Caleidoscópica
O
Poder do Desejo
por
Dulce Quental
21/11/06
Vírus mata. Todo mundo sabe disso. Mas a sofisticação e a variedade de formas com que ele ataca, ainda pega muita gente de surpresa. O Vírus hoje pode tomar muitas formas. Infinita é capacidade do ser humano de se idealizar. Quanto mais sonhos nós criamos, mais formas virulentas de destruí-los aparecem.
O vírus pode vir empacotado numa bala, num chocolate, num e-mail, num beijo, num discurso tóxico. De repente, sem perceber, alguma coisa te atinge, ultrapassando couraças, "firewalls", baterias antiaéreas. Pode vir de qualquer lado. Geralmente, primeiro ele destrói o software, atacando no centro do coração, aonde mora a emoção da linguagem, os sentimentos mais íntimos e secretos. Depois começa a se espalhar por todo o corpo, fazendo disparar toda sorte de sintomas; palpitação, insônia, ansiedade. É quando a maquina começa a falhar e o vírus começa destruir o hardware. O corpo começa a sumir. Você emagrece perdendo massa muscular. Já não consegue respirar direito. Olha no espelho e não se reconhece.A auto-estima vacila. Você está sofrendo um ataque mortal.
Pode durar uma semana, um dia, um mês. Geralmente não dura muito, pois ou você acaba com ele ou ele acaba com você. Dobrar as horas de atividade física, se encher de tranqüilizantes, atividade sexual, o amor de amigos e familiares. Tudo ajuda a combater esse invasor desconhecido e destrutivo. Mas nada elimina o problema.
Para combater esse tipo de inimigo é preciso desmontar o seu DNA. Entender a cadeia lógica da sua estrutura. Estudar como ele se comporta e como você se comporta em relação a ele. Pois foi assim, estudando você, que ele penetrou nas suas defesas, se entranhando nas suas faltas, nas suas ausências, nos seus brancos, nos seus arquivos quase mortos. Você foi o facilitador. Você e a sua eterna vocação para vitima de um mundo tão diferente do seu sonho. Você e o seu idealismo de calças curtas. Você e a sua esperança de criança e artista; sua capacidade de compaixão para com os mais fracos, os mais lentos, os que não tem nada. Através desse coração, que abre e fecha, e deixa os outros entrarem; veio todo o resto; e junto com ele, aquilo que poderia te matar.
Não adianta se fechar. Quem se fecha não vive; não se renova; não cria; vive em eterna repetição. Não adianta erguer muros; artifícios; blindar o carro; o coração. Também não adianta; construir artefatos; bombas; bunkers. Só há uma saída. Combater o vírus com o poder do desejo da vida e sua desconstrução.
Dulce
Quental é cantora e letrista.
Email: contatodulce@dulcequental.com
Saiba mais sobre a cantora no www.dulcequental.com
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