A queda
do cálice
de
Marcelo Silva Costa
Abro meus braços. Abraço
a noite. Chove. Não basta lembrar. Tem que ouvir. Com açúcar
e com afeto.
Com saudade e com silêncio.
Abro meu coração. Abraço a solidão. Chove.
Não tem jeito. Brinco de ser não ser.
Olê, Olâ. Os mapas estão
errados. Me perdi em meu quarto. Um reino absurdo. Esqueci de acordar.
Ouça meus pulsos. Como é
que eu faço para respirar ? Acho que eu achei que podia. E assim
me cortei. Cartões postais.
O mundo de Sofia. Acho que eu achei
que sabia. E assim me perdi. Acenda as luzes. Não sei mentir. Acenda
o incenso.
É por aqui ? Apague os gestos.
Deixa em paz o meu tormento. Eu já não tenho a mim mesmo.
Sou quase. Me lembro.
Está chovendo. E você
era a favorita. Acho que eu achei que seria. Quem te viu, quem te veria.
A lágrima cai dividida. Afoga duas formigas. Tristeza partida. Uma
longa viagem de volta. O chão que ela pisa. Ainda estou sem saber.
Abro meus olhos. Abraço o
vento. Chove. Não basta sorrir. Tem que partir. Melancolia e castidade.
Absurdo e falta de vontade. Rock
and roll e conto de fadas. Você não lembra. Sonhos invadem
o dia.
Poesia invade o inferno. O inferno
é aqui mesmo. Abro meu sorriso. Abraço anjos. Chove. Até
quando ?
Meu coração gosta de
chuva. Sou teimoso. Nuvens escuras. Hora de voltar pra casa. Tem gente
que olha e não vê. Acontece sempre. Meu coração
é indiferente. Já não é coração
é outra coisa. É além. É seu.
Papel amassado na lata de lixo. Suburbano
coração pedindo abrigo. Brincando de seduzir. Romeu e Julieta.
Minha amada imortal. Afinal, o final
? E assim me encontro. E assim me encanto. E assim por enquanto.
Perdidamente perdido. Abandono. Abro
as páginas. De novo. Começo do fim. Não me encontro.
Não vi você.
Mil perdões. Beijos. Primeva.
Adagas. Entrego minha alma ou fico a espera ? Aceito o convite ou cancelo
a reserva ?
Já não sei o que quero.
Já não sei o que espero. Vale a pena ? Sou quase poeta. Fui
quase feliz. Estou quase morto.
É tudo quase sono. É
tudo quase insônia. Chove. Não basta ser louco. Não
basta ser pouco.
Tem uma lógica que eu não
entendo. Um lugar que eu desconheço. Amor barato. Deixa a menina.
Mambembe.
Outra noite. Poesia. Acontece. Esquece.
É assim. É o fim. Mas não termina. João e Maria.
Tanto mar. Tanta lágrima.
Tanta chuva. E chove. Cada vez mais
rápido. Três desejos e meio. A queda do cálice. O prêmio
esquecido.
O final da eternidade. A honestidade
do bandido. Palavras que não valem. A falência do amor. Olhos
nos olhos.
Flor em flor. Mãos sangrando.
Eu me vou. O tempo não se move. Não vai amanhecer. Não
vou esquecer ?
Explica essa sina. Eu não
entendo o silêncio. Eu não entendo a mim mesmo. O espelho.
A estrela. A caneta.
Canta primavera. É verão.
Pancadas de chuva na janela. Choro de Gabriela. Canta primavera. Amarela.
Não me deixe aqui entre Buarque
e Coyne. Não consigo me esconder. Não há flores. Chove.
Desata-me. Deixa-me. Esqueça-me. Eu me vou. É uma esquina.
E desejo que seja verdade. Abro meus braços. Abraço a sorte.
Chove. Chove. Chove.
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