"Cão", Romulo Fróes
por Marcelo Costa
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08/01/2007

Em 2004, Rômulo Fróes estreou com um álbum de samba reverencial, melancólico e tanto atemporal quanto perdido nos tempos modernos de misturas e eletronices. Uma pérola que se encerrava, entre brilhantes canções próprias (e de seus parceiros Clima e Nuno Ramos) com a clássica "Na Cadência do Samba", em que Ataufo Alves dizia que queria morrer numa batucada de samba, na cadência bonita do samba.

Dois anos se passaram, e Fróes retornou em 2006 com "Cão", um trabalho que funde a tradição do samba seguida no primeiro álbum com a inventividade da MPB do começo dos anos 70 (Caetano, Gil e – principalmente – Macalé), sem abandonar a tristeza e a melancolia que lhe são tão caras – assim como ao samba. Essa proximidade com a produção setentista foi levada ao extremo com a participação de Lanny Gordin (o provável melhor guitarrista de todos os tempos em solo brasileiro) tocando sua inconfundível guitarra em cinco das quatorze faixas de "Cão".

Para indies e emos, que vêem beleza no sofrimento, canções como "Amor Doente" (que abre o álbum com os fortes versos: Já fui teu cão / Vigia de uma luz sombria / O mais fiel / O sol que no teu céu cabia / Mas não entendes o meu delírio / Amor doente, a carne que não sinto / Entre os meus dentes) e as maravilhosas "Eu Canto Só + Lavadeira" e "Por Um Dia e Nada Mais" (esta última com solo de Lanny) falam mais das dores do amor do que qualquer outro disco lançado nos últimos anos.

Nelson Cavaquinho é revisto numa versão crua de "Mulher Sem Alma", com bateria ensandecida de Curumim, e os dedilhados de Zé Barbeiro no violão de 7 cordas. Em "Você Me Diz", que une a guitarra de Lanny às cantoras da Velha Guarda Musical da Nenê da Vila Matilde (escola de samba paulistana), Fróes cita o sambista Batatinha: É proibido sonhar, então me deixa o direito de sambar. Um dos grandes discos de 2006.