CALMANTES COM CHAMPAGNE
O Futuro da Internet
por Marcelo Costa
02/07/2002

Desiste de escrever coluna. Na verdade, eu apenas troquei o formato. É que aqui estava eu escrevendo sobre o Mundo Livre S/A (quer ver um texto sendo rascunhado? está aqui) quando um velho amigo ligou, perguntando se eu não respondia uma perguntas sobre internet para o jornal da faculdade dele. 

Respondi.

Uns dois dias depois, conversando com um outro amigo, começamos a discutir sobre o assunto e eu me vi repetindo as frases que tinha respondido por email. 

Nisso, pensei em publicar as respostas. E pensei mais. Que ficar escrevendo coluna que nada. Eu vou ficar é respondendo perguntas que é muito mais legal, permite que eu discorra sobre minhas idéias (o que um colunista geralmente faz) e opine sobre isso ou aquilo. 

É claro que tem coisas que eu entendo (como fazer pipoca no microondas) e outras que eu não entendo (mulheres), mas o palpitar sobre isso e aquilo sempre rende coisas legais. Então, sinta-se convidado a monologar com este colunista. Pergunte o que quiser (olha lá, hein) no email maccosta@hotmail.com que na próxima coluna eu faço uma seleção dos emails que chegarem e público as respostas, ok. 

Está coluna segue a mesma linha da passada. É um bate papo com o amigo Olacir Júnior, para um jornal da Faculdade. Assunto: Internet. Eu não sou nenhum doutorado no assunto, mas minhas impressões surgem balizadas em 22 meses de envolvimento com web (trabalho) e mais de seis anos de vicio internauta. Como trouxe as respostas para cá, tomei a liberdade de deixá-las mais pessoais. 

Abraços

Marcelo Costa
Editor S&Y



Olacir Júnior - O mercado é bom, é mais acessível que os outros?

O mercado é excelente, mas ainda pouco prático. O grande problema é que estamos num momento de ruptura e isso está prejudicando os dois lados. Por exemplo. A imprensa escrita está sofrendo uma de suas piores crises, um pouco pelo advento da web, afinal, ela só vai noticiar no jornal de amanhã o que você lê agora em um site de informação. No entanto, depois do boom da web que aconteceu no inicio de 2000, e foi uma falso boom, uma aposta que não se concretizou, a web também está em crise, porque na verdade, internet ainda é o futuro. Humberto Gessinger (tá vendo Roberta, não basta gostar, tem que citar - risos) escreveu uma vez que "ano 2000 era o futuro há pouco tempo atrás" e eu me pego lembrando que, aos 13 anos, eu imaginava o ano 2000, eu com trinta anos e um mundo completamente diferente. O ano 2000 chegou, eu já tenho 31 (mas continuo tendo 13 anos, né Priscilla) e tudo continua a mesma coisa. Do mesmo modo, internet ainda é o futuro, por mais tocável que pareça. A internet só será realidade quando, no mínimo, metade da população tiver acesso, quando pais e avôs começarem a usar emails para se comunicarem com filhos e netos. Com o aumento de usuários, aumentará o investimento em publicidade. Isso tudo prejudica o mercado de web. Atualmente, muita gente tem acesso, mas pouca gente tem acesso fácil. Isso torna a acessibilidade restrita. Ou seja, o ideal é que os dois meios (imprensa escrita e de web) se interajam, o que está acontecendo aos poucos. No boom da internet, houve uma contratação de mão de obra em massa, afinal, eram muitos sites surgindo e era preciso de gente trabalhando para que esses sites fossem constantemente atualizados. Com a crise, mais de 60% desse pessoal foi demitido, aumentando a mão de obra qualificada no setor de desemprego. Ou seja, tem muito mais jornalistas na rua hoje do que quatro anos atrás. 

Alguns importantes veículos impressos como Placar e Gazeta se tornaram apenas sites. O que você acha disso? É uma tendência há ser seguida, ou o começo do fim. 

É um assunto bem mais complexo. A Placar é um nome fortíssimo na mídia mas que há anos estava com vendagens baixas para o padrão Abril. Agora eles estão tentando sites, o que é um bom sinal, mas nada que indique mais que uma aposta. Eles querem apenas manter o nome vivo. A Gazeta é outra história. Eles perderam espaço para o Lance, um jornal mais completo, no formato tablóide. Como a Rede Gazeta é um nome forte na área, a saída em migrar para a web também é uma aposta, afinal, é um nome consolidado, forte, arriscando em uma nova mídia da qual ainda não se sabe direito o que esperar. Mas é difícil prever agora o que poderá acontecer em internet além do básico que é a diminuição de grandes portais. Logo ficaremos com um, dois ou no máximo três portais na web, fortes, que terão sites coligados numa verdadeira rede de informação. Quem começa antes, como a Placar, a Gazeta, o próprio Lance e o Pele.net, terá mais experiência para se sustentar no mercado, sobreviver as tempestades dos negócios e se linkar em um grande portal. O difícil é sobreviver. 

O jornalismo on-line também poderá sofrer uma crise como as empresas pontocom sofreram? 

Difícil dissociar jornalismo online de empresas pontocom. São correlatas. O jornalismo online só sobreviverá ancorado em uma pontocom. Agora, o grande trunfo da web é esse jornalismo, essa rapidez da propagação da noticia e, principalmente, a dificuldade em se maquiar um assunto, fato que surpreenderia Marshall McLuhan. O grande problema ainda é a pouca acessibilidade, mas, por exemplo, temos o incidente de 11 de setembro. Após os ataques, o UOL teve uma acessibilidade tão grande que foi preciso subir uma home mais leve ao ar, já que o tráfego estava congestionado. Isso demonstra que, quando o público precisar realmente saber algo, ele irá atrás. Não há mais a conformidade de você esperar o jornal das oito ou ler as manchetes no dia seguinte. As pessoas continuaram vendo (mesmo porque, as imagens ao vivo na web ainda são um obstáculo a ser transposto. Estão cada vez mais rápidas, mas é uma tecnologia que não se compra na esquina, como um computador) jornais televisivos, afinal, todos tem sede de imagem, e a facilidade em se poder transportar um jornal para lá e para cá não devem torná-lo obsoleto, mas a web é o futuro, sem dúvida. É o futuro, inevitavelmente, e ai não podemos esquecer que vivemos tempos de crise econômica, e temos menos pessoal fazendo mais serviço. Se um site tinha dois redatores e um editor, hoje tem um redator e o editor que agora também escreve. Em um grande portal já não há mais a figura do webmaster que tome conta apenas de um site, mas sim de vários sites. A idéia é conter gastos, claro, devido a crise econômica. Na verdade, tudo essa crise nas pontocom é fruto da crise ecônomica mundial. Se as coisas estiverem ok no mundo, as pontocom poderão investir. Enquanto o futuro estiver nublado, a web andará de pé no freio. Como a imprensa escrita. E como a população. 

Marcelo Silva Costa, 31 anos, está trabalhando com web há 22 meses, em portais como IG, Zip.net e UOL, além de tocar o S&Y há 20 meses e simplesmente é viciado em internet. Assim como pizza de calabreza com cobertura de catupiri...

maccosta@hotmail.com


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