Faixa-a-Faixa
The Sophtware Slump - Grandaddy
por Leonardo Vinhas
leonardo.vinhas@bol.com.br

O Grandaddy são cinco barbudinhos americanos que lançaram dois discos (Under The Western Freeway e The Sophtware Slump) com uma bela coletânea de singles no meio (The Broken Down Comforter Collection). O fanatismo pela boa música aconselha o leitor a ter as três pequenas jóias em casa, mas como dois deles são importados, decidimos lançar luz sobre The Sophtware Slump, um dos melhores álbuns do ano passado que, incrivelmente, ganhou edição nacional, via Sum Records. 

Conceitual, o álbum fala da posição de um nômade em um mundo dominado por uma tecnologia decadente e falha, em cenários ora bucólicos, ora desolados. Vejamos faixa-a-faixa o que o disco apresenta:

 He's simple, he's dumb, he's the pilot 

Começa com uma frase de teclado escudada por sons de aves e pela voz frágil de Jason Lytle, para desembocar em uma melodia à Beach Boys fase Pet Sounds, fechando em uma viagem que lembra os bons momentos psicodélicos do Pink Floyd. Oito minutos e cinqüenta e dois segundos de puro deleite - só para apresentar a obra.

Hewlett's Daughter 

É a que chega mais perto de algo acessível. Com uma letra bem sacada que parodia a empresa Hewlett & Packard (fabricante da impressora HP). A melodia alegrinha é segurada por um baixo de primeira, enquanto o teclado consegue
um efeito retrô com um timbre inédito. Surpreendente.

Jed the humanoid 

Fala sobre um robozinho feito com utensílios de cozinha que é abandonado por seus criadores, entra em depressão, enche a cara e pára de funcionar. A melodia lembra a tristeza de algumas passagens de Up, do R.E.M.

The Crystal Lake 

Uma delícia pop de primeira. Um loop esquisito de um teclado no estilo "meu primeiro Casio" (que remete a outra canção do grupo, Go Progress Chrome) embala uma melodia onde guitarra, baixo e bateria soam com um instrumento só, num crescendo que leva ao refrão etéreo em que a guitarra fala um pouco mais alto. O refrão morre na frase:
and find my way again/I've lost my way again.

Chartsengrafs 

É aqui em que a guitarra realmente fala alto para valer, e até o baixo vem com uma certa distorção. Algo como um hard rock setentão tocado por uma versão lo-fi do Rush em seus primeiros dias.

Underneath the weeping pillow 

Fala da desolação matinal do tal nômade, mas vale para todo mundo que se sente triste de manhã.
Um emulado piano esparso conduz a música, cheia de barulhinhos esquisitos ao fundo.

Broken Household Appliance National Forest 

Um teclado meio new age abre espaço para um refrão que combina space rock e batidas quebradas, com a bateria em evidência e a guitarra pesada (que arrisca um solo à Neil Young). Excelente!
A letra fala de uma floresta onde corujas e sapos habitam em carcaças de eletrodomésticos.

Jed's other poem 

A mesma melodia da 3ª faixa abre brevemente essa canção, 
que logo se revela um space rock na melhor tradição, com um belo falsete de Lytle. 
É a despedida do robozinho Jed, que acorda de ressaca antes de morrer.

E-Knievel interlude 

Breve vinheta (1min 57seg) instrumental, com um tic-tac repetitivo e um teclado discreto. 
Chata. Ainda bem que é a única.

Miner at the Dial-a-view 

Outra faixa que beira a perfeição, bela e evocativa. 
A harmonia remete à Beach Boys (novamente) e, contudo, é uma faixa que define bem o Grandaddy musicalmente. 
Uma guitarra reverberante conduz os versos até o refrão onde a banda toda mostra o que sabe, com um riffzinho discreto e viajante de teclado suportando a melhor performance vocal de Lytle. E uma das pontes da música conta com uma vozinha daquelas de alto-falante de shopping carregada de uma candura infantil. A letra, um achado poético, fala sobre o alguém tentando encontrar seu lugar e seu amor num mundo louco, com esperança no futuro e fé nos sonhos.

 So you'll aim toward the sky 

Ao entrar o vocal, você corre para conferir se não é um disco do Radiohead que começou a tocar. O clima de "OK Computer" permeia essa faixa, que dá a dica de como ouvir esse álbum: 
olhando as estrelas para se esquecer das dores da vida. 
Fim.

Letras

Leonardo Vinhas, 22, não é um grande entusiasta da tecnologia, mas não tem muita vontade de abdicar do CD player e do chuveiro elétrico.


Resenha de "The Sophtware Slump" por Alexandre Petillo