Rock no Tucupi
por Adriano Mello Costa
Fotos - Divulgação / Renato Reis

adrianorem@hotmail.com
30/11/2004

Local: Belém. Estado: Pará. Cenário: Sertanejo, Brega e Axé invadem as paradas no decorrer dos anos 90 e inicio de 2000. Resultado: Poucos lugares tocando rock, poucas bandas sobrevivendo. Provável final: O rock nunca mais teria vez na cidade, que seria obrigada a sucumbir perante modismos intermináveis e bandas tocando covers. Tudo levaria a crer que seria esse o final da história, mas pelo bem da terra do carimbó, do tucupi, do tacacá, do Clube do Remo e do Paysandu, alguns jovens talentosos, aliados a antigos veteranos da cena underground e a uma emissora de rádio resolveram mudar o curso do destino.

Com o avanço da Internet e dos veículos de informação, aliada as novas tecnologias e muita, mas muita inspiração, o que no final dos anos 90 surgia como um túnel escurol acabou se enchendo de luzes, acordes, poesias e atitude para moldar um cenário forte e muito competente.

O cidade já tinha um histórico de rock. Lá pelos idos do final dos anos 70, fez barulho por aqui a primeira banda de hard rock puro do Brasil, o Stress. No decorrer dos anos 80, com a explosão do rock brasil, Belém mostrou suas armas através de bandas como Mosaico de Ravena, Álibi de Orfeu, Solano Star, Delinqüentes, entre outras. Até Edgard Scandurra, do Ira!, deu seu aval para tudo isso. Mas, infelizmente, amargados pelo processo de banalização da nossa cultura iniciado pelo governo Collor, só o heavy metal sobreviveu, escondido nos guetos no decorrer dos anos.

Isso até agora. Com a Rádio Cultura Fm apoiando, promovendo shows, colocando as músicas para tocar em sua programação e realizando premiações, vários artistas saíram do gueto e mostraram suas caras e guitarras para o público, que abraçou a idéia e não obstante hoje vemos muitos jovens da cidade dizendo que suas bandas preferidas são as locais.

Dentro desse cenário podemos citar algumas bandas, como o Suzana Flag, que retirou seu nome de um pseudônimo que Nelson Rodrigues utilizava, apostando em um pop inteligente, com letras comportamentais acima da média, e um instrumental que passeia em influências que vão de Mutantes, passando por The Cardigans, Pixies e até mesmo Sonic Youth. Pelas mãos do guitarrista Joel Melo, tendo o baixista Elder Fernandes e a vocalista Suzanne Melo duelando nos vocais, o Suzana Flag provoca um bem estar danado para quem está ouvindo.

Outro nome de destaque é o Eletrola, concebido na cabeça de Eliezer, Natanael Andrade e Camilo Henrique, com influências que passam por Weezer, Foo Fighters, Nirvana, além das bandas dos anos 60, resultando em um rock'n'roll dançante, com um quê de melancolia nas letras, transbordando energia power pop.

Na mesma cena ainda há espaço para o som do Stereoscope, que faz uma música inspirada no bom e velho rock inglês de Blur, The Beatles e The Who, passando ainda por Coldplay e Los Hermanos. Com Jack Nilson (guitarra e voz), Ullyses Moreira (bateria), Marcelo Nazareth (na outra guitarra e voz) e Ricardo Maradei (no baixo), o Stereoscope constrói um rock que só é feliz completamente quando chove, o que para uma cidade como Belém, em que chove quase que diariamente, é mais do que especial.

Ainda na briga, por mais que seja um pouco mais velha, vem A Euterpia, com suas antifórmulas. Sem sombra de dúvida, a banda mais cool da cena, misturando pop, rock, funk, mpb, flamenco com muito experimentalismo e muita inquietação musical. A Euterpia faz um som único, singular, destacando poesias subliminares e a uma preocupação com a parte cênica do espetáculo. Formada por Antônio Novaes no violão e voz, Márcio "Pato" Melo no baixo, Marisa Brito, soberba nos vocais, Carlos Canhão na bateria, Tom Salazarcano na guitarra e Washigton Csak no saxofone e flauta, A Euterpia demonstra todos os prováveis limites da palavra criatividade.

Dentro disso tudo ainda há espaço para o reggae, que conquistou as rádios e a cidade através das bandas Sevilha e Kaymakan, e para o rock pesado e visceral do Madame Saatan, que tem na figura da vocalista Sammliz seu principal destaque. E os sobreviventes continuam na briga, como Giovani Villacorta e seu Normam Bates, que tem uma moral muito grande perante a cena, calcados na figura do guitarrista e jornalista Nicolau Amador. O Cravo Carbono é outro nome de respeito. E o mais velho de todos, o sobrevivente-mor, os Delinqüentes, com Jaime Catarro nos vocais e seus asseclas batalhando com seu punk rock e atitude desde os primeiros idos dessa história.

E ainda há muito mais dessa cena rolando nos quatro cantos da cidade. Bandas fazendo apresentações fantásticas, público envolvido e, principalmente, muita qualidade e competência. Está na hora das gravadoras e do público do sul, sudeste e centro-oeste abrirem um pouco os olhos para o norte do país. Quem quiser conferir basta entrar no site www.tramavirtual.com.br, baixar e tirar suas próprias conclusões.

Links:
Site Oficial da banda A Euterpia
Site Oficial da banda Madame Saatan
Fotolog da banda Suzana Flag
Fotolog da banda Eletrola
Fotolog da banda Norman Batess
Fotolog da banda Stereoscope
Fotolog da banda Delinquentes
Site da Trama Virtual