2002, o fim?
Por Marcelo Costa
Eu sou bastante cético em geral,
e principalmente quanto ao futuro da música, em particular. Talvez
seja culpa de ter ouvido álbuns como "London Calling" do The Clash,
"Exile On Main Street" dos Rolling Stones ou "Psychocandy" do Jesus and
Mary Chain e não acreditar que álbuns desse nível
possam ser lançados nos dias de hoje. Mas todo mundo merece o benefício
da dúvida e estou esperando que apareça alguém e me
diga o contrário, como o Nirvana fez em 1991 com "Nevermind", mas
acho difícil.
O Radiohead alcançou o topo
da música enquanto arte, a tal perfeição pop, com
o "Ok Computer", e, para mim, só mesmo o Radiohead poderia ditar
um novo caminho através do disco novo que deve sair em 2002. Mas
também acho pouco provável que Thom Yorke saia do buraco
em que se meteu.
Toda essa cena novaiorquina que a
critica tem endeusado e que fez de 2001 o ano do hype é pobre de
idéias e mostra o quão a juventude está perdida com
as liberdades que conseguiu. Se forem esses os representantes da música
pop em 2002, sinto-lhes dizer: nós estamos ferrados.
É difícil imaginar que
a mesma NY tenha dado ao mundo, de uma só vez, Patti Smith, Johnny
Thunders, Iggy Pop e Lou Reed. Ok, a época é outra, e por
isso essa nova leva tem que ser melhor. Ela não pode ficar à
sombra da luz dos outros. Mas, bandas como o Strokes contentam-se com a
escuridão. E duvido que eles cheguem a um segundo álbum.
A Inglaterra, que é o outro
berço pop cultural, também não promete muito. No mais,
deve rolar uma nova revitalização da Class 86, que eles vêm
mudando a cor e o nome e entregando como novo todo ano. O público
está meio cheio disso.
Na verdade, a música pop anda
tão saturada que eu acho que quem estará na midia em 2002
será algum cineasta novo ou algum escritor, como aconteceu com Quentin
Tarantino e Nick Hornby anos atrás.
Começo a pensar que é
mais rock fazer filmes e escrever do que fazer música. O Brasil
continua sendo o país abandonado. Supla promete e deve vender muuuiiittoo,
ainda mais agora com turnê anunciada.
Mas ante o fracasso de vendas de "Bloco
do Eu Sozinho", do Los Hermanos, que é maravilhoso, de "Vida Real",
álbum do Autoramas que tem, pelo menos, umas quatro canções
assobiáveis que deviam tocar em rádio de cinco em cinco minutos,
mas não tocam, não vejo horizontes. Pelo menos a cena independente
começa a se expandir e sair desse chavão preguiçoso
chamado “alternativo”.
Eu sou bastante cético quanto
ao futuro, talvez porque, como escreveu Jim Morrisson, ele seja incerto
e o fim esteja sempre próximo. Bem, mas já está mesmo
na hora de tudo acabar e começar de novo, você não
acha?
Ps. Um momento,
acabei de ter uma boa noticia: segundo o caderno Folhateen do jornal Folha
de S. Paulo, o Mudhoney está em estúdio gravando seu novo
álbum "Superfuzz Bigmuff"!!!
Bem, seria perfeito se esse álbum
não tivesse sido lançado em novembro de 1988 e a matéria
não fosse de janeiro de 2002, retrato de como anda o nível
nas redações dos grandes jornais no país. Meus caros,
as coisas só tendem a piorar. Mas, não esqueçam, o
último que sair, por favor, desliga o som.
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