O
CEL & o Limite
Dos
35
por
Carlos Eduardo Lima
22/06/05
Vou fazer 35 anos de idade no dia 10 de julho próximo. Acho que
cheguei na metade da vida, cronologicamente falando. Por mais
descobertas e avanços que a
ciência faça e alardeie, não imagino seres humanos em 2040, quando,
teoricamente, terei 70 anos, mais saudáveis do que agora. Portanto,
estabeleço as 7 décadas de vida como sendo um limite aceitável para ser
relevante e gozar de boa saúde ou algo no gênero.
Ter 35 anos, acima de tudo, é estar sem paradeiro fixo. Você já não é um garoto
há tempos, já é um adulto de fato e de direito, sem, no entanto ser um idoso.
Você já pode ser pai (aliás, podemos ser pais desde os 13, mas estamos falando
de clichês do IBGE imaginário coletivo) pode morar sozinho, pode pagar suas
contas, pode ser casado, rico, pobre. Sim, podemos ser tudo isso a qualquer
tempo da nossa vida, mas, aos 35 anos, se tudo der certo, você é tudo isso às
suas próprias custas, conta e risco.
Aos 35 você é plenamente responsável pela sua vida, pelos desdobramentos que ela
assume, pelas alegrias e tristezas. Quando temos 20 anos é o que mais desejamos.
Claro, estamos ainda no nosso quarto, na
nossa casa dos pais. Quando a liberdade vem, amigos, ela vem sem festa e sem
evento marcante. Você fica livre e pronto. E acorda livre num belo dia, sem
saber o que fazer com isso, de onde veio e como vai viver livre daquele dia em
diante. A liberdade não tem idade para vir. Mas, aos 35, certamente você será,
ao menos, relativamente livre. Você terá tomado decisões sobre isso, já terá
lidado com a sua liberdade, acredite, nada é mais complicado.
A gente sempre se
atira ao espaço da irresponsabilidade quando temos a guarida certa do
background familiar. Daí podemos ser tudo o que quisermos, pois as
consequências atingem outros, caso sejam ruins. Se forem boas, nós somos os
únicos responsáveis. É uma fase cômoda e injusta com nosso background familiar.
Ainda veremos isso sob este ponto de vista num dia qualquer do futuro, quando
nossos filhos fizerem o mesmo conosco.
Muitos acham que sabem tudo aos 35 anos. Eu sei quase tudo mesmo. E não há
maior prova de burrice do que isso que escrevi. Claro, a gente nunca sabe nada
de nada. A vida sempre nos surpreende nas esquinas da cidade escura ou clara
demais do dia-a-dia. Se você pensa que sabe de tudo aos 20, 20 e poucos,
lamento muito, não sabe mesmo. Pode parecer que sabe porque seus limites ainda
não estão do tamanho de alguém quinze anos mais velho. Daí a sensação de
conquistar o mundo, abraçar o mundo. Lembre-se, o mundo nem sempre se deixa
abraçar. Às vezes a gente tenta mesmo, mas ele foge, ele é grande demais, ele é
azul demais, ele é injusto, justo, enfim. Não dá.
A consequência disso é que
você, finalmente, se vê no mundo, inserido nele. E isso é mais ou menos bom.
Mas, claro, há muitas vantagens sob o branco crescente dos cabelos. Só que elas
não são visíveis o tempo todo e, não raro, o cansaço no futebol de fim de
semana, algum desinteresse na patroa, alguma crise inexplicável que te leva a
ouvir Marillion e Foreigner e saudades do tempo de colégio podem te assaltar ao
longo do dia sem qualquer aviso. Lembre-se, já faz 20 anos desde o segundo
grau.
E aí, amigos, é MUITO TEMPO. E às vezes dói no lado esquerdo do peito. As
dores são proporcionais à distância que elas simbolizam, foi uma teoria
estranha que formulei outro dia. Ainda está em fase de teste. Aos 35 dei pra
fazer teorias estúpidas. Cada um chega no topo de uma forma. Alguns esperam,
outros evitam, outros ignoram, outros apenas sentem. Você cresceu, não há como
voltar atrás. Você está no meio do caminho, amigo. Aproveite a viagem, aprenda,
aprenda sempre. Talvez a mágica maior de se ter 35 anos é saber que sempre há
algo para se aprender e que é esse aprendizado que nos leva pra frente. Sem
ele, ficamos bobos, aparentando debilmente menos idade. É legal ter idade,
gente. Não se espantem ou fujam da sua idade.
Agora, me convençam disso tudo, por favor. E caso tenham um tempinho, me
desejem um feliz aniversário. Vou gostar.
Carlos
Eduardo Lima, o CEL, tem quase 35 anos, é caucasiano,
apolítico,
incolor, inodoro e insípido. Contato: cel@rockpress.com.br
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