"Summer Sun" - Yo La Tengo (Trama)
Lançamento Nacional
Preço em Média -
R$ 23,00
16/05/2003
Se um fã de rock independente
que amasse o Yo La Tengo de início de carreira, circa 1986/1989,
tivesse sido seqüestrado por ETs e devolvido ao mundo nesse ensolarado
inverno de 2003, iria se assustar com "Summer Sun", décimo álbum
do trio norte americano que quebra um silêncio de três anos
da banda. E não iria ser o tom sombrio das letras do álbum
que causaria tal catarse e sim a música. O Yo La Tengo que começou
na linha "I'm Waiting for the Man" em 1986, hoje em dia cantarola "Sunday
Morning" (impossível não usar uma metáfora velvetiana)
trocando a aspereza pela sutileza, o barulho pelo silêncio. São
dezessete anos separando "Ride The Tiger" de "Summer Sun" e a diferença,
meu amigo, é gritante. Nem parece a mesma banda. Enquanto a molecada
do tal novo rock prega o barulho, a família Yo La Tengo brinca com
teclados Casio e troca o som das guitarras por flautas, trumpetes e sax.
A rigor, a banda alcançou seu
clímax musical em seus dois últimos álbuns de estúdio,
os sensacionais "I Can Hear the Heart Beating as One" (1997) - mais rock,
e "And the nothing turned itself inside-out"
- mais baladeiro. "Summer Sun" é irmão direto deste último,
e fica escondido sobre a sombra do brilho dele. Lá, a banda promovia
um cruzamento de Velvet Underground com Cocteau Twins alcançando
um resultado apaixonante e arrebatador. Aqui, tudo soa preguiçoso
demais, seja pelo (ab)uso de bateria eletrônica, seja pela aproximação
do jazz, seja pela descaracterização do som Yo La Tengo (e
uma foto desfocada na capa não poderia ser mais perfeita) que agora
é calminho, calminho, calminho. E calminho.
Uma microfonia, distante, soa logo
na introdução da primeira música. O clima suave vai
invadindo o ambiente e cá estamos nós de novo no mundo do
Yo La Tengo. "Beach Party Tonight", a faixa um, traz apenas vocalizações
sob uma base suave que incluí trumpete, sax e flauta. Parece que
o trio está batendo cartão de ponto e não gravando
um novo disco, e jams-sessions transformadas em canções como
"Georgia Vs. Yo La Tengo" e "Moonrock Mambo" surgem para comprovar a falta
de criatividade que abateu o grupo. Porém, nem tudo está
perdido. A dobradinha "Little Eyes" / "Seasons of The Shark" coloca a guitarra
(calminha) em primeiro plano soando do tipo "bonitinha, mas ordinária",
o que em se tratando de Yo La Tengo é muuuuito pouco, mas mesmo
assim arranca sorrisos. Não dá para acusar o grupo de repetição
de fórmulas nem de acomodação no estilo. O trio se
aproxima velozmente do jazz e se distancia cada vez mais do rock. E nem
a cover de "Take Care" do álbum "Third
Sisters Lovers" do Big Star que fecha o CD consegue ensolarar um álbum
que serve, apenas, para abrir a porta do mundo Yo La Tengo para neófitos.
Quem conhece algum dos três álbuns citados nesta resenha,
provavelmente vai se decepcionar com "Summer Sun" e esperar, de dedos cruzados,
que a próxima estação do ano seja cheia de tempestades,
trovoadas e ameaça de fim do mundo. Tudo pelo rock and roll, claro.
Marcelo Silva Costa |