MPB-4 - Quarenta Anos Contra a Corrente (Universal)
14/10/2005

Sem nenhum exagero, daria para dizer que a coletânea dupla Quarenta Anos Contra a Corrente é o nosso Forty Licks, 40 canções que mais do que contar a história de uma formação musical (Ruy, Aquiles, Magro e Miltinho), contam a história de um tal País, um tal Brasil, que "nasceu" na ditadura, passou o aperto dos anos de chumbo até ver a democracia surgir nos anos 80. Enciclopédica, Quarenta Anos Contra a Corrente é, também, uma aula de autocrítica. A música mais antiga data de 1966. A mais "nova" é de 1985. Nada de colocar coisas novas, como o próprio Stones fez em seu Forty Licks. Assim, o álbum abre com Lamento (1966), com uma letra de Vinicius sobre um velho chorinho de Pixinguinha, segue com a clássica versão de Roda Viva, com Chico Buarque cantando o arranjo assinado por Magro e se divide entre Sucessos e Raridades. No primeiro grupo, destaque para a conversa de boteco Amigo é Pra Essas Coisas, a afiadíssima Pesadelo, com Paulo César Pinheiro revolucionando sobre a melodia de Maurício Tapajos (e que já ganhou até uma versão punk dos Inocentes) e provocando a censura ("Você corta um verso, eu escrevo outro / Você me prende vivo, eu escapo morto / De repente, olha eu de novo / Vamos por ai, eu e meu cachorro"), além de Partido Alto, Fé Cega Faca Amolada e muitas outras. No capítulo Raridades, faixas para novelas (Mal da Raiz, Fogo Sobre Terra), filmes (Mariana, de As Moças Daquela Hora, de Paulo Porto), de compactos (A Alegria Continua, Você Abusou, Menina da Ladeira) e sambas-enredo (Iaiá do Cais Dourado, samba da Vila Isabel em 1969) além de Boi Voador Não Pode, que foi composta para a peça censurada Calabar, e acabou entrando em um disco de carnaval da gravadora Phillips. O encarte é primoroso e conta toda a história do quarteto em meio ao Brasil dos últimos 40 anos.

Marcelo Costa