazer num palco. O resgate de "Powderworks",
contudo, em versão cheia de testosterona, já justificaria
sua existência. Completa o disco uma versão acústica
(não creditada na capa) de "Burnie", gravada em estúdio.
Sucessos: "Sometimes".
Melhores faixas: "Beds Are Burning",
"Hercules", "Read About It", "Powderworks".
Pior faixa: "Sell My Soul".
Preferida: "Hercules".
Nota: 7
EARTH AND SUN AND MOON (1993)
O hiato de três anos entre este
álbum e o anterior foi bem aproveitado em apuração
dos arranjos e horas de estúdio. Nunca o Midnight Oil soou (e nunca
mais soaria) tão elegante e bem produzido quanto aqui. A variedade
de timbres de teclados (principalmente) e de bateria confere ao disco uma
aura luxuosa mas discreta, cujos possíveis excessos são evitados
pela sutileza das melodias. Todavia, o disco passa longe da frouxidão
graças ao dinamismo dos andamentos indescritivelmente simples e
desconcertantes de "Feeding Frenzy" (quase um blues à australiana)
e "Now Or Never Land" (que começa com condução de
contrabaixo, explode em um refrão perfeito e termina em uma vocalização
de inspiração indígena). Menos surpreendentes, mas
com igual pique, são os hits "My Cuntry" e "Truganini". Na suavidade,
destacam-se a plácida faixa-título e o embalo sincopado de
"Bushfire", além da simpática "In The Valley".
Sucessos: "Truganini", "In The Valley",
"My Country", "Tell Me The Truth".
Melhores faixas: "My Country", "Bushfire",
"Now Or Never Land", "Feeding Frenzy".
Pior faixa: "Outbreak Of Love".
Preferida: "Now Or Never Land".
Nota: 8
BREATHE (1996)
Blue Sky Mining domina o coração
dos fãs, mas esse álbum é, disparado, o monumento
do talento do Midnight Oil. Abandonando a suntuosidade do antecessor e
creditando as faixas coletivamente, o Oil retoma a estrutura de Head Injuries
e Place Without A Postcard com a sabedoria que a experiência lhe
proporcionou. As guitarras já não precisam mais soar tão
altas para se destacarem, e a discreta constância do órgão
elétrico de Moginie dá o contraponto ideal em canções
memoráveis como "Underwater", "Surf's Up Tonight" e a sentida "Commom
Ground". A melancólica "In The Rain" prosta o ouvinte de quatro,
mas "Bring On The Change" vem montada numa suingada e pesada britadeira
de baixo e bateria para botá-lo de pé a tempo de ouvir "E-Beat",
libelo pró-terra cheio de wah-wahs e batidas de timbre metálico,
a melhor canção da banda! "Barest Degree" sacaneia The Doors,
o mundo rock'n'roll e puxa a orelha dos fãs numa espécie
de country igualmente metalizado e estradeiro, enquanto o instrumental
"Gravel Rash" alucina num clima de experimento rock praiano. Uma rara mostra
de como o rock pode ser pop sem perder a dignidade ou cair naquele estranho
e inócuo buraco chamado "pop rock".
Sucessos: "Surf's Up Tonight", "Sins
Of Omission", "Underwater", "Time To Heal".
Melhores faixas: "Surf's Up
Tonight", "E-Beat", "In The Rain", "Barest Degree", "Common Ground", "Gravel
Rash".
Pior faixa: "Star Of Hope".
Preferida: "E-Beat"
Nota: 10
20,000 WATT RSL (1997)
A protocolar coletânea de hits
que já era esperada e há muito cobrada pela gravadora traz
uma seleção bastante óbvia dos sucessos da banda,
completada por duas faixas que integrariam o álbum seguinte, Redneck
Wonderland: a barulhenta e legal "What Goes On", com suas sirenes, guitarras
velozes tocadas com delay e loops de bateria; e a chupada caradura do U2
fase Achtung, Baby em "White Skin Black Heart" (grande título!).
Bom para quem quer conhecer a banda ou para levar em viagens.
Nota: 9
REDNECK WONDERLAND (1998)
Disco para lá de atípico,
cheio de programações, "eletroniquices", baixos distorcidos
e uma enorme vontade de soar "atualizado". O resultado é frustrante:
a faixa-título e as duas já presentes na coletânea
enganam bem, mas o resto soa como uma cópia sem muita graça
do Nine Inch Nails. "Cemetry In My Mind" é a única que tem
parentesco com o som que consagrou a banda, e não por acaso é
a melhor. O resto até contém um ou outro trecho passável
mas, sinceramente, não vale o esforço. Um deslize capitaneado
pelos egos rockstar de Hirst e Moginie.
Sucessos: "Cemetry In My Mind ", "Redneck
Wonderland"
Melhores faixas: "What Goes On",
"Cemetry In My Mind ", "White Skin, Black Heart", "Redneck Wonderland".
Pior faixa: "Drop In The Ocean".
Preferidas: "Cemetry In My Mind".
Nota: 7 pelas boas faixas, 4 pelo
conjunto.
