Entrevista - Super Furry Animals
por
Jonas Lopes
Fotos - Divulgação
Yer Blues 07/11/2005
O Brasil volta a andar de mãos dadas com o Super Furry Animals após
a banda galesa ter feito um dos shows mais elogiados do Tim Festival
2003, saindo do palco, inclusive, com a taça Julis Rimet nas mãos.
Love Kraft, novo álbum do grupo, que ganha edição nacional
via Trama, foi gravado parte na Espanha, parte no Brasil, tendo
sido mixado novamente por Mário Caldato, no Rio de Janeiro.
O disco ainda traz "homenagens" para a cidade maravilhosa na arte
do encarte e samplers de barulhos das ruas cariocas.
Love Kraft, porém, não reedita a criatividade de álbuns como
Radiator (1997) e Guerrilla (1999), e segue a linha
madura e contemplativa de Phantom Power (2003), que já havia
marcado uma guinada na carreira da banda. O S&Y conversou por telefone
com o baixista Guto Pryce e descobriu que os galeses gostam mesmo
de baile funk, assistiram a um show de Jorge Ben no Sugar Bread
Mountain, e deixaram a tv desligada no último ano, o que acabou
por diminuir o tema "política" nas novas canções, e também
impediu a banda de ver Hello Sunshine embalar uma primeira
vez de um garoto no seriado The O.C.. Confira o papo.
Parte de Love Kraft foi gravado no Brasil. Que diferença
isso fez para o disco?
O álbum foi mixado no Rio, então muitas das gravações já estavam
prontas. Nós estávamos meio receosos, não queríamos ir ao Rio e
tentar gravar um disco de samba. Nós queríamos fazer um disco do
Super Furry Animals. Fizemos gravações nas ruas, sampleamos o som
da cigarra, um inseto, e vários barulhos das ruas do Rio, e eles
acabaram entrando no disco. Eu não acho que seja um disco que soe
tipicamente brasileiro, mas possivelmente o sol e a boa temperatura
que pegamos aí influenciaram o disco.
Vocês ouviram alguma coisa de música brasileira enquanto estavam
no Brasil?
Sim, sim. Ouve-se música em qualquer lugar que se vá. Nós realmente
gostamos da música dos bailes funk, porque não soa como nada que
nós já ouvimos. E muito Jorge Ben - fomos ao "Sugar Bread Mountain"
(Pão de Açúcar) ver um show do Jorge Ben. Muita coisa brasileira
clássica, e nós temos ouvido Tropicália e Os Mutantes, uma grande
influência.
Quais as diferenças entre Love Kraft e Phantom Power,
na sua opinião? Você acha que eles seguem a mesma direção?
Eu acho que sim, porque são dois discos muito acústicos. Várias
das canções tem base acústica. Nós nunca queremos repetir o que
já fizemos no passado, mas em Phantom Power e em Love
Kraft nós usamos o nosso próprio estúdio mais do antes, e aprendemos
a usar as máquinas. Eu acho que é uma progressão natural, mas não
são o mesmo disco, definitivamente.
O lançamento do disco solo de Gruff alterou alguma coisa na gravação
de Love Kraft?
Não, acho que não. Foi bom para o Gruff botar aquelas músicas para
fora, porque ele escreve tantas... Eu imagino que ele fique muito
frustrado, você sabe, porque leva um ano para se gravar um disco,
e então mais um tempo para as músicas serem lançadas - e ele na
verdade compõe muito mais do que o que é lançado. É uma espécie
de alívio para ele botar isso para fora e poder seguir em frente.
No disco novo, pela primeira vez, os outros membros da banda
participam com vocais. Por que essa mudança agora?
No passado Gruff escreveu boa parte das músicas, e agora aconteceu
de os outros escreverem também, pois nós temos nosso próprio estúdio
e é mais fácil compor. E é bom porque tivemos músicas diferentes
de direções diferentes e de pessoas com influências diferentes.
O desafio era continuar soando como a mesma banda.
É o segundo disco de vocês produzido pelo brasileiro Mário Caldato.
Como é trabalhar com ele?
Muito bom. Ele é um cara muito extrovertido, alegre, muito relaxado,
e que nos deixou relaxados também. Ele não gosta de stress no estúdio,
todos estavam alegres. É um cara muito positivo para se ter por
perto.
Por que o nome "Oi Frango"?
