Será que eu vou ter treze anos pra sempre?
por Priscilla Fogiato

Tô um saco. Uma angústia, dor no peito de amor não vivido que a gente tem de sublimar de alguma maneira. Como? Como? Não pensando? Tô lendo "O Amor é Fodido" pra ver se resolve alguma coisa. Como sublimar sentimento? Amor não é naftalina. Pode ser o antídoto da cenoura, concordo plenamente, mas amor não é naftalina, não dá pra sublimar. 

Que merda essas histórias. Que saco eu estar nesse hospital cor de rosa que se chama paixão, onde o sangue que nos dão em transfusões - muitas, muitas  vezes insuficiente - é o da pessoa amada. Sangue que vem em gotinhas, às vezes só plasma sem sentimento. Mal dá pra alimentar esse amor anêmico. 

Que falta de criatividade esses programas de tv que tem todos a cara de uma só pessoa. Essas poesias todas que só falam da mesma coisa. Essas músicas todas que são a trilha sonora perfeita pra uma história. Esses cheiros todos que lembram aquela noite, aquela lua, aquela praia. Alguém disse que adolescência não passa. Desse jeito vou ter de concordar e marcar minha voltar aos anos 80. 

Que saco e que falta de ânimo pra me esconder num trabalho que não existe, pra esvaziar a cabeça lendo bulas de remédio e almanaques Sadol só pra não pensar, pra não pensar, pra não pensar. Escrever, então, deus me livre. E a dor aumenta porque não consigo fugir das palavras. Trabalho numa editora, pô! 

Cortar as asas, arrancar à força isso de dentro de mim? Vestir-me de Julieta clubber e cometer suicídio literário? O que fazer quando, de repente, preciso passar uma ou duas horas sozinha sem nada pra fazer no fim da tarde? Qual é o limite saudável pra se checar uma caixa postal? Respirar fundo não adianta. O que você quer, o que você quer de verdade, você não deixa de querer tão fácil... 

Não posso esvaziar minha mente - ainda estou muito longe do Nirvana e de todos esses monges. Não posso - não consigo esvaziar meu corpo de todas essas sensações que ainda estão por aqui, tão boas quanto ruins. Não quero escrever, que seria outro modo de tentar me esvaziar, expirar meu coração de uma vez. Ir pra praia não pensar em nada. Passar meia hora no telefone com a França. Limpar a caixa de emails e meus arquivos. Digitar todos os textos antigos. Reeditar lembranças. Quero apagar isso, pô, quero apagar, porque não existe a tecla block sender na vida real? 

Se eu respiro fundo meus ossos estalam. Pareço não caber direito dentro de mim, minha alma está em alguma posição estranha nesse corpo que já foi meu. Se eu olho no espelho não me reconheço. Meu peito afunda aos poucos, numa dor ansiosa e seca que me dói a garganta. 

Filho da puta. Ele disse que quando eu sofro, escrevo melhor. Filho da puta. 

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pequena pausa - preciso respirar - você também? 

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Choveu no meu dia quente. 

Maldito telefonema, desgraçadas palavrinhas não-ditas, eu odeio semiologia, eu odeio entender as entrelinhas, eu odeio quando as pessoas mudam rápido de assunto pra você não continuar perguntando e você finge que engoliu. 

Tava tudo bem. Eu não tava mais pensado, eu até deixei de comprar um caderno novo - afinal não tô mais escrevendo, mesmo. Eu não tava mais pensando e tava até divertido. Tava até inconseqüente, como naquelas festas de família que você acaba agarrando o primo bonitinho; como naquelas encrencas que você entra já sabendo que não vai dar em nada, só pelo prazer da diversão. 

Choveu no meu dia quente. E agora tá um friozinho mala e eu saí sem blusa. 

Malditas metáforas, blasfemiazinhas singelas e filhasdaputa. Eu tava aqui sossegada, trabalhandinho, enganandinho, tudo certo e bonitinho, como se eu tivesse mesmo controle. Eu nunca mais vou atender telefonemas. Eu nunca mais vou atender ninguém, quando eu tiver a fim eu ligo. Daí não preciso ficar agüentando essas coisas. 

Não era pra eu pensar agora. Tô bem aqui de fora. "Um outro agora vive minha vida; sei o que ele sonha, pensa e sente". 

Será que eu vou ter treze anos pra sempre?