Som Livre Apresenta

Por José Flávio Júnior
Fotos: Divulgação
09/01/08

Retrato de um 2007 dicotômico. O mesmo ano que consagrou festivais independentes de todos os cantos do país – agora mais organizados e com patrocínio da Petrobrás e da cerveja Sol – foi o ano em que artistas do mesmo cenário alternativo começaram a sonhar com uma aproximação com as Organizações Globo. Criado pelo atual presidente da Som Livre, Leo Ganem, o selo Som Livre Apresenta é motivo de burburinho entre os indies muito antes de seus primeiros lançamentos chegarem às lojas – os discos de estréia dos cantores e compositores cariocas Jonas Sá e Mariano San Roman e o segundo CD da banda gaúcha Tom Bloch (foto).

Segundo Ganem, a idéia do selo é projetar artistas novos com trabalhos autorais. "Sei que estamos na contramão da indústria, já que hoje o investimento em artistas em começo de carreira é muito baixo", pondera. "Mas, apesar da crise, esses artistas menores ainda se movimentam muito bem. Existe criatividade."

A diferença para iniciativas mais recentes de outras gravadoras (como o selo Cardume, da EMI, que bancou EPs de Thalma de Freitas, China e outros, mas logo foi abortado) é que a música produzida pelo elenco do Som Livre Apresenta deve ser aproveitada na programação da Rede Globo. "Não chegamos a garantir isso para o artista em contrato, mas a intenção é mesmo encaixar fonogramas deles na grade da emissora, bem como fazer parcerias com rádios e casas de shows, criar uma noite Som Livre Apresenta...", explica Ganem.

Além de buscar o ecletismo dentro do selo, o presidente da gravadora fala em trabalho forte e duradouro. "Não queremos ganhar uma fortuna nem entubar uma fortuna para fazer alguém estourar. Também não quero ter cinqüenta mil artistas contratados, gente que eu nem conheça." Além dos CDs de Jonas, Mariano e Tom Bloch, a estréia do quarteto feminino Chicas ("Quem Vai Comprar Nosso Barulho?"), que já havia sido lançado de forma independente, voltou para as prateleiras com o carimbo Som Livre Apresenta.

Em 2008, o selo pretende mandar para as lojas dois discos por mês. Os de janeiro são os debutes dos grupos Companhia Itinerante (RJ) e Cof da Mu (BA). Para fevereiro está previsto o primeiro álbum do duo eletrônico Irreversíveis, integrado pela engenheira de som Carol Monte, irmã mais nova de Marisa Monte. O selo espera muito desse lançamento, mas também aposta as fichas em Tiago Iorc, cantor e guitarrista curitibano de 22 anos que seria o "John Mayer brasileiro". Uma de suas canções já está entre as mais tocadas da novela Malhação. Fecha a lista de contratados até o momento a banda de rock Voltz, de São José dos Campos (SP).

Dois destaques da cena indie em 2007 podem acabar no Som Livre Apresenta. As negociações com o quinteto cuiabano Vanguart deram uma empacada, mas o selo assedia a banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. Quem já está dentro, fala com empolgação. "O que me deixou entusiasmado não foi ter uma música na novela – apesar de eu não desprezar uma vitrine como essa –, mas o fato do selo apostar em nomes que acha que podem render num longo prazo", afirma Pedro Verissimo, vocalista da Tom Bloch. "Eles estão se estruturando, tateando. Pode pintar tanto artistas mais para o pop como esquisitices. O que eu puder fazer para defender a pluralidade dentro da gravadora, farei amarradão", diz Jonas Sá.


Crítica: Tom Bloch, Jonas Sá e Mariano San Roman

Por José Flávio Júnior
Foto: Serguei
09/01/07


Difícil imaginar um começo mais promissor para um selo interessado em revelar a nova música do Brasil. Dos três primeiros lançamentos, dois são discos acima da média, excepcionalmente bem gravados e com propostas distintas.

A Tom Bloch transita no meio alternativo desde o começo da década. Liderada por Pedro Verissimo, filho do escritor Luis Fernando Verissimo, a banda soltou seu primeiro trabalho em 2003 com auxílio da extinta Distribuidora Independente, braço da Trama. Se naquele álbum o rock com elementos eletrônicos e letras intensas do grupo já soava bem resolvido, em "2" a equação está ainda mais burilada. Há passagens pesadas ("A Dúvida", "Entre Nós Dois") e faixas que chamam atenção pelos climas meticulosamente construídos (a portisheadiana "Vendetta" é o melhor exemplo).

"Anormal", de Jonas Sá (foto), é a grande surpresa do pacote – foi a melhor coisa brasileira que ouvi em 2007 sem sombra de dúvidas. Auxiliado pelo quarteto Do Amor e por membros da Orquestra Imperial – como seu irmão Pedro Sá, Rubinho Jacobina, Moreno Veloso e Bartolo, os dois últimos responsáveis pela produção do CD junto com Jonas –, ele entrega uma obra cuja confecção levou seis anos e que merece ser apreciada com fones de ouvido para que nenhum detalhe passe despercebido. Suas influências declaradas são Beck, Cardigans, Ween e Of Montreal. Mas o pop de Jonas lembra até mais Lulu Santos e Leo Jaime no auge de suas formas. Não fosse pelas excêntricas temáticas ou pelas passagens com voz distorcida/berrada, "Vs.", "Mega", "Sayonara" e "Comunicação" seriam perfeitos hits radiofônicos. Ainda bem que não chegam a ser tão banais.

Mariano San Roman, com seu "Magical Fingers", não consegue fazer nada melhor do que emular a faceta fusion jazz de Djavan. Suas composições, todas em inglês (exceto por uma faixa-bônus), têm um amargo sabor oitentista. Parecem saídas da cabeça de alguém que sabe tocar como poucos mas passou a vida inteira ouvindo os discos errados (como muitos).

Links
Som Livre Apresenta
Site Oficial - Tom Bloch
My Space - Jonas Sá
Site Oficial - Mariano San Roman