(Risos) Porque eu acho que eram as duas palavras que nos lembrávamos
mais. Ouve-se "oi" bastante, e ouvimos vários "frango", então pusemos
as duas palavras juntas. Foi uma coisa bacana de se fazer, o que
nos lembrávamos como não-conhecedores da língua portuguesa.
Por que não há em Love Kraft nenhuma canção política,
como em Phantom Power?
Eu acho que o clima de quando estávamos gravando Phantom Power
era muito chocante, o clima político no mundo. Não melhorou muito,
mas talvez tenhamos nos acostumado com isso. Não é que esquecemos,
porque eu acho que muito ódio ainda vem à tona, mas, sim, nós decidimos
que era hora de cantar sobre outros assuntos que não a política
externa de George Bush. Já estava obscurecendo tudo que fazíamos.
E foi bom viajar, gravar na Espanha e no Brasil, pois não vimos
muita tv, não lemos jornais, e é bom calar a boca da tv de vez em
quando.
Depois de tantos discos e incursões por gêneros distintos, o
que o Super Furry Animals ainda pode fazer de diferente?
Não sei, o que fazemos vem de forma muito natural para nós. Não
é como sentar e decidir fazer um disco diferente; é apenas que temos
tantas influências diferentes, e membros diferentes sendo influenciados
por qualquer coisa. Quer dizer que nós podemos ir para qualquer
direção: ir para a eletrônica, para o folk. Não sei sobre o futuro,
vai ser interessante ver como será. Nós vamos excursionar pela América,
então talvez façamos um disco de rock, se nós nos influenciarmos
por isso, nunca se sabe.
Uma última pergunta: você viu a cena do seriado The O.C. em que
uma personagem tira a blusa e mostra os seios para um rapaz ao som
de Hello Sunshine?
(Risos) Eu nunca vi isso. Não é o tipo de programa de TV que eu
vejo...
É a primeira vez do garoto, e a cena se passa em câmera lenta...
(Mais risos) Isso é muito engraçado. Não, eu nunca vi.
"Love
Kraft", Super Furry Animals
por
Jonas Lopes
Pela primeira vez em sete álbuns saí decepcionado
de uma audição de um disco do Super Furry Animals. Não: Love
Kraft, lançado aqui pela Trama, não é ruim. Só não avança quase
nada em relação ao anterior, Phantom Power. E quem é fã sabe
até onde pode ir a criatividade da banda, capaz de fazer eletronices,
tropicalismos, punk, soul, pop bubblegum, folk cantado em galês
- às vezes tudo ao mesmo tempo. Nessa deliciosa esquizofrenia, maquinaram
uma sensacional sucessão de grandes discos: Radiator (1997),
Guerrilla (1999), Mwng (2000), Rings Around The
World (2001).
Phantom Power (2003) foi uma guinada em direção a um som
mais maduro e contemplativo, com algumas faixas que versam sobre
política, algo inédito até então. Muita gente não gostou. Mas é
outro belo disco, mais lento e menos irreverente, sim, mas com um
punhado de acepipes memoráveis (Hello Sunshine, Venus And Serena,
Golden Retriever).
Gravado parte na Espanha e parte no Brasil (onde foi mixado por
Mário Caldato Jr.; ganhamos ainda uma "homenagem" no encarte, com
referências a favelas cariocas...), Love Kraft também aposta
nas baladas. Algumas são boas (Zoom!, Ohio Heat, Frequency),
outras nem tanto (as modorrentas Walk You Home, Cabin Fever
e Atomik Lust). E não são do mesmo nível das de Phantom
Power.
As poucas tentativas de soarem divertidos acabam sendo o melhor
de Love Kraft. A instrumental Oi Frango, a grudenta
Back On The Roll e a bizarra Psyclone! - com uma letra
que mistura dinossauros, galinhas e meteoritos e uma bateria que
lembra a de We Will Rock You - estão entre esses momentos
não-baladeiros. O electro-funk Lazer Beam tem frescor e é
uma escolha acertada para single. Digna de figurar ao lado de Juxtaposed
With You, Herman Loves Pauline e Northern Lites.
Engraçado é que o primeiro trabalho solo do vocalista Gruff Rhys,
o caseiro Yr Atal Genhedlaeth, é mais inventivo que Love
Kraft, embora mais irregular. A novidade maior do disco novo
é que agora os outros membros também cantam, e é pouco, muito pouco
para uma banda como o Super Furry Animals.
Links
Site Oficial do Super
Furry Animals
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