THE REAL THING (2000)
Aproveitando o embalo "acústico"
do final dos anos 90, a banda saiu com esse The Real Thing trazendo versões
desplugadas de dez de suas canções, sete delas extraídas
de um show de 1994 em Sydney e as outras três do MTV Unplugged que
a banda gravou para a emissora em 1993. Muitas dessas faixas já
eram conhecidas graças ao disputado pirata Blue Sky Red Earth, o
que tirou um pouco do impacto, mas o disco tem seus méritos principalmente
por fugir do clima asséptico dos discos no mesmo formato, com versões
adrenalínicas de "The Dead Heart" (com intervenções
de didgeridoo!), "Blue Sky Mine", "Truganini" e "Feeding Frenzy". O disco
ainda recuperava a beleza de "Tin Legs And Tin Mines" e trazia uma bela
recriação de "In The Valley" ao piano. Se o disco não
era uma idéia original, pelo menos mantinha as qualidades da banda
e ainda justificava sua existência com quatro excelentes faixas novas
de estúdio: "Spirit Of The Age", com seu clima de luau; a balada
gótica "The Last Of The Diggers", a atípica faixa título,
cover de um sucesso australiano dos anos 60, cheias "um-mow-mow-mows";
e "Say Your Prayers", uma tentativa (musical) de refazer "Beds Are Burning"
para os anos 90 (estão lá os metais, o baixo em primeiro
plano e a bridge crescente e pesada).
Sucessos: "The Real Thing", "Tell
Me The Truth", "In The Valley", "Say Your Prayers".
Melhores faixas: "Spirit Of The Age",
"The Real Thing", "The Dead Heart", "The Last Of The Diggers", "In The
Valley".
Pior faixa: "Tell Me The Truth".
Preferidas: "Spirit of Age" e "The
Real Thing".
Nota: 7,5
CAPRICORNIA (2001)
Produzido novamente por Warne Livesey,
o Oil parece disposto a se reconciliar com a música que o celebrizou,
vontade já expressada nas quatro faixas inéditas do disco
anterior. Estão aqui, vibrantes como nunca, os riffs dedilhados
de Rotsey intercalados aos violões e teclados de Moginie, com Hirst
jogando viradas uma atrás da outra e Garrett trabalhando todos os
timbres de sua voz. Impera um clima de "rock australiano": decidido, forte,
ensolarado e estradeiro. Se é o disco derradeiro, não podiam
ter encerrado com mais dignidade. Dos momentos mais agitados de "The Golden
Age" e "Been Away Too Long" às rústicas "Tone Poem" e "Under
The Overpass", passando pelo pop puro de "Capricornia", "Mosquito March"
e "World That I See", o talento da banda desponta vigoroso e marcante.
Uma espécie de "The Best Of" com faixas inéditas. A edição
americana traz "Say Your Prayers", regravada sem muitas novidades.
Sucessos: "Capricornia", "World That
I See", "Been Away Too Long"
Melhores faixas: "Capricornia", "World
That I See" "The Golden Age", "Been Away Too Long", "Tone Poem".
Pior faixa: nenhuma.
Preferida: "Capricornia".
Nota: 9
THE GHOSTWRITERS
Projeto paralelo de Rob Hirst, que
toca guitarra, bateria e teclados e assume os vocais (o baixo ficou para
um coitado qualquer). O descomunal ego do baterista faz com que composições
com uns três minutos excedentes (as faixas têm em média
6 minutos de duração) emoldurem letras de um panfletarismo
constrangedor de tão lerdo. Prova de que ele, um dos principais
compositores do Oil, só produz coisas boas quando tem alguém
para lapidar suas idéias burocráticas. "Empire Building"
é a única quase passável, mas dura mais do que deveria.
Curiosamente, teve um disco lançado no Brasil, mas ninguém
notou. De que ano é esse disco, qual o título? Não
me lembro, passei minha cópia para a frente. E depois descobri que
eles tem mais uns quatro álbuns...
PIRATAS & VÍDEOS
Não é muito fácil
achar piratas do Midnight Oil no Brasil, a não ser pelo já
citado Blue Sky Red Earth.
|
Mas um pouco de pesquisa
paciente permite encontrar os excelentes vídeos Black Fella, White
Fella e Black Rain Falls, ambos disponíveis em versões legendadas.
O primeiro traz a trunê epônima feita em territórios
aborígines junto da Warumpi Band, uma espécie de Yothu Yindi
mais roqueiro, intercalando excelentes interpretações ao
vivo de sucessos e faixas menos conhecidas como "Helps Me Helps You" com
trechos de entrevistas e informações sobre a situação
de abandono em que eles se encontravam. O segundo traz a famosa apresentação
em cima de um caminhão em frente à sede da Exxon em NY, em
protesto ao absurdo descaso da empresa para com o meio ambiente (ocorreram
diversos vazamentos em regiões árticas sem que a empresa
tomasse qualquer providência). Às imagens do show, que inclui
um excelente cover de "Instant Karma" (John Lennon), somam-se chocantes
cenas de degradação ambiental e poluição. Ambos
valem a procura.
|
|
|