The Hives
- Interview
por
Ramón Bonzi
trama.com.br
Eles vem da
Suécia, vestem ternos elegantes e apoiam suas guitarras no punk
rock tosco e garageiro circa 77, primo bastardo dos Buzzcocks. Surgidos
em 1993 e conduzidos pelo possivelmente imaginário Mr. Randy Fitzsimmons,
começaram a aparecer e tocar em vários botecos europeus.
Eps e álbuns lançados causam o buxixo, mas a coisa só
degringola quando Mr. Alan McGee compra a idéia e prega a peça:
"Your New Favourite Band: Poptones Presents The Hives", é uma coletânea
de título pomposo e esperto, isca fácil para a imprensa inglesa
que tacou a boca no anzol soltando manchetes em revistas e jornais celebrizando
o quinteto sueco. Com pouco mais de dois anos de atraso, o hype chega ao
Brasil com "Veni, Vidi, Vicious" de 2000. Rámon Bonzi, do trama.com.br,
conversou com o guitarrista Nick Harson que respondeu todas as perguntas
no esquema de som da banda, curto e grosso. Confira.
Primeiro
de tudo: o que está acontecendo com a Suécia?!? Seu país
é o celeiro de algumas das melhores bandas de rock dos dias de hoje!
Além do Hives, vocês tem Hellacopters,
Backyard Babies, Candybar Planet, Nomads... fale um pouco sobre a cena
de rock na Suécia.
Resumindo, trata-se
apenas de um monte de bandas fazendo coisas diferentes. Uma parte delas
fazendo bom rock, outra parte, um som garage de qualidade. Algumas existem
faz um bom tempo, outras, são novas.
Qual a melhor
e a pior banda da Suécia?
Gosto muito
de uma banda chamada The Barbwires. É meio surf music. Não
sei te dizer qual é a pior banda.
Quais as
principais influências do Hives?
Música
"super cool"
Podemos dizer
que o Hives é uma banda "elegante" que fica um bom tempo na estrada.
Qual é a coisa mais importante pra conquistar sucesso: fazer um
monte de shows ou ter visual?
Nós podemos
combinas essas duas coisas, então isso nunca foi problema.
Como um de
suas músicas tornou-se a trilha sonora do comercial de lingerie
"Agent Provocateur"?
Eles nos pediram
e, por alguma razão, aceitamos.
E você
acha que esse comercial ajudou de alguma forma a popularizar a banda?
Ele deve ter
atingido bastante gente. Mas vendíamos uma porção
de discos na Inglaterra mesmo antes dele.
Eu gostaria
muito de fazer a mesma pergunta que Kylie Minogue, no final do comercial,
faz ao público. Depois de vê-la cavalgando no touro mecânico,
de calcinha e sutiã, você consegue se "levantar"...?
Ah, eu nunca
tive problema para "levantar"...
O que você
diria às pessoas que acham que Mr. Randy é um empresário
imaginário?
Diria: vocês
estão completamente enganados...
E Mr. Randy
ainda excursiona com a banda?
Ele nunca excursionou
com a gente.
Por que Mr
Randy não faz parte da banda?
Ele não
quer fazer parte...
Ele deve
ser um cara bastante excêntrico, não?
Sim, deve ser...
Algum plano
para o próximo disco do Hives?
Um monte de
planos, mas nada que possa dizer agora...
Mr. Randy
está ajudando nas composições?
Ele escreveu
todas as músicas, mas nós estamos dando os toques finais.
Alguma chance
do Hives tocar por aqui?
Assim que tivermos
chance e tempo. Nós adoraríamos ir ao Brasil.
Entrevista cedida
gentilmente pelo site Trama.com.br
"Veni, Vidi,
Vicious"- The Hives
por
Fábio Sooner
Pastilhas
Coloridas
Não se
sabe bem porque diabos, mas cismaram que o rock precisa de "sangue novo".
Ah, as rádios rock são banais? A indústria musical
venceu? Tudo está um tédio? Pegue uma revista musical de
qualquer época pós-aceitação do rock como gênero
artístico - pode ser 77, 85 ou 93, tanto faz - e encontrará
as mesmas reclamações. O que nos leva à questão
maior: se tudo continua na mesma, onde está o erro?
Releia o parágrafo
novamente. Tudo continua na mesma desde a aceitação do rock
como gênero artístico - ou seja, "rock é rock mesmo"
e nada mais. O gênero não morreu e nem vai sucumbir; apenas
está a um passo de ocupar o mesmo patamar do jazz, estilo musical
que começou confrontador, negro e sexual para se tornar símbolo
de sofisticação.
Portanto, é
no mínimo impensável se esperar que uma das próprias
bases de sustentação do establishment venha voltar a provocar
(ou refletir) mudanças comportamentais profundas como dantes. Esse
papel foi ocupado pela eletrônica nos últimos anos, e não
adianta bancar o purista em relação a isso. O que resta ao
rock é abarcar bandas com algum diferencial e que não passarão
do status cult, ou gerar regurgitações em diversos graus
de eficiência que serão saudadas como "sangue novo no rock"
por meia dúzia de jornalistas durante alguns meses. E dá-lhe
ostracismo.
Isto posto,
não é de se espantar que The Hives seja um dos novos darlings
da imprensa britânica. Vêm da Suécia, o que ainda funciona
tanto como um gancho jornalístico para críticos sem assunto
(só agora, no segundo disco, é que foram "descobertos") quanto
como aval, já que o país nos deu nomes pop como os Cardigans
e o ABBA. Considerando que o negócio dos Hives é rock básico,
a procedência se torna mais curiosa ainda. Pena que fique só
nisso.
O que se ouve
em "Veni, vidi, vicious" - trocadilho do latim "vim, vi, venci" com "vicioso",
que espertinho, não? - fica quase sempre em torno de uma regurgitação
desfocada do Who. Os Hives até tentam sair um pouquinho dessa sombra,
com um efeitinho eletrônico em uma passagem do hit "Hate to say I
told you so" ou a bela balada doo-wop "Find another girl". No passado,
mostraram ter um dedo de hardcore e outro de Pussy Galore. Mas de resto,
neste disco que sai no Brasil, cospem apenas uma maçaroca de canções
muito parecidas, feitas de encomenda para agradar os setentistas saudosos.
Até mesmo a produção tenta emular a atmosfera de gravação
da época - notadamente abusando de filtros na mixagem para "sujar"
a voz, expediente já melhor utilizado pelos Strokes.
O bafafá
em torno do Hives lembra, e muito, aquela euforia com certas bandas brasileiras
no início dos anos 80, como Ira!, Mercenárias e Smack, pelo
que elas tinham de mais reconhecível e não pelo pioneirismo
em um país sem história pop-rock (o que não é
o caso da Suécia). Mesmo estas, ainda que bem menos viscerais, tinham
um espectro de possibilidades muito maior do que os suecos - e sem abdicar
do baixo-guitarra-bateria básico. É certo que Veni, vidi,
vicious serve como estimulante em meio à enxurrada de Prozacs que
são desovados pelas majors, mas alteradores de consciência
realmente potentes existem por aí aos montes. Só não
adianta procurá-los na plateleira classic rock. |