Animal Serenade, Lou Reed 05/01/2005 Quem precisa de mais um disco ao vivo de Lou Reed? Animal Serenade é o sexto álbum ao vivo da carreira do músico, descontando uma dezena de bootlegs, mais uma centena de registros com o Velvet Underground. Se fosse só a brincadeira de abertura, Animal Serenade já valeria o registro: Lou Reed entra no palco, a platéia urra. O guitarrista pega seu instrumento e, sozinho, preenche o ambiente com a batida inconfundível de Sweet Jane. Não dura nem vinte segundos. Lou Reed para tudo e diz: "Bem, eu gostaria de explicar como eu crio uma canção de três acordes". O público ri. "Eu quero que os integrantes das novas bandas prestem atenção, essa é a lição 1". Três acordes depois, com o público rindo, ele termina a aula. E não toca Sweet Jane. No entanto, diverte ao parar tudo, novamente, em Smalltown e conversar com a platéia sobre a letra. Clássicos como Men Of Good Fortune e How Do You Think It Feels, ambas de Berlin (1973), ganham versões matadoras ao lado de canções mais novas como Set The Twilight Reeling (1996), Ecstasy (2000) e faixas do último álbum de estúdio do músico, The Raven, como Vanishing Act, Call On Me e a faixa título. Os arranjos são simples, bonitos e funcionais. No palco, Lou e sua guitarra são acompanhados apenas por Mike Rathke (que se alterna entre a guitarra e o ztar), Fernando Saunders (baixo e bateria eletrônica) e Jane Scarpantoni (violoncelo), com ocasionais acréscimos de backing vocals. Street Hassle (1978) e Dirty Boulveard (1989) ganham versões acachapantes, mas nenhuma delas chega ao ápice emocional das velhas e clássicas canções do Velvet Underground. Venus in Furs é lirismo puro em dez minutos chapados, com o violoncelo atacando fudidamente nos graves. Sunday Morning surge delicada, com um dedilhado de piano conduzindo a música. All Tomorrow's Parties ganha velocidade, mas perde charme, enquanto Heroin fecha o show de forma brilhante, matadora e inesquecível, com Lou enxertando trechos de Ill Be Your Mirror no meio. Animal Serenade flagra um Lou Reed inspirado e animado brincando com pérolas de seu repertório. Gravado em Los Angeles, em 2003, o álbum foi lançado em março do ano passado em quase todo o mundo, inclusive na Argentina, mas não chegou às prateleiras brasileiras. Uma pena. Animal Serenade é uma ótima maneira de se aprender como ser crítico e contemplativo com seu próprio repertório sem tender a ser um babaca convencido. Mais do que ensinar três acordes, Lou Reed demonstra, na prática, como continuar criativo após os 60 anos. Como não descansar sobre os elogios da crítica. Como continuar vivo e tocando. Como fazer de um show um momento inesquecível para o público. Por Marcelo Costa |