Eu não
fui
de
Marcelo Silva Costa
Não faz sentido. Não
faz sentido pensar em você. É estranho. Esquisito. Quero sempre
lhe dizer não sei o que.
Quero te encontrar mas nunca sei
onde você está. Isso tudo me incomoda. Culpada incerteza.
Andar na noite.
Perder o bonde. O controle. O amor.
O amor é doce. Não sou inocente. Não sou príncipe.
Achei que fosse. A vida é doce.
Me perdoa. Não faz sentido.
Choro à toa. Trago presentes. É diferente. Sou disperso.
Você é setembro.
Lágrimas derramadas. Lavo-te
com dúvidas. Se existem saídas não me apresentaram
nenhuma. Se sei sorrir me esqueci.
O que é dormir ? Não
sei como acontece. Acontece assim. Não faz sentido pensar em você.
Sei que erro porque quero.
Sei que sofro porque espero. Sei
lá o que. Parece uma boa opção. A última estrela
que brilha. Ouvi seu nome. Ventou.
Bebi todas as sílabas. Boêmia.
Caminho impreciso. Distância medida. E ouvir Neil Young resgata alguma
coisa.
E ouvir a chuva no meio da rua molha.
Nada traz você. Sinto me sozinho. Sem ao menos um anjo. Sem ao menos
sonhar.
Já perguntei tanto “até
quando?”. Até quando irei perguntar ? Até que noite conseguirei
sonhar ?
A voz que não tenho te chama.
A minha boca ainda quer te beijar. Isso dura. Uns dias e sei lá
quantas primaveras.
Não faz sentido escrever tudo
isso numa quarta-feira. Se fosse domingo. Não faz sentido.
Não faz sentido pensar em
você após assistir “Blue Velvet”. Se fosse “As good is it
gets”. Não sou inocente.
Não sou Jack Nicholson. Você
não é Helen Hunt. Me perdoa essa loucura. Me perdoa pensar
em você a essa hora.
Nesse inverno. Na minha cama. Isso
tudo me incomoda. Invade a madrugada.
Esvazia minha esperança que
nunca te alcança. Incerteza culpada. Isso e aquilo. Amor acaba ?
Estou indo. Sempre volto. Sempre esqueço alguma coisa. Um peça
de roupa. Um canção do Smashing Pumpkins. Um poema de Drummond.
Um livro qualquer. Oscar Wilde fazendo
Barulho Antes do Baile Verde. Acontece com mais freqüência que
você pensa.
Não é piada. É
uma parada. Vou descer. Ando em círculos. A única coisa que
sei é que o sol vem. Uma hora dessas.
Eu não fui. Estou querendo.
Não sei ir. Olha eu aqui. Perdendo o controle. Trago flores. É
diferente. Rosas amarelas.
Sou disperso. Sou sempre. Lavo-me
com saudade. Penteio-me com lembranças. Calço-me com memórias.
Já foi o tempo. Uma outra história. Parece uma boa escolha.
Sorria para a camera. Não perca sua alma. Não esqueça
o perfume.
Estou-te olhando da rua. Não
sei se é assim que funciona. Parece obsessão. Uma canção
que não termina.
Uma poesia que me acompanha. Uma
dor que não me abandona. Gruda na pele. No caminho de casa. No teto
do quarto.
Na voz de Ian McCuloch. É
muita sorte. Sorrio sem jeito. Não sei se mereço. Me despeço.Acho
que a culpa é toda minha. Perdi mais uma trilha. Acendi outro incenso.
Penso em cigarros. Não fumo. Não durmo. Não amo. E
a caneta não acaba.
Mas a manhã chegou.
E eu não fui.
Mais uma vez.
Marcelo
São Paulo
21.07.00