Entrevista - Brian Bell do Weezer
por
Marco Antônio Bart Fotos 1 e 2: Site Oficial / Foto 3: Marcelo Costa
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12/10/2005
"Nossos shows são como uma bizarra, estranha congregação de
pessoas que cantam nossas musicas de cor, do início ao fim.
Acho que eles cantam tão alto que mal conseguem nos ouvir tocando".
Brian Bell não estava exagerando quando afirmou isso, por telefone,
cerca de duas semanas antes do Weezer fazer seu - primeiro e
único - show brasileiro. O fato é que, quando a banda começou
o set, tocando My Name Is Jonas (a primeira música do
primeiro disco deles), realmente não deu para ouvir direito
o dedilhado de guitarra feito pelo próprio Brian. A gritaria
que o público do Curitiba Rock Festival fez para receber Rivers
Cuomo (guitarra e voz), Pat Wilson (bateria), Scott Shrine (baixo)
e Brian (guitarra, teclados) soterrou os primeiros acordes da
música. E naquela gelada noite de sábado, esse tipo de reação
foi a regra.
É claro que o quarteto, reconhecidamente uma banda que excursiona
muito (basta conferir o progresso das turnês no site www.weezer.com
), já tinha uma idéia de como seria a
recepção do povo brasileiro. "Estou muito excitado com a viagem,
acho que vamos ser recebidos calorosamente, com muita energia.
Vejo na minha cabeça muita gente bonita (risos), energia, exuberância,
dança, alegria de viver", chutou Brian em sua entrevista pré-show.
Ele certamente tinha alguma idéia do que estava falando. "Recebemos
cartas dos fãs brasileiros desde o começo da banda, não sei
porque demoramos tanto tempo para vir", diz o guitarrista, membro
fundador do Weezer.
A visita ao Brasil serviu oficialmente para divulgar Make
Believe, o quinto disco de estúdio do grupo. Quatro meses
depois do lançamento do álbum, a banda parece satisfeita com
o resultado. "Eu ainda não me cansei de Make Believe.
Acho que no processo de gravar o disco eu talvez tenha me cansado
um pouco das músicas, mas foi só. Não foi um disco que ouvimos
muito logo depois de acabarmos de gravá-lo; agora só ouvimos
as músicas ao vivo, ou quando precisamos pegar o disco de novo
por ter esquecido como tocar algum pedaço. Nós estamos tocando
um punhado de músicas novas, tentando fazer justiça às versões
de estúdio. Não estamos preocupados em mudar as canções ou faze-las
'evoluir'; o disco tem muitas texturas sonoras que nunca tínhamos
feito antes. Apenas recriá-las ao vivo já é um desafio", elabora
Brian. "É diferente de pegarmos músicas antigas e tentarmos
adicionar coisas a elas para fortalecê-las, pensando 'era assim
que deveríamos ter gravado originalmente'. Agora é o oposto,
estamos tentando igualar o CD. Nós pusemos muitos teclados nesse
disco, e eu toco os teclados ao vivo", completa. Detalhe: o
Moog que Bell tocou em Curitiba foi emprestado pelos gaúchos
da Bidê Ou Balde.
Em relação aos shows que a banda tem feito nos últimos meses,
o show no Curitiba Master Hall teve algumas alterações no set
list. Saiu, por exemplo, Pardon Me, para entrar This
Is Such a Pity. De resto, prezando o ineditismo da visita,
o Weezer fez um show que reviu (quase) todas as fases da carreira
da banda. O povo parecia não acreditar. Seria real? Talvez o
título do disco, "faz de conta", seja o que se passou na cabeça
dos quase quatro mil presentes à primeira noite do CRF. Para
Bell, a expressão que dá nome ao CD é mais um enigma para os
fanáticos. "É dificil para mim responder o que significa realmente.
Ele (Rivers) veio com o título há dois anos e ele apenas gostava
da expressão, sem pensar se era negativo ou positivo. A definição
que ele deu... me lembro que me pareceu um bom título na capa
e que caiu bem com a arte do CD. Sobre o que significa, ou como
se encaixa no contexto das letras ou até da música... é realmente
algo que ninguém pode dizer, só ele", diz o guitarrista.
Mas há algumas pistas. Como por exemplo, a sinceridade, característica
muito associada aos versos de Cuomo (e que tanto agrada, por
exemplo, a moçadinha emo). "Rivers disse que queria se distanciar
totalmente da ironia com as novas músicas", explica Bell. "Ironicamente
(risos), os dois primeiros singles são justamente os que têm
letras irônicas!", continua, referindo-se a versos como "Meu
automóvel é um pedaço de lixo/ Meu gosto para roupas é meio
maluco/ E meus amigos são tão cool quanto eu" (Beverly Hills)
ou num refrão como "Estamos todos drogados/ Nunca é demais /
Estamos todos drogados / Me dê mais desse negócio" (We Are
All on Drugs). "Acho que, mesmo sem perceber, ele acabou
sendo irônico, ou melhor, os versos soaram como ironia. Mas
ele disse que são letras muito sérias, que foram escritas no
calor do momento, com emoção", diz Brian.
