DISCOGRAFIA
COMENTADA
Leonard
Cohen
por
Julio Costello
http://juliosays.blogspot.com/
Leonard Cohen tinha 15 anos quando
conheceu um imigrante espanhol que lhe ensinou através dos sons
de um violão, a conquistar o coração das mulheres.
Esse professor suicidou-se semanas depois ensinando a derradeira lição
ao jovem Cohen. Algum tempo depois, Leonard tocava nos Buckskin Boys e
escrevia poemas.
Nos anos 50 ingressou na faculdade
onde cursou Literatura, apaixonou-se pela poesia de Garcia Lorca e pela
cultura hispânica.
Nos anos 60 já era um respeitado
como escritor ("The Spice Box Of Earth" (1956) "Let Us Compare Mythologies"
(1956) e "Parasites Of Heaven" (1962)), mas dividia-se entre a literatura
e música. Decidiu cantar com mesmo cuidado de um trovador transigindo
para o Humanismo. Escreveu canções sobre relacionamentos
consumados ou imaginários, caos, religião, profecias irônicas
e desolação.
Em 1967, apresentou-se no Central
Park ao lado da cantora Judy Collins, que havia gravado "Suzanne". Ainda
nesse ano participou do Newport Folk Festival e tornou-se tema de um documentário
produzido no Canadá. Solidificou sua carreira lançando bons
álbuns nas décadas seguintes, ainda que recluso.
Um breve olhar
sobre a discografia de Leonard Cohen
Leonard Cohen não é
um cantor de fácil assimilação às primeiras
audições. As canções de Cohen são drogas
pesadas, dopantes. A sua voz, monocórdica, e o instrumental, sem
ornatos, não colaboram a princípio. Mas para quem se dispuser
a enfrentar o estranhamento inicial, a colheita será abundante.
Talvez, valha dizer que gente como Michael Stipe, Bono, Nick
Cave e Frank Black sejam fãs confessos. Ian McCulloch, em entrevista
ao S&Y, por exemplo, colocou uma canção de Cohen na sua
listinha de cinco preferidas de todos os tempos e confessou, em outra entrevista,
tremer ao se imaginar conversando com o bardo.
Porém, se o fã clube
é seleto, não há nenhuma regularidade nos seus lançamentos,
fato que deixa os fãs sempre apreensivos e ansiosos. Pior se o fã
for brasileiro, o que o obriga a sempre importar essas preciosidades a
preços nada confortáveis (Só os dois últimos
títulos estão disponíveis no Brasil, via Sony Music).
Sua discografia (Columbia Records)
possui quinze itens e avaliá-la é não é tarefa
fácil. O critério utilizado aqui respeitou a evolução
natural da obra do artista, tomando como parâmetro os seus melhores
álbuns.
Songs of Leonard Cohen, 1968
O disco de estréia do bardo,
produzido por John Simon e repleto de folk ultra-romântico que já
foi definido como a melhor trilha sonora para um suicídio. Da primeira
faixa ("Suzanne") até a última ("One of Us Cannot be Wrong")
a sensação é de isolação e desespero.
Não foi por acaso o que diretor Robert Altman utilizou várias
faixas do álbum na trilha de "Quando os Homens são Homens",
de 1971. A capa do álbum revela um artista com expressão
grave numa foto feita pelo próprio cantor e os versos "And you want
to travel with him / And you want to travel blind / And you think maybe
you’ll trust him for he’s touched your perfect body with his mind" ("Suzanne"),
denunciam a paixão de Cohen por uma mulher casada, uma Suzanne real.
O lirismo amoroso manifestava-se também em "Hey, That’s No Way to
Say Goodbye" e "So Long, Marianne" escrita para a namorada Marianne Jenson.
"Songs..." é o disco mais importante de Cohen e da vertente melancólica
da música pop.
Sucessos: "Suzanne", "Hey That’s
no Way to Say Goodbye" e "So Long Marianne"
Melhores faixas: "Suzanne", "Sisters
of Mercy", "Stories of the Street", e "So Long, Marianne"
Pior faixa: nenhuma.
Preferida: "Suzanne".
Nota: 10
Songs From A Room, 1968
Produzido por Bob Johnston, mantém
a atmosfera do anterior. "Bird On The Wire", a primeira faixa, é
canção obrigatória nas apresentações
de Cohen e versa sobre a liberdade: "Like a bird on the wire / I have try
in my way to be free". Em seguida, a narrativa "bíblica" de "Story
of Isaac", em que Cohen condena os sacrifícios desnecessários
cometidos em nome da vaidade e pede o fim da imolação de
uma geração de crianças. "The Partisan", a única
não assinada pelo compositor, composta em 1944 por Anna Marly e
Hy Zaret, narra a história de um combatente da segunda guerra, que
perdeu esposa e filhos e deseja livrar-se de todo o passado e alcançar
as fronteiras da prisão, o campo de batalha.
