Entrevista - Rockassetes
por André Azenha
Blog
05/04/2007

Largar tudo para rodar o país de busão, tirando o dinheiro do próprio bolso e sem a certeza de um retorno financeiro. O que poderia parecer loucura para muitos é o investimento numa carreira que aos poucos vai despertando a atenção do cenário roqueiro brasileiro, desde festivais a veículos de comunicação como a revista Capricho e a MTV. Os três malucos por trás dessa empreitada são Bruno Mattos (vocal / guitarra), João Melo (baixo / violões) e Léo Mattos(bateria / vocais), que formam a Rockassetes.

Formado em 2000 com o objetivo de levar sons dos anos sessenta, o trio - de Aracajú e atualmente radicado em São Paulo - já tem um CD-Demo (de 2003), um EP ("Sistema Nervoso", de 2005) e o single "As Fechas" (Senhor F Virtual), que deu origem a atual turnê. O som, nada mais é que um pop sessentista capaz de grudar aos ouvidos na primeira audição. Basta conferir a canção título do último trabalho da trupe. Entre referências óbvias como Beatles e Beach Boys, os rapazes reclamam influências de The Wonders (sim, aquela do filme!) e até Fastball.

Em longo e agradável bate-papo com o S&Y, o baixista João Melo, falou do início da carreira, que contou com a premiação do Festival Novo Canto 2000, na terra-natal, e do provável lançamento do tão esperado CD em 2007. Ele ainda elogiou a cena goiana ("Hang the Superstars é foda!"), disse aceitar de braços abertos uma proposta de uma major ("Desde que consigamos continuar experimentando a nossa criação"), e comentou a participação em um concurso da revista Capricho e a aparição na capa da revista Decibélica. Quem quiser saber mais sobre a Rockassetes, escutar/baixar canções e descobrir por onde o grupo estará nos próximos meses, basta acessar o site oficial (www.rockassetes.mus.br). A seguir, papo completo.

Como foi o início do Rockassetes?
Os irmãos Bruno e Léo Mattos já tocavam com amigos no inicio de 2000 e um deles, Rodrigo, meu colega de colégio e antigo guitarrista da banda, me apresentou a eles. Pela influência da família, e gostos pessoais, a idéia era levar sons anos 60. Em 2000 fomos campeões do Festival Novo Canto 2000 em Aracajú, e aos poucos as composições foram aparecendo, com referência nos ídolos clássicos Beatles, Wonders, etc.

No que essa premiação ajudou a carreira da banda?
A nossa música, "Uma Carta pra Tarsila", campeã do festival, entrou no CD dos finalistas do evento, e tocou em várias rádios de lá. Fizemos vários shows, e a música se tornou bem conhecida por aqueles lados.

Quando você diz Wonders, é em relação ao filme?
Sim, curtíamos também Beach Boys, Chuck Berry essas coisas...

Engraçado, acho q é a primeira banda que ouço citar The Wonders como influência direta...
Pois é.. (risos). Engraçado é que na época começou uma espécie de movimento no Brasil, de resgate aos anos 60 e nós já fazíamos isso lá em Aracajú. Só não tínhamos composições suficientes pra montar um repertório de musicas próprias. Então, ficamos um tempo fora do 'circuito'.

E vocês lançaram um CD demo em 2003...
Em 2003 saiu um demo, quando ainda éramos os Eloqüentes. Colocamos lá algumas de nossas primeiras composições, ainda ingênuas e tal... Mas até hoje ainda rolam algumas músicas daquele demo em shows, inclusive no CD que deve sair neste ano...

Sobre esse resgate dos 60, que também aconteceu com o britpop, com Oasis e companhia. Há influência dessas bandas de britpop no som de vocês?
Nós curtimos Oasis e companhia, mas eu diria que temos mais influencias de outras coisas dos 90, tipo Fastball e Teenage Fanclub.

Fastballl.... a música de maior sucesso ("The Way") deles tinha algo de bolero...
Fastball é do caralho! Ainda agora fiquei sabendo por uma amiga que rolou uma comparação da gente com eles na Internet, mas não achei ainda aonde. Estou curioso...

Em 2005 a banda lançou um EP e em 2006 saiu um single. Ao todo são nove canções.
Por quê não juntar tudo e fazer um CD?

Sobre o EP bom... Essa vai ser um pouco a idéia do disco, vamos pegar composições dos três compactos e mais algumas novas também.

Essas composições antigas vão ganhar novas roupagens?
Ah.. acho que não dá pra fugir. Algumas músicas foram feitas há algum tempo já e a banda evoluiu. E aí a gente acaba mudando aquele timbre, ou arranjinho ali que agora a gente vê com outros olhos.

E quando sai o CD?
Estamos torcendo para que saia ainda no primeiro semestre deste ano.

Será independente?
Tem alguns selos interessados.

Quais?
Estamos conversando (tentando fazer suspense)... Temos uma ótima relação com o pessoal de Goiânia. Tem um selo novo, o Fósforo Records, que está com uma parceria com a revista Decibélica, que nos colocou na capa da última edição.

