A
MADAME AQUI
Um
jogo de futebol
por
Flávia Ballve Boudou
Bonjour e
benvindos à essa primeira edição da coluna
que, periodicamente quando der, vai contar um pouco da vida
da madame aqui… Claro que a minha vida em si nao é exatamente
interessantíssima para todos os mortais que não
figuram no meu caderninho de telefones, mas a idéia é
que, como eu moro na França, eu vou poder contar algumas
historinhas frajolas sobre a vidinha em Paris.
(Ok, ok… na
verdade esse parto está saindo quase sob tortura, com
a ladainha do Má « vai Flá, faz uma coluna
Brasil-França no S&Y, vai, porfavorporfavorporfavooooor
», e como que você diz não pra um marmanjo
de 31 anos chorando de joelhos ? Pois é.)
Já
pra começar, queria explicar que sou um alien no meio
desse povo do Scream & Yell, todo mundo tão sabido
em termos de música e indiezismos. Eu acho que a última
grande novidade do mundo da música da qual fiquei sabendo
foi Belle & Sebastian e até hoje me sinto super «
in » (editor, favor incluir aqui um link para
meus Top 7, pro povo sentir o mico). Por isso, a idéia
da coluna não é nada tipo "o que está rolando
no underground parisiense", porque de underground aqui eu só
conheço metrô, e olhe lá. Mas vocês
terão regularmente análises culturais mixto-quentinhas
daqui da terra do queijo fedorento e do povo arrogante (ou seria
o contrário?).
A pedidos
do meu editor, a primeira coluna vai ser sobre um jogo de futebol
que fomos assistir outro dia, em homenagem ao Raí (que
pernas!). Convenci o Olivier (meu marido, que é francês
e detesta futebol), avisei todos os meus amigos brasileiros
e franceses e comprei os ingressos pela internet – foi aí
que eu percebi que não adiantava os amigos dizerem que
queriam vir conosco depois, porque os ingressos são numerados,
como no teatro... Comprei 3, pra nós 2 e pra uma amiga,
Nathalie, que já tinha dito que queria vir conosco. Foi
num sábado à tarde, no Parc des Princes, o estádio
oficial do Paris Saint-Germain. Como o Raí jogou muito
tempo no PSG, o time resolveu fazer uma homenagem (e ganhar
uns cascalhos... se bem que toda a renda dos ingressos ia pra
associação "Gol de Letra", do Raí e do
Leonardo aí no Brasil). No time do PSG, o pessoal da
época do Raí, e do lado dos brasileiros anunciaram
o Sócrates, Zico, Leonardo (que pernas!), Bebeto...
Um frio danado
no tal sábado, lá fomos nós. Chegando perto
do estádio (capacidade para 40 000 pessoas – e tinha
39 470!) vimos todo mundo com aqueles cachecóis de time,
que a gente vê na TV... dali a pouco, um gaiato vendendo
o cachecol do Brasil! Compramos por 20F (uns 7 reais), Nathalie
ainda tentando pechinchar... Buscamos nossos ingressos num portão
especial, tudo super tranquilo, sem filas, e entramos no estádio,
que a essas alturas já estava bem cheio. Procuramos nossos
lugares e nos acomodamos no poleiro pra esperar o jogo... Antes
do jogo, eles mostraram "dançarinas brasileiras", aquelas
mulatas tipo da Plataforma que deviam estar loucas de frio só
de biquini e plumas.
Bom, o jogo
em si foi bem fraquinho, mas demos muitas risadas:
- vendo o Sócrates em campo – caramba, o cara parecia
uma bola vestida de amarelo, tenho certeza de que fizeram uma
camisa XXL da Seleção especialmente pra ele!
- Com os anúncios dos jogadores brasileiros, tipo "entra
Monsieur José Roberto Rodrigues Pereira da Silva" e a
gente "quem?????", e era o Bebeto por ex...
- Com o jeito que eles pronunciavam os nomes dos jogadores:
Raí vira "Rái", Aloísio virou Alôisio...
huahauhauhau! Fora que o estádio inteiro gritava Rái!
Rái! Rái!, hilário.
- Aliás, falando nos gritos das torcidas, eu ria muito
quando eles gritavam "êêêê, Dinorah,
Dinorah!", quer dizer, era o que eu entendia, na verdade era
Ginola ou algo assim (David Ginola), um jogador muito querido
do PSG (que pernas!).
- E ver o estádio inteiro cantando "Capitaine Flamme,
tu n’est pas de notre galaxie"... é uma canção
de um desenho animado antigo, tipo se a gente cantasse a musica
dos Ursinhos Carinhosos, sei lá...
- Outra coisa muito esquisita: todo mundo (tirando as torcidas
organizadas que cantavam essas bobeiradas) assistia o jogo em
silêncio, como em jogo de tênis! Eu e a Nathalie
torcendo e gritando coisas brasileiras, quer dizer, mais rindo
do que efetivamente gritando. Bem que ensaiamos uns "ai, ai
ai ai, em cima embaixo e puxa e vai", uns "bota pra f...", HUAHAUAUHAUA,
e o clássico "a galera do outro lado é bicha!",
pra entremear nossos "vai, vai fdp, puuuuuuuta, perna de pau!
Juiz ladrão! Pra frente, pra freeeente, pro outro laaaaaaado
animaaaaaal" e outras demonstrações do gênero.
Mas os nativos não pareciam muito amistosos não.
O jogo terminou
3X3, com o Raí jogando cada meio tempo em um time. Saindo
do jogo, viemos aqui pra casa onde a Nathalie fez PASTEIS com
a massa Terra Branca que ela tinha trazido daí
do Rio de Janeiro, junto com um pedaço de queijo minas,
hummm... comemos pastéis de queijo minas com tomate e
orégano, de banana com canela e de queijo normal com
presunto. E de sobremesa ainda rolou um pedacinho de goiabada
com queijo minas, o céu!!!! (Em tempo: colaborem todos
com a campanha "Flávia Esperança, alimentem essa
pobre criança". Doações de produtos de
base são esperadas: os de sempre, né, tipo cultura
geral (Veja, Caras, livros do Capitão Cueca etc) e cesta
básica (amendoim agtal azul ou de ovinho, Nestlé
ao leite ou alpino, doce de leite Moça, queijo minas,
goiabada, pastel e outros et ceteras). A despensa está
esvaziando, só tenho meio pacote de bombom Crocante da
Garoto e um quilo de farinha Tipiti).
Dureza, a
vida longe de casa... não é mole não e,
se vocês se comportarem direitinho, na próxima
coluna eu dou outros exemplos.
Flávia
Ballvé-B., 26 anos, 2 como amostra-grátis de francesa...
Acredita nos Correios, no Meu Querido Pônei e na insustentável
levezza do ser (assim mesmo, com dois Z).
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