There is no Future, Sex Pistols (EMI)
14/02/2005

A propagação de raridades e demos tem seu lado bom, mas também tem seu lado ruim. Em alguns casos, é interessante observar como a música era ainda melhor na versão demo, ou saborear versões voz e violão de canções que se tornaram especiais para cada pessoa. Porém, nem todo mundo tem "bala na agulha" para ficar exibindo por ai, e esse é o caso dos Sex Pistols. O quarteto que revolucionou a música com Nevermind The Bollocks em 1977, um dos debutes mais incendiários do rock em todos os tempos, havia gravado uma série de demos antes de seguirem a rotina de assinaturas de contratos e dispensas de majors que os fizeram famosos, até o famoso show no Tamisa (a banda não podia tocar em solo inglês, mas ninguém havia os proibido de tocar sobre o rio).

As faixas de There is no Future e No Future UK são basicamente as mesmas que se encontram no primeiro álbum da banda, porém em versões demo, carentes de violência e impacto. Os dois álbuns exibem uma banda de rock assustadoramente quadradinha, com a bateria em ritmo lento, a guitarra corajosa de Steve Jones fazendo os riffs, além do bom baixo de Glen Matlock e da voz de Sid Vicious, o grande destaque das gravações. Há muita diferença entre os dois discos e o arrasador Nevermind The Bollocks. No disco oficial, Steve Jones gravou dezenas de guitarras sobrepostas, dando um peso absurdo às canções, enquanto acelerava a bateria de Paul Cook e tocava o baixo em todas as músicas (Matlock havia sido demitido por ser fã dos Beatles). Como disse um jornalista certa vez, Nevermind The Bollocks "é um documento histórico, já era no dia de seu lançamento. A trilha sonora de um golpe cultural".

Mais do que qualquer coisa, There is no Future e No Future UK mostram que Malcolm McLaren teve uma visão absurda do futuro em apostar nos moleques. Tudo bem, as canções eram incendiárias e provocativas, mas as gravações exibem um amadorismo sonhador, que precisava ser trabalhado (como foi) para alcançar seu clímax de ebulição. There is no Future e No Future UK são dois álbuns que nada trazem de novo, e até decepcionam um pouco. Na ânsia de faturar mais alguns trocados com o baú Pistols, a EMI coloca na praça dois discos que são mais importantes pelo valor histórico (mas nada tanto assim) do que musical. Em se tratando de Sex Pistols, Nevermind The Bollocks (ou a coletânea Kiss This, que traz o clássico disco na integra) já faz o serviço... e está pra lá de bom.

Por Marcelo Costa