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Curta
o Carnaval que esse pode ser o seu último verão
por
André Forastieri
Acredite
se quiser: eu já adorei carnaval. Adorava mesmo. De detonar
sexta à noite, dormir duas horas, acordar, encher a cara
de novo e sair vestido de mulher – coisa de caipira. Eu ia atrás
do trio elétrico mesmo. Claro que a primeira vez que
vi um trio elétrico de verdade, no interior da Bahia,
cai para trás. Perto do pique da moçada de lá,
meu pique de festeiro era de um amadorismo acachapante. Os baianos
pulavam a tarde inteira atrás dos trios, jantavam um
caldo de mocotó e depois pulavam nos clubes até
o sol nascer.
Foi
um mês no sertão da Bahia, levando vida de rei.
De noite pulava Carnaval. Dia seguinte acordava, piscininha,
cervejinha, videogame e tudo lindo. Descobri um monte de coisa
naquele verão – inclusive a relação entre
Joy Division e frevo elétrico (foi quando eu fiz uma
versão de Love Will Tear Us Apart que tinha um
refrão assim: "O amor, o amor é para gente se
amar, meu bem") .
Depois
aconteceu o que costuma acontecer. A grana mixou, o amor chegou,
comecei a trabalhar, uma coisa levou a outra e aqui estou –
passando o Carnaval em São Paulo. Trabalhando para
caramba. Preocupado com prazos de fechamentos e fotolitos. E
no processo, meu espírito carnavalesco foi sei lá
para onde. Para o mesmo lugar que foram o fricote, o Rock In
Rio 1, o sexo pré-Aids e meu cabelo comprido: para outra
dimensão. Para debaixo da cama.
O
que não quer dizer que você deva fazer o que eu
estou fazendo nessas noites de Carnaval: ficar atirado no sofá,
vendo as celulites balançarem e os entrevistadores babarem
nos decotes das travecas. Quer dizer exatamente o contrário.
Quer dizer que, se eu fosse você, estava me acabando.
Não
que a gente só deva se alucinar no Carnaval. É
que a gente mora em um dos raros lugares no planeta que admira
tanto a avacalhação – que inventou um feriado
para homenagear o esculacho. Detonar no Carnaval tem um sabor
de brasilidade, de elogio ao Brasil, que é bem simpático.
Se
você é daqueles que costuma dizer "odeio Carnaval",
bom, pode continuar odiando. Decidir que definitivamente Carnaval
é uma coisa cretina e deprimente e que a única
medida sensata a se tomar nestes dias de fevereiro é
se esconder do mundo é uma atitude perfeitamente defensável
e elitismo é bom e eu gosto. Mas se passou de leve pela
sua cabeça a possibilidade de sair de casa hoje à
noite, só tenho um conselho: vai firme.
Escrevendo
isso tudo, me ocorreu uma coisa engraçada. Sabe, acho
que aquele verão na Bahia foi o último verão
da minha vida. O último verão propriamente dito,
verão, verão mesmo. O último verão
em que fui adolescente.
André
Forastieri foi editor do caderno Folhateen, da Folha de S. Paulo,
editor da Bizz, e lançou a revista General. Esse texto,
entre outros tantos bacanas, foi escrito na coluna "Musicália",
no Folhateen, anos atrás. Hoje ele é dono da editora
Conrad ( www.conradeditora.com.br )
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