Climax Chicago Blues Band
por Wagner Xavier
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17/01/2006

No final dos anos 60, a efervescente cena musical encontrava inspiração variável nos dois principais continentes do mundo anglo-saxão. Nos EUA, as bandas psicodélicas embaladas pela geração flower power pipocavam por todos os lados. Nomes como Grateful Dead, Love, Moby Grape, Jefferson Airplane, e muitos outros agitavam o cenário. Já na Inglaterra o que ocorria era uma celebração as origens americanas do blues da Lousiana. A molecada britânica da época buscava referências em artistas como Muddy Waters, Sonny Boy Williamson, B.B King e tantos outros, através do bem sucedido jovem blues branco inglês.

O maior expoente deste período é sem dúvidas Eric Clapton, que era tido com uma espécie de deus da guitarra, com suas bandas Yardbyrds, Cream, Blind Faith e depois como artista solo. E também bandas como Savoy Brown, Chicken Shack, Fleetwood Mac, Ten Years After, entre outras grandes da época. E também a excepcional Climax Chicago Blues Band.

Criada em 1968 em Sttaford, a banda foi formada por Colin Cooper (vocal e harmônica), Peter Haycock (guitarras e vocais), Arthur Wood (teclados), Richard Jones (baixo) e George Newsome (bateria). Foi essa formação que gravou seu primeiro álbum no mesmo 1968. Contando com deliciosos blues, o disco traz temas próprios com Going Down this Road e também alguns covers como a fantástica Don't Start me Talking - do mestre da gaita Sonny Boy Willianson. Este álbum, homônimo, traz Chris Tomaz como produtor, e que mais tarde viria a trabalhar com artistas como Elton John e Roxy Music. Também conta com Geoff Emerick na engenharia de som (o mesmo que trabalhou com Pretenders, Elvis Costello e tantos outros). Este disco já denunciava a qualidade bluseira da banda. A faixa And Lonely (8'44) é um verdadeiro clássico, mas destaca-la é até uma injustiça, pois o disco é excepcional de ponta a ponta.

O álbum seguinte foi Plays On. Gravado em 1970, conta com Derek Holt no baixo, e segue a mesma linha do anterior em relação a qualidade, porém com um estilo um tanto diferente. O disco mostra o crescimento da banda, trazendo temas e arranjos mais elaborados. A Climax Chicago Blues Band agora conta com um estilo mais jazzístico, com ótimas linhas de baixo e com destaque também para um saxofone de extremo bom gosto. A faixa Cubano Chant é simplesmente arrasadora. Apesar da sofisticação, o disco não é tão impactante quanto a estréia.

Ainda em 1970, renomeados com Clímax Blues Band, para evitar confusão com a famosa banda de pop rock Chicago, de Peter Cetera, a banda volta ao estúdio para lançar o seu terceiro álbum, A Lot of Bottle, com um repertório de canções próprias, exceção de Seventh Son, do mestre Willie Dixon, e Louisiana Blues de Muddy Waters. O álbum devolveu a veia blues para a banda, porém com um foco mais pesado e com alguns momentos de soul e funk. A faixa Everyday (2'21) é bastante interessante e Reap What I've Sowed (4'30) destaca uma ótima levada blues rock. A grande faixa do disco, no entanto, é mesmo Seventh Son com seus 6m41s do mais puro Willie Dixon, o mesmo compositor gravado por nomes como Rolling Stones, Led Zeppelin, The Doors e mais todo mundo. Perfeito! O disco traz ainda a ótima Like Uncle Charlie. O único incomodo de A Lot of Bottle é o uso excessivo de metais, que chegar a soar cansativo, como na faixa de encerramento, Cut You Loose.

Em 1971 o Clímax lança seu quarto álbum, Tighty Knit, com a capa clássica do carecão com uma meia (?) na boca. Muito legal. O álbum começa quente com a faixa Hey Mamma (3'32), um animado boogie com metais, gaita e guitarras a valer. Belo começo. O relançamento da Akarma ainda traz no lado A do vinil o bônus Spoonful, outro clássico de Willie Dixon. Nesta altura da carreira, o CBB abraçou um estilo musical mais abrangente, contendo baladas, rock and roll e logicamente blues. Sem dúvida uma das marcas do Climax Blues Band é exatamente em apresentar a sofisticação de sua música aliada a uma base blueseira, porém sem repetições (algo que normalmente marca algumas bandas do estilo). Independente de alcançar sucesso ou não, o CBB teve como mérito exatamente adotar uma moda iniciada no final dos anos 60, porém conseguir durante sua trajetória marcar seu estilo, evoluir a cada disco e deixar um legado de uma música de ótima qualidade.

Após o quarto álbum, o CBB lançaria uma série de discos com um apelo mais comercial, como FM/Live e Sense of Direction, entre outros, com maior êxito comercial, porém a qualidade e a levada bluesy já não estavam mais tão presentes. A banda continuou firme na estrada durante os anos 80 e 90, se apresentando em vários festivais e lançando álbuns para um público fiel. Para adquirir alguns destes discos, principalmente os primeiros, é possível correr atrás dos relançamentos feitos durante os anos 80 (apesar de já dificílimos de achar) ou pelos sagrados relançamentos da italiana Akarma durante os anos 2000. A reedição do primeiro álbum pela Akarma é realmente um primor, com capa dura, dupla e vinil 180 gramas de causar calafrios no corpo todo de emoção.


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