ROCK RARO
Le Stelle di Mario Schifano
por
Wagner Xavier
Wagner2505@yahoo.com.br
30/05/2003
Separei para hoje uma daquelas raridades
que nos surpreendem mesmo no mundo de hoje, tal sua originalidade, criatividade
e modernidade.
Para conhecê-la viajaremos até
a Itália dos anos 60, mais especificamente 1967. Enquanto o multímídia
Andy Warhol criava o maravilhoso Velvet Underground, cujas melodias e harmonias
e tornaram-se pérolas músicais até os dias de hoje
(mesmo que não tenham tido o merecedido sucesso em sua época),
o pintor e escultor italiano Mario Schifano projetou sua idéias
artísticas com o nascimento da banda Le Stelle di Mario Schifano
(as estrelas de Mario Schifano).
A banda era formada por quatro músicos
totalmente desconhecidos e que faziam de seu som as idéias de seu
criador. Nello Marini (teclado), Urbano Orlandi (guitarra), Giandomenico
Crescentini (baixo) e Sergio Cerra (bateria) começaram suas atividades
musicais em pequenos clubes de Roma, como o famoso Piper Club, e depois
se mudaram para Turim onde gravaram seu primeiro e único album.
Apesar da formação básica,
a banda contou durante a gravação com a cantora Francesca
Camerana, além de outros músicos para as flautas, citara
e percussão.
Com o nome de "Dedicato A...",
o disco é totalmente psicodélico, mas extremamente diferente
de coisas como KAK, Love, The Doors, Jefferson Airplane ou outras grandes
bandas clássicas da época. O lado um do vinil contém
apenas uma faixa, a simplesmente caótica "Le Ultime Parole Di Brandimarte"
(As últimas palavras de Brandimarte). Montada com colagens totalmente
improvisadas, solos de guitarras e barulhos surrealistas, mesmo para os
dias de hoje, a faixa completa todo o primeiro lado (algo raro na época).
Já o segundo lado é
mais normal (coisa fácil). Contém cinco faixas que mostram
a grande habilidade de seus músicos. Abre com "Molto Alto", canção
de uma bela textura e grande densidade. Em seguida, "Susan Song" surge
com um som bem mais pop, incluindo um arranjo delicioso de teclado e flauta.
Cantada em italiano, é de uma beleza sem igual, beirando a perfeição
do mais competente pop da época. A terceira faixa, "E dopo", é
a mais comum do disco (sem deixar de ser bem legal também).
"Intervallo", a faixa seguinte, é
a mais psicodélica deste lado. A bateria bastante barulhenta e o
eco com muitas vozes ao fundo transformam a canção deixando-a
caótica ao extremo. Finalizando o album, "Molto Lontano (A Colori)",
que segue o ritmo das outras, com vocal pouco intelegível, flautas
e uma guitarra de extrema beleza. Um sonzão...
O nome, "Dedicato A...", é
complementado (no belíssimo encarte) com o nome de alguns dos seus
vários ídolos pop, como Keith Richards, Che Guevara, Eric
Clapton, The Beatles, Bob Dylan, Mick Jagger, Brian Jones, Jean Luc Godard,
Allen Ginsberg, Frank Zappa, Elvis, Pier Paulo Passolini, Fellini, Antonioni
e evidentemente a Andy Warhol, Nico, Velvet Underground e tantos outros.
(É, Che também era um idolo pop na Italía de 1967)...
O disco foi lançado originalmente
com apenas 500 cópias, sendo que algumas delas com o vinil vermelho,
e passou totalmente despercebido na época. Após o álbum,
contrariando a previsão de Mario de que a banda teria uma grande
carreira, ela simplesmente acabou.
O material gráfico foi totalmente
desenvolvido por Mario Schifano. A capa é rosa escuro com estrelas
prateadas e o encarte tem fotografias retocadas pelo artista e com uma
foto, que ocupa duas páginas, do grupo tocando ao vivo. (um show
de edição, em vinil, é claro)...
Esse disco, foi recentemente relançado
em edição luxuosa, com livreto com informações
da banda e fotos de rara beleza.
Para quem gosta de sons diferentes,
psicodelismo a toda prova, o Mario la Stelle é um delicioso disco
onde este ambiente pode ser degustado como grande prazer. O incrível
do album é a sua modernidade, mesmo que gravado a mais de 30 anos
atrás...
Um discão para a coleção
dos apreciadores dos melhores momentos do psicodelismo mundial dos anos
60...
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