"Growers of Mushroom", do Leaf Hound
por
Wagner Xavier
Wagner2505@yahoo.com.br
11/06/2005
Se a santíssima trindade do hard rock mundial é amplamente conhecida e alardeada por todos (Deep Purple, Black Sabbath e Led Zeppelin), nada como descobrir seus filhos naturais e esquecidos. Se esta analogia realmente fosse levada a sério, poderíamos afirmar que o Leaf Hound estaria entre os filhos mais verdadeiros do mais famoso e festejado dos três, o mundialmente conhecido Led Zeppelin.
Formado nos idos de 70 em Londres, o Leaf Hound lançou apenas um álbum, que simplesmente assombra pela qualidade, impacto, excelente execução e canções que beiram a perfeição e nos chocam por saber que bandas inferiores conseguiram êxito enquanto o Leaf Hound praticamente nada conseguiu em sua época.
Formada pelos irmãos Derek e Stuart Brooks na guitarra e baixo, Mick Halls na outra guitarra, Keith G. Young na bateria e pelo excelente vocalista Peter French, o Leaf Hound praticamente nasceu do legendário Black Cat Bones, banda de blues rock do final dos sixties onde tocaram os irmãos Brooks com o recém falecido Rod Price, do Foghat, lançando em 1969 o excelente álbum Barbed Wire Sandwich, e também do Brunning Sunflower Blues Band de Peter French e Mich Halls, que resultou no disco Bullen Street Blues, em 1968.
Já como Leaf Hound, o quinteto lançou a obra prima Growers of Mushroom, gravado em 1971 pela Decca Records em apenas um dia (na verdade uma sessão de 11 horas de estúdio) e praticamente esquecido por mais de 20 anos, mas que ainda surpreende pela força e nos remete imediatamente a bandas como o já citado Led Zeppelin, e em alguns momentos mais leves e blues ao fundamental Free de Paul Rodgers, ou mesmo ao Deep Purple de Ritchie Blackmore e Ian Gillan.
O álbum inicia com Freelance Fiend (3’09) e já nos remete a atmosfera dos dois primeiros álbuns da banda de James Patrick Page e Robert Plant, talvez mais próxima de Good Times Bad Times. Um andamento pesado, com destaque para a voz de French. O início é promissor...
Na seqüência, a bela Sad Road to the Sea (4’14) tem uma levada mais acústica, é linda de morrer, e destaca um belo solo de guitarra de Brooks. A terceira faixa é Drowned My Life in Fear (2’58), também de primeira linha. O vocal é muito parecido ao de Robert Plant, mas French também tem seu estilo próprio. Além de ser muito bem executada.
A longa Work My Body com seus 8’09s é a suíte do disco, um rockão com levada bem blues no melhor estilo do inicio dos anos 70. De extrema beleza, com destaque para o baixo swingado e longos solos de guitarra, a faixa é um clássico absoluto. Stray (3’45), a próxima, é pura Whole Lotta Love. Fantástica. Incrível como isto é bom de ser ouvido. Certamente, na época deve ter rolado aquela coisa de imitação, influência, mas 35 anos depois isto é absolutamente irrelevante, e além do mais isto sempre aconteceu em todos grandes momentos da música.
A sexta faixa é With a Minute To Go (4’16), a grande balada do disco. Possui um belo andamento, vocal emocionado, linha de baixo muito interessante e violões ao fundo. A melhor de todas. A faixa título é curtinha (2’16), mas é bem interessante. Talvez a mais levezinha do disco. Não chega a cortar o barato, mas dá pra dar uma respirada durante sua execução. Para variar um pouco, esta música chega a lembrar um pouco os bons momentos do The Who no clássico Who’s Next, do mesmo ano.
Já em Stagnant Pool (3’57) o hard rock volta a toda. Mistura de Led com Deep Purple da fase In Rock, a faixa é daquelas arrasa quarteirão, guitarra solando o tempo todo, baixo com grande destaque e uma bateria pra lá de eficiente. Que sonzeira dos bons tempos. Para finalizar o disco, Sawdust Ceasar (4’26), também um gostoso hard rock mantendo o nível. Um primor.
Após o lançamento do álbum na Inglaterra, e de um relativo sucesso em seus shows, Growers of Mushroom foi editado também na Alemanha pelo selo Telefunken, porém acabou não alcançado o sucesso esperado e a banda dispersou-se.
Com o fim prematuro, Peter French seguiu para o Atomic Rooster, alcançando então muito sucesso com o estupendo In Hearing Of. Logo depois ele ainda participaria do excelente Cactus, dos ex-Fanilla Fudge Carmine Appice e Tim Boggert (porém isto é outra história...).
Growers of Mushroom felizmente voltou a tona com o advento do CD. A Repeitore lançou o CD em 1994, com encarte e também com duas faixas extras (as ótimas It’s Going to Get Better – lançado em single na Alemanha em 71 – e a inédita Hip Shaker).
Apesar de difícil, é também possível adquirir uma reedição em LP com capa dura, dupla, encarte, pôster gigante e bônus extras (da maravilhosa Akarma) – um luxo (eu já peguei o meu.). Simplesmente covardia. Enfim, o Leaf Hound é outra grande banda dos bons e velhos tempos que infelizmente não se consagrou, mas ainda sim criou uma obra prima que hoje, apenas das fortes referencias de Led Zeppelin, não nos deixa dúvida de sua excepcional qualidade.
Daqui a 20 anos é bem provável que também poderemos nos lembrar do Radiohead ou dos Strokes de hoje em dia, e todos seus “filhos”, separar os naturais dos bastardos, entender que o sucesso ou o prestígio nem sempre é oferecido aos melhores, e que nem todos conseguem um lugar ao sol, mesmo que mereçam. Enfim, que a vida nem sempre é justa como gostaríamos. Porém, se a justiça tarda, ela não falha: Growers of Mushroom, do Leaf Hound, uma obra prima dos bons tempos.
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