Grobschnitt
por Wagner Xavier
Wagner2505@yahoo.com.br
15/11/2005

Escolhemos relembrar para este mês uma das maiores bandas alemãs de todos os tempos. Apesar de pouco conhecida por estes lados, o Grobschinitt foi capaz de criar - com sua originalidade, senso de humor e extrema competência - uma discografia para lá de essencial para quem curte o rock dos seventies, principalmente no quesito chamado rock progressivo.

O Grobschinnit nasceu em 1970 e sua formação consistia nos seguintes músicos: Joachim Ehrig (Eroc) bateria, Stefan Danielak (Wildschwein) guitarra e vocal, Gerd-Otto Huhn (Lupo) guitarra, Volker Kerhs (Mist) teclados e Wolfgang Jager (Pepe) no baixo. Era um grupo que fazia uma música de excelente qualidade aliada a letras bem humoradas. Os shows eram extremamente teatrais, no melhor estilo mambembe, que, segundo relatos, duravam cerca de 4 horas. Além da música, personagens pintados, engolidores de fogo, shows pirotécnicos dos mais diversos.

A estréia da banda no mundo fonográfico se deu em 1972, através de um ótimo álbum homônimo (conhecido como "o disco da faca") lançado pelo excelente selo Brain. Grobschinnit contém a épica Symphony, que com seus 13m44s já demonstra a personalidade marcante da banda. Symphony toma praticamente todo o lado A do vinil e é uma suíte composta pelos sub-títulos Introduction, Modulation, Variation e Finale. Uma obra prima. O lado A ainda traz a faixa Travelling, com 6m50s de puro rock progressivo. Assim como o lado A, o lado B é composto por apenas duas faixas, a literal Wonderful Music (3m40s) e a suíte Sun Trip, com 14m34s divididos em sub-títulos. Apesar da excepcional estréia o disco não faz muito sucesso e a banda acabou encerrando suas atividades.

Dois anos depois, a banda retornou com a mesma formação, mas já assumindo os apelidos, para criarem o também muito bom álbum Ballerman. O disco, duplo, se caracteriza por longas faixas e conseguiu apresentar a banda a um publico maior. Novamente o tom teatral e as letras bem humoradas (cantadas em inglês) são o ponto alto. O terceiro disco é o excepcional Jumbo, cuja capa "do aviãozinho" é muito bacana. Jumbo foi lançado em 1975 com as músicas cantadas em inglês. No ano seguinte foi relançado com as mesmas canções, porém na sua versão alemã. Uma versão em CD foi lançada pela Repertoire em 1998 numa edição bem legal e contendo os dois vinis num único CD. (Aliás, continuo procurando por uma destas duas edições em vinil para completar a coleção básica desta banda neste formato).

Apesar dos excelentes primeiros discos, somente em 1977 o Grobschinnit lançou sua obra máxima. Rockpommel's Land é um daqueles discos que emocionam do começo ao fim. O álbum fez um grande sucesso na Alemanha, tendo alcançado a marca de 100 mil cópias vendidas, o que colocou o Grobschinnit ao lado de nomes respeitados no país como Kraftwerk, Jane, Novalis, Birth Control e tantas outras. Diferente de hoje em dia, a Alemanha nos ofertou grandes nomes nesta época. A capa desta obra prima - se olhada por algum desavisado - pode ser confundida com algum disco do Yes, pois o material gráfico é literalmente "chupado" do artista gráfico da banda inglesa e craque na criação das melhores capas de álbuns de rock, Roger Dean. A música, porém, apesar de classificada como progressiva, é bem diferente.

Rockpommel's Land é sem dúvida um dos grandes discos do estilo na época. Faixas como Ernie's Reise e a faixa título - com seus 19m54s - que o digam. Sua execução beira a perfeição.Um dos meus preferidos desde sempre. A versão em CD ainda traz uma faixa bônus, Tontillon. Após o sucesso e o grande disco, a banda, como não poderia deixar de ser, saiu em uma turnê vitoriosa, que resultou um esperado álbum ao vivo. Solar Music Live, de 1978, traz faixas dos discos anteriores e mostra o quanto o Grobschinnit era bom de palco. Um discão. É possível encontrar o DVD deste show em lojas especializadas do ramo.

Após esta fase de imenso sucesso, e com as mudanças culturais e musicais (entre o básico punk e a medonha disco music) em todo o mundo, o estilo do Grobschnitt entrou em conflito ao buscar uma sonoridade mais popular, fazendo com que a banda perdesse a inspiração dos primeiros anos. Ainda assim, a banda lançou em 1979 o bom Merry-Go-Round, porém já sem o mesmo brilho, inclusive com algumas mudanças em sua formação clássica.

Nos discos seguintes, a banda já ficou centrada basicamente em um público mais reduzido e específico, tendo lançado álbuns até 1990, sendo o último deles o razoável Last Party. Para conseguir estes discos nas versões em vinil é um tanto difícil. Requer paciência e procura (e também certa vontade de desembolsar alguma graninha substancial), porém as versões digitais podem nos satisfazer, visto que todos os álbuns foram lançados em versão digital, sempre com faixas bônus e livretos informativos. A versão em CD de Jumbo, inclusive, reúne as versões em vinil em alemão e inglês.

Para aqueles que não conhecem, recomendamos sem medo qualquer um dos seis primeiros álbuns, logicamente com maiores indicações para Jumbo e principalmente Rockpomells Land. Como ponto a ressaltar, a música e atitude do Grobschinitt é muito mais ampla do que sua classificação progressiva, que para nós brasileiros difere um pouco do conceito europeu da época. Para os europeus, o progressivo era algo conceitual e com estética diferente do rock psicodélico e rock mais pesado. Ouvindo algum destes álbuns percebermos a diferença do Grobschnitt para qualquer outra banda. Eles não lembram absolutamente ninguém. A originalidade, competência e criatividade sempre foram o ponto alto da banda. Procure.


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