My Secret Is My Silence, Roddy Woomble (Pure Records)
por Marcelo Costa
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09/10/2006

Mais de 250 álbuns lançados apenas neste ano se amontoam brigando por um espaço para audição na correria do dia-a-dia. Leitores perguntam: Qual o prazer em ouvir tanta coisa? O prazer, caríssimos, é esbarrar – no meio de tantos bons álbuns e alguns outros esquecíveis – com uma pequena obra prima de delicadeza e sensibilidade como este "My Secret Is My Silence", primeiro disco solo de Roddy Woomble, vocalista e guitarrista da banda escocesa Idlewild. Formado na segunda metade dos anos 90, o Idlewild soava – nos primeiros discos – como um Smiths passado pelo furacão grunge, nada que chamasse tanta atenção até o quarteto parir "The Remote Part", terceiro disco da carreira da banda, e sinal de maturidade e bom gosto musical dos escoceses. "American English", um dos singles do álbum, dava o recado: As boas canções não foram escritas para você / Elas nunca serão sobre você.

Então o peso da idade bateu. Roddy chegou aos 30 anos, achou que era hora de ser pessoal e pariu um conjunto de canções que, segundo ele em seu site oficial, não caberiam no Idlewild, mas são parte dele. O resultado é "My Secret Is My Silence", um disco em que a música popular escocesa encontra o folk, se apaixona, tem um caso de amor, e rende onze canções emocionais. Segundo o autor, "My Secret Is My Silence" é um disco que versa sobre os espaços entre palavras, a língua do silêncio, que é algo que se vê muito na Escócia, particularmente com os povos mais velhos nas montanhas. É sobre o que nós não dizemos. Sonoridades celtas, melodias de fazendeiros, o country que se junta ao alternativo. Para quem não se lembra, um dos grandes discos desta década, "Yankee Hotel Foxtrot" do Wilco, também versava sobre a comunicação entre as pessoas. Saudável coincidência.

Desta forma, "I Came From The Mountain" abre o álbum escorrendo lirismo. A acelerada "As Still As I Watch Your Grave" é comandada por flauta, acordeom e violino. A belíssima faixa título fala de prédios que foram construídos com sangue e chuva enquanto "Act IV" conta a história de um rapaz que escreve uma peça cujo quarto ato – planejadamente – parte o coração da amada, e "If I Could Name Any Name" praticamente resume todo o pensamento de Roddy transformado num maravilhoso dueto com a cantora folk Kate Rusby. Em "Waverley Steps", quem brilha é Karine Polwart, outra folk singer. Um dos motivos de "My Secret is My Silence" soar mágico é a boa companhia de que se cercou o líder do Idlewild, gravando o disco em duas semanas acompanhado dos conterrâneos do Sons and Daughters (o baterista David Gow e a baixista Ailidh Lennon, esposa de Roddy) e do violino de John McCusker (produtor do álbum, e marido de Kate Rusby), entre outros.