Há cerca de 15 anos acompanho futebol com intensidade. Desde então, tenho duas grandes pedras na chuteira, dois pesadelos futebolísticos, aqueles que nem terapia ou reza-braba conseguem dar jeito.
 
Uma dessas pedras surgiu em 1986. Meu Uruguai vinha de uma boa estréia na Copa do Mundo - empatara com a poderosa Alemanha Ocidental - mas levou seis da Dinamarca. A Dinamáquina nos destruiu. Até hoje, quando jogo futebol no video-game, escolho Uruguai pra mim e Dinamarca pro computador, só pra meter 30, 40 gols nos malditos vikings e poder dormir tranqüilo.
 
O outro pesadelo data de 1993. Estávamos à beira de ir pra Copa dos Estados Unidos. Última rodada das eliminatórios sul-americanas. O Brasil de Parreira e Zagallo penava - e chegou à última rodada ainda não garantido. O jogo decisivo seria contra o Uruguai, no Maracanã. Diante da eminência do fracasso, chamaram o salvador. Ele, que não jogara um minuto sequer nas eliminatórias, veio de boa vontade e prometeu botar o Brasil na Copa. 
 
Maldito. Um empatezinho e nos classificávamos todos, abraçados. Mas com Romário era impossível. Com Romário não tem empate, não tem dia de chuva. Quem me dera ter um Romário pra jogar com a onze celeste... O pior é que, se você for ver a quilometragem do homem depois de jogo, não dá nada. Aquele último dígito nunca dá uma volta completa. Menos é mais. Romário é a síntese perfeita da frase. 
 
Romário vai ficar fora da Copa porque é o cara que jamais vai correr pra abraçar o técnico depois de fazer um gol. Como bem definiu Joaquim Fiúza no finado no. (www.no.com.br): "Para ganhar uma Copa é preciso vocação para a vitória e um certo sentimento nacional nas vísceras, algo próprio dos heróis. Neste aspecto, o Brasil não poderia desperdiçar essa instituição chamada Romário".
 
É por isso que, como uruguaio, quero mais é que Romário fique fora da Copa. Quero é Elber, Luizão e esses felipismos todos. Até porque podemos nos enfrentar nas semifinais, e eu não gostaria de ter aquele baixinho maldito na minha grande área. Romário fora da Copa? Tô dentro. Melhor pra nós, os gringos.
 
Martín Fernandez é uruguaio, e dava qualquer coisa pra naturalizar o Romário e vários outros que o Felipão não convoca