EDITORIAL
Janeiro
2002
FELIZ ANO
NOVO
Em seu épico gessengeriano
"Anoiteceu
em Porto Alegre", do disco "O Papa é Pop", Humberto escreve
que o último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de
janeiro. Eu, que sempre gostei de Engenheiros do Hawaii, nunca concordei
com essa frase.
Também não dá
para ficar arranjando desculpas cósmicas ou procurando saidas astrológicas.
O fato é que, sim, uma virada de ano é sempre um recomeço.
Essa coisa de 365 dias formarem um ano facilita a organização
do pensamento, e vá lá, a análise do que passou e
o planejamento do que virá. Pelo menos funciona assim comigo. É
só nesse período que eu deixo o instinto que me guia durante
todo ano para tentar entender todas as enrascadas e boas que eu me meti
e planejar, por baixo, o que quero do ano que começa. Papo besta,
né, mas, vejamos.
2001 foi um ano cheio de paradoxos
para mim. Ao mesmo tempo que muitas catastrofes pessoais aconteciam em
noites terríveis, o dia amanhecia ensolarado na manhã seguinte
mostrando que, inevitavelmente, tudo passa, tudo passará.
Ao mesmo tempo em que eu magoava alguns
amigos por ser sincero demais, outros me magoavam com a mesma verdade.
Do mesmo jeito que eu quiz quebrar
a cara de uns cinco fulanos que não valem o nome que tem, me deu
vontade de abraçar o dobro de pessoas que apareceram no meu caminho
pela primeira vez renovando a esperança na amizade verdadeira.
O Corinthians ganhou o Paulistão
numa semifinal, com gol aos 46 minutos, para minha alegria, e deu vexame
dos piores no Brasileirão, para a minha tristeza.
Ao mesmo tempo que começamos
a nos dedicar cada vez mais ao S&Y e que pintaram uma porção
de e-zines que valem a pena, o jornalismo provocou uma baixa enorme nos
cadernos culturais, diminuindo vagas e espaço para a música
pop ("uma arte menor", segundo o editor de um dos principais jornais do
país) que ficou a margem e a caneta de pessoas que nada entendem
de cultura pop. No fim, o golpe fatal: o fechamento da Bizz.
Mudhoney, Trail of Dead e R.E.M. me
fizeram pular e gritar em shows que não tão cedo esquecerei,
assim como o Sigur Rós me fez bocejar e querer estar em outro lugar
do que ouvindo sinfonias progressivas.
Me apaixonei tantas vezes quanto quebrei
a cara por estar apaixonado. Magoei e fui magoado. Sorri e chorei.
Tomei porres que nada refletiam no
dia seguinte, como alguns que me faziam jurar "eu não bebo mais".
Mas, mais do que qualquer coisa, 2001
merece o chavão de "o primeiro ano do resto da minha vida". Foi
em 2001 que eu conheci alguns dos caras que eu mais admirava, tanto em
jornalismo quanto em música. Foi em 2001 que eu recebi alguns elogios
sinceros, muitos em forma de email, que me enchem os olhos ainda agora,
e com certeza, durante muito tempo.
Dois mil e um foi, ao mesmo tempo,
o melhor ano da minha vida, como o mais difícil que eu já
vivi.
Mas tudo isso já faz parte
do passado e nada de chorar sobre o uisque derramado.
Nada de chorar porque 2002
está ai e a vida recomeça para todos.
Para mim também, e para você
que leu até aqui. E que seja um ano excelente para todos nós.
Que seja inesquecivel. Que seja melhor que 2001. E pior que 2003. A gente
se fala durante o caminho.
Abraços
Marcelo Costa
Editor
PS. de um email de Priscila Gomes
"Quem teve a idéia de cortar
o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo
genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite
da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade
de acreditar que daqui para diante vai ser diferente."
Carlos Drummond de Andrade |