Fotheringay
por Wagner Xavier
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06/06/2006

O folk rock inglês têm suas estrelas. Uma das cantoras mais celebradas da cena folk britânica é a simplesmente genial, e um tanto esquecida nos dias de hoje, Sandy Denny, que ganhou respeito com o grupo Fairport Convention, e no auge da fama abandonou o grupo para gravar um dos discos mais esquecidos de uma das bandas mais esquecidas de todos os tempos: Fotheringay, álbum que carregava o nome da banda homônima em 1970.

Falar de folk inglês sem falar em Sandy Denny ou Fairport Convention é como ir a Roma e não conhecer o Papa. Juntamente com Spyrogira (do folk e não o grupo de jazz), Lindsfarne, The Pentagle, Florest ou Steeleye Spain, o Fairport Convention ajudou a desenvolver o estilo nas ilhas da Rainha Elizabeth. Antes de integrar o grupo, Sandy Denny – que cantava desde o início da década de 60 – gravou com a banda Strawbs, que mais tarde se enveredou pelo rock progressivo, onde teve também em seu cast músicos do calibre do genial Rick Wakeman.

A aproximação da cantora com o Fairport Convention aconteceu em 1968. Na época, o Fairport era considerado um dos maiores expoentes da folk music, contando com Richard Tompson, Dave Pegg, Simon Nicol, Dave Swarbrick e Trevor Lucas, que gravaram discos como What We Did on Our Holydays, Unfalfbricking (que traz uma versão arrasadora de Percy’s Songs, de Bob Dylan) e Liege and Lief. Estes três álbuns alçaram a carreira de Sandy Denny às nuvens. A mulher cantava muito, compunha demais, tocava vários instrumentos, um talento inesgotável que se chocou com sua personalidade um tanto desequilibrada.

Apesar do sucesso imenso ao lado Faiport Convention, a cantora decidiu – influenciada e apaixonada por Trevor Lucas – abandonar o grupo ao lado do músico no final de 1969 para formar a banda Fotheringay, na companhia de Jerry Donahue na guitarra, Gerry Conway na bateria e Pat Donaldson no baixo, lançando o primeiro disco da banda, homônimo, no ano seguinte.

Fotheringay, o disco, inicia de forma muito bonita com a canção Nothing More, onde a cantora exibe toda a beleza de seu vocal. The Sea, a próxima, também é excelente. Ambas são de autoria da própria Sandy. The Ballad of Ned Kelly é de Trevor Lucas, que a canta, mantendo o nível das duas faixas de abertura. Se seguem as ótimas Winter Winds e Peace in the End. Para o lado B do vinil ficaram separadas as pérolas The Pond and the Stream e Too Much of Nothing (composta por Dylan e gravada por ele e pela The Band no clássico Basement Tapes). Fechando o álbum, uma bela parceria do casal: Back of the Nile. Fotheringay é um grande disco de fok rock, que ainda ganah destaque na beleza da arte gráfica criada para o vinil.

Apesar do ótimo resultado registrado em disco, a vida particular do casal mostra sinais de desgaste. Sandy e Trevor – já casados – vivem uma relação tempestuosa, que incluí envolvimento com álcool e drogas, e pressionados pela gravadora (que não consegue transformar o Fotheringay em uma banda de sucesso com o Fairport Convention) decidem por fim ao grupo. No ano seguinte, Sandy parte para carreira solo com a gravação do bonito álbum The Nort Star Grassman and the Ravens, que não chega a ser um sucesso, e encontra tempo para aceitar um convite do cantor Robert Plant, que apaixonado pela voz e pelo estilo de Sandy, a convida para participar da gravação de uma faixa do álbum Led IV (aquele do velhinho na capa e da canção Stairway to Heaven). Sandy marca presença cantando em Battle of Everymore em um dos álbuns de maior sucesso do Led Zeppelin.

Após algumas andanças, a cantora volta aos braços do Fairport lançando os álbuns Live Convention e Rising for the Moon para novamente sair em 1976. Um ano depois, ela lança o maravilhoso Like na Old Fashioned Waltz, que é seguido por Rendezvous. Em abril de 1978, quase um mês após cair de uma escada durante o período de uma separação de Trevor Lucas (que levou a filha do casal para a Austrália), é diagnosticada uma hemorragia cerebral que a leva ao estado de coma e a morte em 21 de abril, aos 32 anos.

O legado de Sandy Denny é fundamental para se entender e se emocionar com qualidade de uma das vozes femininas mais lindas de todos os tempos. A cantora Natalie Merchant (que tem a voz e estilo muito próximo de Sandy) gravou uma versão de Crazy Man Michael em seu álbum House Carpenter’s Daughter, sem duvida uma grande e justa homenagem. Os principais álbuns do Fairport Convention foram lançados em CD entre 2002 e 2004, contando inclusive com faixas bônus. Também foi lançada a caixa Fairport Unconventional com quatro CDs e muitas faixas inéditas, material raro e demais guloseimas desta banda que até hoje está na ativa, apesar de não contar com sua formação original.

Em 2000 foi lançada a coletânea dupla No More Sad Refrains, abrigando 34 canções da carreira da cantora, porém, o grande item em se tratando de Sandy Denny, no entanto, é a caixa quintupla A Box of Treasures, de 2004, contendo faixas caseiras, gravações com os Strawbs, Fairport Convention e com o Fotheringay (três faixas do álbum e uma inédita retirada das sessões das gravações estão no box) e principalmente da carreira solo. Sem dúvida uma viagem pelo folk inglês. A edição em vinil do Fotheringay é bastante difícil de ser encontrada, mas se você conseguir a sorte grande, não deixe passar, pois terá em mãos o fino do folk. No formato digital existe um versão de 1991 e um lançamento japonês em 2005. Pode ir atrás desta maravilha e .... depois é só curtir.


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