"Eyes Open", do Snow Patrol
por
Marcelo Costa
Foto: Site Oficial
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25/05/2006
Quando Eyes Open, quarto álbum da carreira dos escoceses
do Snow Patrol, apareceu no topo da lista de discos mais vendidos
na Europa na primeira semana de maio, o mundo se surpreendeu.
Se você, leitor esperto, for ao Google e der uma busca com as
palavras "parada britânica' irá ter a prova desta afirmação.
Ora, se o disco saiu no começo de maio, deveríamos ter as paradas
das semanas seguintes destacadas no Google, mas acontece que
a metade do mundo que não acompanha música se surpreendeu de
tal forma com as vendas de Eyes Open que achou que o
Snow Patrol estar no topo da parada britânica (pela primeira
vez) era uma grande notícia. Porém, quem acompanha a banda (ao
menos desde que Final Straw, o disco anterior, vendeu
2 milhões de cópias) sabe que o passo adiante rumo ao posto
número 1 dos charts ingleses era nada mais do que um passo natural.
E se tomarmos Eyes Open como combustível para esta caminhada,
era extremamente óbvio que o Snow Patrol iria amanhecer como
a "nova sensação da imprensa mundial".
Eyes Open, que já está vagando pela Internet desde
meados de março (o que corrobora a velha afirmação de que um
disco vazar não atrapalha sua escalada nas paradas), acaba de
ganhar edição nacional, e mantém o nível de inspiração
exibido em Final Straw, com um ponto positivo: a banda
parece afiada no ideal de compor grandes canções pop. A fórmula
continua sendo a mesma do disco anterior, uma mistura tão homogênea
quanto inspirada que ousa juntar numa mesma canção "os
arranjos sinfônicos do Echo & The Bunnymen, o vício pelo doce
psicótico do Jesus & Mary Chain e a obsessão pelas alfinetadas
de eletrônica do Joy Division". Assim como no disco anterior,
o resultado é um britpop que, agora mais do que nunca, remete
ao Coldplay, com uma grande diferença: Gary Lightbody, o líder
do Snow Patrol, sabe escrever pop songs vigorosas e não têm
medo de enfiar os pés na pedaleira de distorção transformando
uma simples balada em uma canção de fazer o vizinho reclamar
tamanho o barulho. Eyes Open começa matador, mas não
mantém o pique no álbum todo. Porém, quando a banda acerta,
acerta mesmo.
A banda dá as cartas exibindo as características acima logo
no trio de canções que abre de forma espetacular o disco: You're
All I Have, Hands Open e Chasing Cars. Se 2006 tivesse
que ser representado apenas por três canções, estariam aqui
três seríssimas concorrentes. You're All I Have foi o
primeiro single do álbum e lembra bastante o pique de Spitting
Games, uma das canções mais assobiáveis de 2004, destaque
do álbum Final Straw. A bateria, seca e acelerada, abre
espaço para um forte riff de guitarra, que surge acompanhado
por um backing vocal docinho. Uma linha de baixo suja faz às
vezes de guitarra base e o refrão é uma explosão de melodia:
"Eu não tenho medo de nada / Você é tudo que eu tenho",
diz a letra.
Hands Open, a seguinte, é uma porrada. Bateria de marcação
seca, novamente, mas muito mais lenta que You're All I Have.
O riff de guitarra é sujo, pesado. A letra cita Sufjan Stevens
e traz Lightbody cantando com força: "Abro minhas mãos,
abro meus olhos, e fico a esperar que meu coração se abra".
Já Chasing Cars é tudo aquilo que Chris Martin sonha
escrever um dia. Quatro acordes que se repetem e se repetem
e se repetem, ambientados por alfientadas de eletrônica, um
riff bonito de guitarra e a voz de Lightbody, recitando uma
letra que traz um personagem cuja aquelas três palavrinhas já
não são suficientes para representar um amor. A canção cresce
lentamente, bem lentamente, até receber, no final, uma avalanche
de guitarradas, que faz da música um pequeno épico. Impossível
não se arrepiar com Lightbody quando ele olha para seu par e
pergunta: "Se eu me colocar aqui, você ficaria comigo e
esqueceria do mundo?".
Após este trio matador de canções (as três disponíveis para
download no endereço da banda no My Space), Eyes Open
dá uma pequena caída. Shut Your Eyes, a faixa seguinte,
traz o título do álbum, tem acento soul, com riff repetido de
guitarra e bateria dançante, mas soa apagada. A letra é simples
e boa. It's Beginning To Get To Me segue a linha de Spitting
Games, com riff em forma de solo abrindo a melodia, para
se transformar em uma boa canção britpop, que marca a entrada
dos teclados com mais presença nos arranjos. You Could Be
Happy traz Gary Lightbody cantando sobre o som de uma caixinha
de bailarina enquanto Make This Go On Forever – a mais
longa canção do disco, chegando perto dos seis minutos – escorrega
no arranjo, pretensioso e chato, e poderia muito bem estar em
X&Y, do Coldplay. Set The Fire To The Third Bar,
a próxima, iria ter o mesmo destino da anterior, caso a cantora
Martha Wainwright não surgisse em dueto com Gary Lightbody,
dando vida à canção. O rock volta a marcar presença com a aceleradinha
Headlights On Dark Roads e a calma Open Your Eyes,
que não mantém o brilho do início do álbum, mas servem para
acordar o ouvinte após duas baladas melosas, e preparar para
a arrastadíssima The Finish Line. A edição britânica
do álbum ainda conta com a boa In My Arms e a fraca Warmer
Climale.
Após começar indie, lançando pelo pequeno selo Jeepster (sim,
o mesmo do Belle & Sebastian, cujos membros participaram dos
dois primeiros discos do Snow Patrol), a banda de Gary Lightbody
ganhou atenção mundial com Final Straw, que vendeu dois
milhões de cópias e deixou o grupo na marca do penalti para
ser a "nova sensação da música pop mundial". A estréia
no topo da parada britânica é um dos primeiros sinais que Eyes
Open coloca o Snow Patrol definitivamente no páreo. Os Estados
Unidos, território sonhado por qualquer banda do velho mundo,
parece estar aceitando bem o grupo. Eyes Open estreou
em 34º lugar na Billboard, e a banda "passeia" pelas
terras de George W. Bush em uma turnê praticamente "sold
out", cujo maior sintoma pode ser avaliado pelo fracasso
que os badalados Arctic Monkeys tiveram por lá: a banda queridinha
da imprensa britânica no momento, recordista de vendas de um
álbum na semana de estréia, teve que cancelar metade de sua
turnê norte-americana, e voltar para a Inglaterra com as guitarras
entre as pernas. Quietinhos, na deles, mas de olhos abertos,
o Snow Patrol caminha para ser a grande banda escocesa do momento.
Chris Martin precisa tomar cuidado. Não vai perder a mulher
para Gary Lightbody (que segue a escola Morrissey de rockstars),
mas pode ver o Coldplay ter seu brilho ofuscado pelo Snow Patrol.
Eyes Open, o disco, tem repertório para isso. Será que
existe justiça no mundo pop?
Leia
também:
"Final Straw",
do Snow Patrol, por Marcelo Costa
"X&Y", do Coldplay,
por Marcelo Costa
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