E a repercussão de ter sido capa da revista?
Ah, cara, muito legal. A revista Decibélica vem nos chamando atenção há algum tempo, por estar totalmente voltada a divulgar essa coisa do trabalho independente Brasil afora. É uma revista muito boa, e melhorou mais ainda nessa edição.

Por causa da capa com vocês?
Não. Falo com relação a diagramação, importância das matérias. Eles estão bem relacionados também.

E como foi participar do concurso da Capricho?
O concurso da Capricho.. Bom, foi decididamente inesperado pra nós. A classificação pro concurso, o público repleto de baixinhas (risos). Era o público consumidor da revista e elas piraram nas músicas. E aí até hoje aparecem meninas que estavam lá no dia, e querem saber sobre a banda, ouvir as músicas e tal. E não imaginávamos conquistar esse tipo de público, ao menos no momento.

Tem gente que sofre um certo constrangimento ao ser relacionado a Capricho...
Rola mesmo um preconceito. Até nós recebemos a notícia com um certo torcer de lábios (risos), mas depois vimos que é muito legal porque fazemos um trabalho sincero, que curtimos. Fomos 'premiados' com essa idéia, de que conseguimos cativar públicos mais 'pop' por aí. Mesmo não estando ainda no grande circuito.

Vamos falar da turnê. São poucas as bandas que conseguem sair em turnê, ainda mais com um single independente. Como vocês buscaram essa estrutura?
Pois é, também cheguei a essa conclusão! Um disco na mão iria ajudar ainda mais, apesar de eu achar que não tenha faltado nada pra a turnê!!! Estamos curtindo pra caralho o que está acontecendo conosco nessa tour. A idéia começou depois do Festival Calango de Cuiabá. Lá conhecemos gente pra caramba e algumas cidades se interessaram em nos levar. Goiânia, Brasília, Jaú (interior de SP) e aí fomos fechando e vimos que poderíamos condensar as idéias numa turnê!

Como o grupo viaja? Carro? Van?
Nada, busão cara! E ainda levamos equipamento pra caramba. Mó trampo, mas está valendo muito a pena.

Quais cidades tiveram melhor recepção? E quem acompanha a banda?
Só nós três mesmo. Fica mais barato assim. Putz, difícil falar especificamente de uma cidade, cara. Todas foram excepcionais, até as que pareciam que não iam agradar no início, depois foram nos cativando! Mas decididamente, com relação a público, Goiânia foi insuperável!! A cena lá é super avançada, com relação a outras cidades do país, o pessoal lá é super curioso por coisa nova, bandas novas e tal.

Sobre Goiânia, gostam de alguma banda em particular? Hang the Superstars?
Sim sim, a Hang é foda! Adoramos o pessoal da Johnny Suxxx 'n' The Fucking Boys e o show deles é foda também. A Rockefellers... Rockão super competente!!!

Todos vivem apenas da banda? Há retorno financeiro nessa turnê?
Retorno não, por enquanto é tudo investimento mesmo. Estamos os três dedicados agora só à banda. Largamos os trampos em São Paulo no inicio do ano para isso, mas pra essa tour, pelo menos conseguimos cobrir os custos.

E como ficam familiares e namoradas nessa história?
Eles compreendem e apóiam. Ainda bem. Os familiares já ficaram lá em Aracajú. A saudade sempre nos acompanha. Mas essa loucura toda, falou mais alto.

Parece haver uma descentralização atualmente no rock nacional, com a cena de Goiãnia, do Sul, mas porque as bandas acabam vindo pra São Paulo?
São Paulo é o centro de tudo no nosso ramo. Pode não ter os melhores lugares pra shows, mas a mídia está concentrada lá, os contatos, além das coisas mais práticas. O contato com a vida moderna, a informação, a diversidade cultural e a principal vantagem, a localização. É bem mais barato pra uma banda independente vir de São Paulo pro Paraná do que do Nordeste.

Falando em mercado independente, hoje é a melhor saída pra quem faz rock?
Vocês topariam um contrato com uma major?

Claro, não vemos problemas nisso desde que consigamos continuar experimentando a nossa criação, o nosso trabalho. O trabalho independente é necessário hoje em dia pelo número de bandas que tem por aí, mas a gente sabe que é bem difícil viver disso quando não se tem um bom apoio, uma boa circulação de disco e shows. E sobre o mercado independente, não que ele seja a melhor saída, mas é onde qualquer banda encontra o espaço que necessita pra mostrar o seu som e a depender do seu trabalho, do tal 'correr atrás', conquista espaços maiores ou não.

E quais bandas brasileiras valem a pena no momento?
Gostamos muito do som e dos caras da Vanguart, Charme Chulo (acabamos de nos tornar baita amigos do Leandro). Caramba, super injusta essa pergunta hein (risos)? Não dá pra falar de todo mundo e não quero esquecer ninguém. Mas acho que já citei dois ótimos nomes.

Links
www.rockassetes.mus.br