Seria apenas mais uma das contradições e esquisitices de Cuomo?
O bom cantor, compositor de mão cheia e hábil guitarrista que
influenciou mais de uma geração de roqueiros, indies ou não,
tem uma tremenda fama de maluco. Bell começa a definir sua relação
com Cuomo, meio hesitante: "Bem... isso vai ser impresso em
português? Então acho que posso dizer.. (risos)" Ele prossegue,
relaxado: "É uma boa pergunta, mas sempre que me perguntam isso
eu tento enrolar um pouco para responder, dependendo de como
Rivers se comportou na última semana. Se ele foi legal eu dou
uma resposta, se não, eu mudo o que vou dizer. Mas na maior
parte do tempo, olhando para o lado positivo, eu tenho de dizer
que tenho muita sorte de trabalhar com alguém como ele. Mesmo
que às vezes não consigamos nem ensaiar regularmente, porque
ele vive fora da cidade (de Los Angeles)."
Bell segue: "Ele é muito motivado e inteligente, e sempre que
se decide a fazer algo, vai até as ultimas conseqüências. Ele
é um cara extremado. Eu definitivamente aprendi olhando os métodos
dele. É muito metódico. Conviver com ele é como fazer um estudo
sociológico (risos). Gostaria de ter escrito sobre essa experiência
ao longo dos anos. Não gostaria de explorá-lo ou coisa parecida,
mas acho que poderia ganhar um monte de dinheiro escrevendo
sobre como ele é na intimidade. É interessante. Não importa
o que eu diga, nunca vai fazer justiça sobre a verdade. Não
dá para resumir em uma palavra. Ele pode ser um cara frio? Sim,
pode. Mas também é muito fácil trabalhar junto com ele. Definitivamente,
nunca se sabe o que esperar de Rivers."
Muito por causa de Rivers, de suas letras desabridas sobre paixões
juvenis e inadequação social, e de sua imagem pública, o Weezer
carrega a pecha - incômoda? - de reis do "nerd rock". Faz sentido,
Brian? "Dizem que fazemos 'geek rock'. Quando o termo surgiu,
eu nunca tomei como algo pessoal. Nunca me considerei um nerd,
talvez na sétima série, na escola...", começa o guitarrista.
É claro que com músicas como In the Garage ou Why
Bother? no currículo, fica difícil de contestar... "Acho
que, pelo fato de não escrever as canções, sou capaz de não
levar esse papo para o lado pessoal. Rivers talvez tenha uma
imagem completamente diferente a respeito disso", pensa Bell.
E ele continua, afinal concordando: "Quando penso em nossa imagem
e reflito em como as pessoas nos vêem, sei que elas vêem "o-carinha-de-óculos".
E essa imagem na cabeça das pessoas diz: nerd. Por mim está
tudo bem. Acho bom que a midia tenha achado um nicho para escrever
a respeito, para que as pessoas nos conheçam. E isso na verdade
nos ajudou a conseguir um lugar na historia do rock como os
'nerd rockers'. Definitivamente nos separou das outras bandas.
Então acho que na verdade foi uma benção."
Benção ou não benção, é verdade que existe um lugar especial
na história para o Weezer. Nenhuma banda surgida no vácuo da
explosão pós-grunge fez uma ponte tão peculiar entre o rock
alternativo e o mainstream. As melodias grudentas e inesquecíveis,
as guitarras tentaculares e as letras repletas de "confissões"
(pessoais ou não, verdadeiras ou não) não conquistaram simplesmente
milhões de fãs - na verdade, formaram uma legião de adoradores,
a ponto de o grupo poder ser reconhecido como um dos mais influentes
no rock alternativo dos últimos dez anos. Que o digam compatriotas
como Los Hermanos, Leela e os já citados Bidê ou Balde (que
gravaram uma versão em português para Buddy Holly).
"As pessoas me falam, me dão demos, e eu escuto todos me dizendo
'oh, há esta nova banda, eles soam como o Weezer, você vai amar'.
E tudo o que penso é: por que tenho de amá-los por se parecerem
conosco? Na verdade, estamos sempre tentando fazer com que o
Weezer NÃO soe como o Weezer! É como quando dizem que influenciamos
as bandas de emocore. Não gosto de emo - ainda que muita gente
possa me odiar por dizer isso", dispara Bell, refletindo sobre
a malta de grupos influenciados por sua banda. "Acho que as
pessoas podem tentar, mas ainda não são capazes de rotular o
nosso som. Nossas músicas deixam as pessoas felizes, o que é
ótimo. É isso o que importa."
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Green Album, Weezer, por André
Fiori
Links
Site Oficial Weezer
Download
de vídeo de Island The Sun ao vivo em Curitiba
Leia
no Blog do Weezer sobre o show da banda em Curitiba
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