Adormecendo em seus braços
de Marcelo Silva Costa
 

Queria que o silêncio tomasse meu coração. 
Você entende. 
Estou vazio vazio vazio e estranhamente pesado. 
O corpo doi. 
A cabeça doi. 
A vida segue. 
A tristeza me persegue. 
Eu tento fugir. 
Eu tento dormir. 
Eu quero sonhar.
Mania idiota que temos de nos apaixonar. 
Mas, nada demais. 
Apenas constatações tolas de quem se olha no espelho, percebe tudo errado, e não sabe por onde começar a arrumar. 
Por onde eu começo? 
Eu quero? 
Eu devo? 
Eu sou um idiota. 
Onde eu troco o meu coração? 
Onde eu mudo a estação?
Novamente a mesma música.
Tenha paciência.
Sou mestre em inocência. 
Brinco de escrever poemas para a pessoa amada dormindo: 
"Pequeno suspiro. 
Respiro devagar. 
Pintas e piercings me encaram.
Acham que eu vou me apaixonar."
Queria que o cinismo tomasse meus olhos.
"Ela abraça o travesseiro.
Ajeita-se em meu colo.
E dorme.
O tempo para.
O mundo acaba.
A vida segue."
Essas palavras não me pertencem.
É devaneio diferente.
Não me importo.
Você entende?
O desejo já não me surpreende.
Eu quero.
Eu devo.
Não tenho.
Respiro devagar.
Queria que o silêncio tomasse a minha alma.
Já ouvi o que precisava ouvir.
Já fui salvo pelas palavras.
Apenas não desiste de sonhar.
E não desiste de você.
Mas não queria escrever.
Não acredito que escrevi tudo isso.
Palavras escritas parecem parto mas eu precisava mostrar os meus pulsos.
Você entende.
A tristeza me persegue e eu só queria ser feliz.
Por favor, sorria para mim.
Assim.
Assim eu posso tentar dormir.
Respiro devagar.
Deixo os sonhos irem embora.
E adormeço nos seus braços.
 

Queria que o meu cinismo não amasse você.