Freedom
por
Wagner Xavier
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06/04/2006
O final dos anos 60 foi uma época mágica e pródiga em termos de bandas de rock, principalmente na Inglaterra e Estados Unidos. Isto talvez explique o motivo de tantas bandas terem criado obras maravilhosas e somente hoje terem estas edições em CD para que sejam devidamente apresentadas para novas gerações. O Freedom está neste seleto grupo, e embora não esteja entre as chamadas bandas escondidas ou underground do rock and roll, foi responsável por um dos melhores álbuns do final dos anos 60, At Last.
A origem da banda remonta do ótimo Procol Harum de Gary Brooker, conhecido pelo mega-hit progressivo A Whiter Shade of Pale, que foi lançado em 1967 e trazia em sua formação o baterista e vocalista Bobby Harrison e o guitarrista Ray Royer. Estes dois músicos se juntaram ao tecladista Wike Lease e ao baixista Steve Shirley para formarem a primeira formação do Freedom.
A estréia fonográfica do quarteto aconteceu com o álbum Black on White, uma trilha sonora de um filme italiano do diretor Dyno de Laurentis. Apesar do estilo ser muito próximo ao psicodelismo da época, a banda não ficou muito feliz com o resultado final. Após indas e vindas, no inicio de 1969, embalados pela onda dos power-trios como Cream e Jimi Hendrix Experience, e fortemente influenciados pelo blues rock do Led Zeppelin, Harrison se junta ao guitarrista Roger Saunders e ao baixista Walter Monaghan para formar a segunda versão do Freedom, responsável pela fama do grupo.
Lançado em 1969, At Last, o segundo disco do Freedom - e primeiro com esta formação - é algo de primeira linha em termos de rock and roll. O disco abre com Enchanted Wood (3m02s), e já mostra a pegada da banda destacando o vocal com grande qualidade de Harrison, baixo no melhor estilo e guitarra a todo momento. Uma maravilha de música. A próxima é um blues de Howlin Wolf chamado Deep Down in The Bottom (4m30s), aqui totalmente revisitado no melhor estilo zeppeliniano. Novamente a banda demonstra a garra que lhe era peculiar.
Have Love Will Travel (2m55s) é mais popzinha, porém destaca uma pegada bem legal. A próxima faixa é de matar. Trata-se de uma versão estupenda da balada Cry Baby Cry (3m40s), dos Beatles (contida no Álbum Branco, de 1968). Vale ouvir para perceber a diferença do vocal de Harrison. Se no Álbum Branco, Cry Baby Cry está “perdida” entre as 30 músicas do disco duplo, em At Last o Freedom conseguiu criar um clima de grande destaque e fortes emoções.
Para aumentar a emoção, o Freedom ainda teve inspiração para recriar outro clássico e transformá-lo em algo mais forte que sua versão original. Trata-se da linda Time of The Season (4m55s), música retirada do clássico absoluto Oracle and Odessey, lançado um ano antes pela banda The Zombies. Atenção especial para os solos da guitarra e para o acompanhamento do baixo. Na seqüência temos novamente o blues dando a tônica do disco. Primeiro Hoo Doo Man (4m25s), e na seqüência um clássico de Willie Dixon, a regravadíssima Built for Comfort (4m20s).
Fly (2m45s), a próxima, é muito interessante, bem no estilo em voga na época. Na seqüência surge Never Loved a Girl (4m50s) de Dell Shanon, uma beleza de balada com destaque novamente para o belo vocal de Harrison. A décima faixa é My Life (2m45s), cantada numa levada incrivelmente parecida com ninguém menos que David Bowie em discos como Hunky Dory ou Ziggy Stardust. Será que nosso herói antes da glória ouvia o Freedom?
Nesta altura, At Last já venceu a prova da qualidade, mas ainda não acabou. Can’t Stay (4m20s) encaminha o álbum para o final com um refrão que, sinceramente, emociona. Para encerrar, Dusty Track (3m45s), que deixa uma vontade de começar tudo de novo. Esta música é quase uma I’m Down...
Infelizmente, assim como no primeiro álbum, o Freedom passou quase que despercebido. Certamente a falta de um bom empresário e de investimento na carreira fizeram a diferença. É certo que a banda não possa ser considerada como um marco de criatividade como Beatles, Love ou Cream ou mesmo outros nomes de menor vulto, mas um álbum vomo At Last merece um melhor reconhecimento.
Após o lançamento deste disco, o Freedom excursionou pelos Estados Unidos, abrindo shows para bandas como Jethro Tull, Black Sabbath e Curved Air (este último, diga-se de passagem, era bem mais fraquinho que eles). Em 1970 é lançado o homônimo Freedom, novamente um discão desde a faixa de abertura, Nobody, até a última, Frustred Woman, que demonstra uma banda passando pelo teste do terceiro álbum com classe centrando foco no repertório essencialmente próprio.
Through the Years, quarto disco do grupo, já exibe a desilusão pelos trabalhos anteriores não acontecerem da forma que esperavam. Apesar de interessante, Through the Years não demonstra a mesma força dos dois álbuns anteriores. Contando com apenas seis faixas, o disco é o epitáfio da banda, que encerra suas atividades em 1972. Após o fim, todos os músicos partiram para trabalhos diversos, porém nada de grande destaque qualitativo quanto o Freedom. Bobby Harrison criou a banda Snafu com o futuro Whitesnake Micky Moody, Roger Saunders passou a trabalhar como compositor para várias bandas, inclusive se juntando a banda do músico Gary Glitter. No inicio de 2000, acometido por um câncer, Roger Saunders veio a falecer.
Os discos em vinil do Freedom são difíceis de serem encontrados. Through the Years chegou a ter uma edição nacional na época, mas hoje é bem difícil de encontrá-lo. Quanto aos CDs, em 2000 a gravadora Angel Air relançou uma edição dupla, contendo o ótimo At Last e o bom Through the Years. Se bem procurado é possível ainda encontrá-los. O Freedom (homônimo) também teve edição caprichada com livreto informativo também pela Angel Air.
Vale ressaltar que o Freedom nada tem a ver com a ótima banda
Free de Paul Rodgers (hoje no Queen... muito estranho...) e Paul
Kossof, que em 1972 também gravou um disco chamado At Last.
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