Sucesso: "Bird on the Wire”
Melhores faixas: "Story of Isaac",
"A Bunch of Lonesome Heroes", "The Partisan",
"Seems so Long Ago, Nancy", "Bird
on the Wire"
Pior faixa: nenhuma
Preferida: "Story of Isaac".
Nota: 9
Songs Of Love And Hate, 1970
Com um álbum muito triste,
Cohen encerra uma espécie de trilogia iniciada com o primeiro álbum.
"Avalanche" cobre o ouvinte de uma tristeza profunda; "Last Year’s Man"
narra o encontro de um jovem com o exército de Joana D’Arc, onde
é bem recebido. "Famous Blue Raincoat" é uma das melhores
composições de Cohen, confessional à maneira de uma
carta: "It’s four in the mourning, the end of December / I’m writing you
now just to see if you’re better / New York is cold but I like where I’m
living / There’s music on Clinton Street all thru the evening. / I hear
that you’re building your little house deep in the desert / You’re living
for nothing now / I hope you’re keeping some kind of record / Yes and Jane
came by with a lock of your hair / She said that you gave it to her / That
night that you planned to go clear / Did you ever go clear?".
Sucesso: nenhum
Melhores faixas: "Avalanche", "Last
Year’s Man", "Love Calls You By Your Name", "Famous Blue Raincoat",
"Joan of Arc"
Pior faixa: nenhuma
Preferida: "Famous Blue Raincoat".
Nota: 9
Live Songs, 1973
Primeiro registro ao vivo lançado
comercialmente por Cohen. Foi gravado entre 1970 e 1972 em Paris, Londres,
Berlim e Bruxelas. Apesar gravação ser precária, há
belíssimas versões de "Bird on the Wire", com introdução
em francês, "Story of Issac" e "Nancy" (nova versão de "Seems
So Long Ago, Nancy"). Nesse tempo, o compositor já vivia em Hydra,
ilha grega, onde residiu por alguns anos.
Sucesso: nenhum
Melhores faixas: "Story of Isaac",
"Nancy", "Minute Prologue" e "Bird on the Wire".
Pior faixa: "Please Don’t Pass me
By (A Disgrace)"
Preferida: "Story of Isaac"
Nota: 7
New Skin For The Old Ceremony,
1974
Quebra a tradição dos
títulos do álbum do autor, sempre marcados pelo substantivo
"Songs". É um disco menos taciturno que "Songs of Love and Hate",
e é marcado pela celebração do amor. "Lover Lover
Lover" traz ecos de "So long, Marianne". A capa (a primeira sem foto de
Cohen) reproduz uma cópula de anjos, a "Simbólica Representação
da Conjunção do Espírito, ou o princípio da
união Espiritual do Macho e da Fêmea, do texto da Alquimia"
de 1550.
Sucesso: "Chelsea Hotel # 2"
Melhores faixas: "Chelsea Hotel #
2", "Lover Lover Lover", "Who By Fire", "Field Commander Cohen",
"A Singer Must Die" e "There’s a
War"
Pior faixa: "I Tried to Leave You"
Preferida: "Chelsea Hotel # 2"
Nota: 8
Death Of A Ladies' Man, 1977
Gravado sob a produção
de Phil Spector, conhecido por seus trabalhos com Beatles, Ronettes e Ramones.
Spector é parceiro de Cohen em todas as canções, o
que imprimiu ao disco uma sonoridade lounge, por vezes country, um pouco
distanciada do formato folk. Os motes são relacionamentos e desencontros,
como em "I Left A Woman Waiting" e "Memories". Bob Dylan participa dos
vocais de "Don’t Go Home With Your Hard-On". Nesse disco, Cohen pretendia
destruir a imagem de poeta triste e só (já na capa, Cohen
está ao lado de duas mulheres numa mesa de bar). Tudo soa bem. É
um disco que Lambchop,
Tindersticks e o Smog desejariam fazer, mas ainda não beberam o
suficiente para tal.
Sucesso: nenhum
Melhores faixas: "True Love Leaves
no Traces", "Iodine", "Memories",
"I Left a Woman Waiting" e "Don’t
Go Home With Your Hard-On"
Pior faixa: nenhuma
Preferida: "I Left A Woman Waiting"
Nota: 9
Recent Songs, 1979
Cohen, sem a companhia de Spector
(o disco foi produzido por Henry Levy), retoma algumas características
dos quatro primeiros discos (exceção de "Humbled in Love"
e "Came So Far For Beauty"). Aqui o bardo surge mais seguro, mas não
menos avassalador. A capa é um belo retrato pintado por Dianne Lawrence.
A partir desse disco, a produção do artista torna-se lenta,
marcada por longos hiatos.
Sucesso: nenhum
Melhores faixas: "The Guests", "Humbled
In Love", "Gypsy’s Wife", "The Window"
"Came So Far For Beauty", "The Traitor"
e "Ballad of Absent Mare"
Pior faixa: nenhuma
Preferida: "The Lost Canadian (Un
Canadien Errant)"
Nota: 8
Various Positions, 1985
Primeiro disco após um jejum
de seis anos, tempo em que Cohen dirigiu, roteirizou e compôs a trilha
do curta-metragem "I am a Hotel". "Various Positions" é o primeiro
lançamento de Cohen nos anos 80 e peca na "modernização"
do instrumental, quase sempre em arranjos equivocados. As letras continuam
dilacerantes como em "Dance Me To The End Of Love" (apesar dos horríveis
vocais de apoio), "Come Back To You", "Hallelujah" (melhor na versão
de Jeff Buckley), "Heart With No Companion" e "If it Be Your Will".
Sucesso: nenhum
Melhores faixas: "Heart With No Companion",
"If it Be Your Will", "Dance Me To The End Of Love" e "Hallelujah"
Pior faixa: "The Captain"
Preferida: "Heart With No Companion"
Nota: 5
I'm Your Man, 1988
É o segundo e último
disco de Cohen na década de 80. A sonoridade do álbum é
uma evolução natural do anterior. A utilização
de teclados, sintetizadores e bateria eletrônica são coerentes
com as composiões (o que não aconteceu em "Various Positions").
É um disco cruel e irônico. A voz, muito mais grave do que
o costume, cospe algumas farpas em "First We Take Manhattan": "You loved
me as a loser / but now you worried that just might win/ You know the way
to stop me / but you don’t have the discipline. / How many nights I pray
for this: / to let my work begin". Em "Everybody Knows", o fim do amor
é desacreditado enquanto "Ain’t No Cure For Love" e a faixa título
evocam lirismo cínico e cafajeste: "If you want a boxer. I will
step into the ring for you / And if you want a doctor, I'll examine every
inch of you. / If you want a driver, climb inside. / Or if you want to
take me for a ride, / you know you can. I’m your man". A bela "Take This
Waltz" é o poema "Pequena Valsa Vienense" de Federico Garcia Lorca
(do livro "O poeta em Nova Iorque") magistralmente musicado. O grande momento
do álbum, porém, é "Tower Of Song", uma das canções
mais pessoais de Cohen: "Well, my friends are gone and my hair is grey.
/ I ache in the places where I used to play. / And I crazy for love but
I’m not coming on. / I’m just paying my rent everyday in The Tower Of Song."
A capa mostra Cohen, na época 55 anos, comendo banana, situação
repetida pelos seus fãs ilustres (Pixies, Nick Cave, R.E.M., entre
outros) no encarte do disco tributo "I'm Your Fan" de 1992.
Sucesso: "First We Take Manhattan"
e "I'm Your Man"
Melhores faixas: "First We Take Manhattan",
"Take This Waltz" e "Tower of Song"
Pior faixa: "Jazz Police"
Preferida: "Tower of Song"
Nota: 8
The Future, 1992
O único disco de inéditas
de Cohen na década de 90 é consistente e bem gravado. As
letras falam sobre violência ("The Future"), sordidez sentimental
("Waiting For The Miracle"), fim de farras ("Closing Time") e liberdade
("Anthem" e "Democracy"). As faixas "The Future" e "Waiting For The Miracle"
foram incluídas na trilha sonora do filme "Assassinos Por Natureza",
de Oliver Stone. O álbum teve vários produtores, e o inusitado
foi a contribuição da atriz Rebecca de Mornay, naquele tempo
esposa do cantor, na produção e arranjo de algumas faixas.
Sucesso: "The Future" e "Waiting For
The Miracle"
Melhores faixas: "Waiting For The
Miracle", "The Future" e "Closing Time"
Pior faixa: "Light As The Breeze"
Preferida: "Closing Time"
Nota: 8
Cohen Live – Leonard Cohen in
Concert, 1994,
Segundo álbum ao vivo de Cohen,
registra apresentações entre 1988 e 1993 em Toronto, Vancouver,
Austin, San Sebastian e Amsterdã. A músicas assinalam as
várias fases do artista, de "Suzanne", do primeiro álbum,
até "Everybody Knows" de "I'm Your Man".
Sucesso: nenhum
Melhores faixas: "Everybody Knows",
"There is a War", "Sisters of Mercy" e "Who By Fire"
Pior faixa: a fraca versão
de "Bird on The Wire"
Preferida: "Everybody Knows"
Nota: 7
Field Commander Cohen: Tour Of
1979, 2000
O melhor disco ao vivo de Leonard
Cohen é o registro dos melhores momentos da turnê do álbum
"Recent Songs" em 1979. Respeita os arranjos originais das canções
e confirma a perenidade das composições de Cohen.
Sucesso: nenhum
Melhores faixas: "Field Commander
Cohen", "The Window", "The Stranger Song" e "The Guests"
Pior faixa: a mutilação
sofrida em "Memories"
Preferida: "The Stranger Song"
Nota: 8
Ten New Songs, 2001
"Ten
New Songs" é o primeiro álbum com músicas inéditas
em nove anos. Nesse tempo silencioso, o cantor passou por longos períodos
de meditação e reclusão entre monges budistas num
mosteiro na Califórnia. O álbum não difere muito de
"The Future", equilibrando folk e soul intimistas. O que surpreende é
que suas meditações não o elevaram ao nirvana espiritual.
Suas composições (contribuição com Sharon Robinson,
a mulher que está ao seu lado na capa) estão ainda mordazes,
e os melhores exemplos são "In My Secret Life": "I bite my
lip / I buy what I'm told / From the latest hit / to the wisdom of
old / But I'm always alone / and my heart is like ice / and it's crowded
and cold" e "A Thousand Kisses Deep": "Confined to sex, we pressed against
/ The limits of the sea: / I saw there were no oceans left / For
scavengers like me. / I made it to the forward deck / I blessed our
remnant fleet - / And then consented to be wrecked, / A thousand kisses
deep."
Sucesso: "In My Secret Life"
Melhores faixas: "In My Secret Life",
"A Thousand Kisses Deep", "Alexandra Leaving"
Pior faixa: "Love Itself"
Preferida: "A Thousand Kisses Dee"
Nota: 8
Obs - Duas coletâneas compilam
algumas das preciosidades do bardo. "The Best Of Leonard Cohen", 1975,
é a primeira, surgindo como uma síntese dos momentos mais
bem sucedidos do artista. Se musicalmente não traz nenhuma novidade,
o destaque é Cohen conta, no encarte, as circunstâncias em
que compôs as canções. Em algumas edições
européias, o álbum recebe o nome de Greatest Hits. "More
Best Of", 1997, compila músicas de "I'm Your Man", "The Future"
e "Cohen Live". É menos didática do que a primeira coletânea
e despreza o conteúdo de "Various Positions" – lembrado apenas pelas
belas versões ao vivo de "Dance Me To The End Of Love" e "Hallelujah",
no entanto, traz duas boas canções inéditas: "Never
Any Good" e "The Great Event".
No setor tributos, dois títulos
se destacam: "I'm Your Fan" que traz R.E.M., Pixies, James, John Cale,
Ian McCulloch (Ian também gravou "Lover Lover Lover" em seu segundo
álbum solo, "Mysterio") e Nick Cave (que também gravou "Avalanche"
em sua estréia, "From Her To Eternity").
1. First We Take Manhattan - R.E.M.
2. Hey, That's No Way to Say Goodbye
- Ian McCulloch
3. I Can't Forget - Pixies
4. Stories of the Street - That Petrol
Emotion
5. Bird on a Wire - The Lilac Time
6. Suzanne - Geoffrey Oryema
7. So Long, Marianne - James
8. Avalanche IV - Jean-Louis Murat
9. Don't Go Home With Your Hard-On
- David McComb
10. Who by Fire - The House
of Love
11. Chelsea Hotel - Lloyd Cole
12. Tower of Song - Nick Cave &
the Bad Seeds
13. Take This Longing - Peter Astor
14. True Love Leaves No Traces -
Dead Famous People
15. I'm Your Man - Bill Pritchard
16. Singer Must Die - Fatima Mansions
17. Hallelujah - John Cale
Outro título interessante é
"Tower of Songs" que traz Bono do U2, Sting, Tori Amos, Elton John e Suzanne
Vega.
1. Everybody Knows - Don Henley
2. Coming Back to You - Trisha Yearwood
3. Sisters Of Mercy - Sting &
The Chieftains
4. Halleluiah - Bono
5. Famous Blue Raincoat - Tori Amos
6. Ain't No Cure For Love - Aaron
Neville
7. I'm Your Man - Elton John
8. Bird On A Wire - Willie
Nelson
9. Suzanne - Peter Gabriel
10. Light As The Breeze - Billy Joel
11. If It Be Your Will - Jann Arden
12. Story Of Issac - Suzanne Vega
13. Coming Back To You - Martin Gore
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